Embora todas as doenças apresentadas como opções diagnósticas sejam do grupo das bartoneloses (infecções causadas por Bartonella, bactérias Gram-negativas intracelulares facultativas, fastidiosas e de crescimento lento), a apresentação clínica difere sensivelmente.
O isolamento e caraterização das espécies de Bartonella é difícil exigindo técnicas especiais, pouco disponíveis e de custo elevado. Em geral, o quadro clínico dependerá tanto da espécie de Bartonella quanto do estado imunológico do paciente.
A angiomatose bacilar (angiomatose epitelioide bacilar ou angiomatose epitelioide) acomete indivíduos gravemente imunocomprometidos, sendo causada por B. henselae ou B. quintana. Os pacientes apresentam febre com calafrios, perda ponderal, sudorese noturna e cefaleia com surgimento de lesões cutâneas indolores, nódulos subcutâneos hipersensíveis, podendo haver ainda lesões ósseas dolorosas acometendo ossos longos.
A febre de Oroya e a verruga peruana correspondem às duas fases da doença de Carrión, causada pela B. bacilliformis, sendo a febre de Oroya a forma sistêmica resultante da bacteremia inicial enquanto a verruga peruana corresponde à manifestação cutânea eruptiva que ocorre mais tardiamente. Trata-se de infecção endêmica nos Vales dos Andes, área geográfica que compreende Peru, Equador e Colômbia. A febre de Oroya pode cursar com anemia hemolítica grave, icterícia e hepatomegalia. A doença sistêmica ocorrendo em torno de três semanas após passagem por zonas endêmicas é o principal fator para guiar a suspeita diagnóstica.
No contexto de surgimento de uma pequena pápula ou pústula eritematosa indolor surgindo em torno de poucos dias a duas semanas após lesão inoculante por gato (ou muito raramente por cachorro) em indivíduo imunocompetente, principalmente em regiões tropicais, deve levantar a suspeita de doença da arranhadura do gato.
A doença da arranhadura do gato é causada pela B. henselae, sendo autolimitada e apresentando-se em sua forma típica (linfadenopatia regional subaguda, dolorosa, com eritema sobrejacente, podendo apresentar supuração) em 85-90% dos casos. Os linfonodos epitrocleares e axilares são os mais acometidos. Cerca de 50% dos pacientes apresentam febre, mal-estar e anorexia. Pode ainda ocorrer perda ponderal e sudorese noturna, geralmente com temperaturas que não passam de 39°C.
O diagnóstico consiste no uso de sorologia, sendo que a presença de IgG é suficiente para definição diagnóstica em quadro clínico altamente sugestivo. Entretanto, a sorologia tem especificidade e sensibilidade variáveis. A PCR (reação de polimerase em cadeia) de pus aspirado de linfonodo ou lesão primária da inoculação é altamente sensível e específica e deve ser utilizada em casos em que a suspeita é alta, porém a sorologia é negativa.
O tratamento da doença da arranhadura do gato não é rotineiramente indicado, por se tratar de doença autolimitada com resolução da febre e sintomas constitucionais em algumas semanas e da linfonodomegalia em alguns meses (geralmente dois a cinco meses), com recuperação completa e imunidade permanente. Para pacientes com linfadenopatia extensa ou imunocomprometidos pode-se considerar o uso de Azitromicina 500 mg por via oral uma vez ao dia no primeiro dia seguida de 250 mg uma vez ao dia nos quatro dias seguintes.
Referências bibliográficas:
- Gandhi TN, et al. Bartonella including cat scratch disease. In: Mandell GL, et al., editors. Principles and Practice of Infectious Diseases. 8th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2015. p. 2649-63.
- Giladi M, Ephros M. Infecções por Bartonella, incluindo a doença da arranhadura do gato. In: Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 20ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.