Quiz: Paciente com lesões ulceradas na mão direita. Qual o diagnóstico?

Homem relatou episódio de lesão nesta mão por arranhadura do seu gato de estimação alguns dias antes do início do quadro.

Paciente de 35 anos, imunocompetente e sem comorbidades, vem ao consultório de clínica médica referindo surgimento de lesões ulceradas em dorso da mão direita há três semanas associadas à edema com sinal de cacifo positivo (3+/4+) e febre esporádica em torno de 38°C. Refere episódio de lesão nesta mão por arranhadura do seu gato de estimação alguns dias antes do início do quadro. O estado vacinal do animal estava adequado para sua idade e região. 

Ao exame físico: além das lesões ulceradas em mão direita o paciente apresentava lesões nodulares, eritematosas, com tamanho em torno de 0,5 cm na região anterior do braço direito. Havia linfonodomegalia dolorosa epitroclear ipsilateral. Ausência de outros achados dignos de nota. 

Exames laboratoriais: hemograma, funções renal e hepática, enzimas canaliculares e transaminases sem alterações.

Imagem 1. Lesão ulceradas superficiais em mão direita, com a maior medindo 1,2 cm, apresentando eritema adjacente discreto.
Quiz 1/

Com base na história clínica e exame físico, qual a hipótese diagnóstica mais provável? 

Comentários

Embora todas as doenças apresentadas como opções diagnósticas sejam do grupo das bartoneloses (infecções causadas por Bartonella, bactérias Gram-negativas intracelulares facultativas, fastidiosas e de crescimento lento), a apresentação clínica difere sensivelmente.

O isolamento e caraterização das espécies de Bartonella é difícil exigindo técnicas especiais, pouco disponíveis e de custo elevado. Em geral, o quadro clínico dependerá tanto da espécie de Bartonella quanto do estado imunológico do paciente.

A angiomatose bacilar (angiomatose epitelioide bacilar ou angiomatose epitelioide) acomete indivíduos gravemente imunocomprometidos, sendo causada por B. henselae ou B. quintana. Os pacientes apresentam febre com calafrios, perda ponderal, sudorese noturna e cefaleia com surgimento de lesões cutâneas indolores, nódulos subcutâneos hipersensíveis, podendo haver ainda lesões ósseas dolorosas acometendo ossos longos.

A febre de Oroya e a verruga peruana correspondem às duas fases da doença de Carrión, causada pela B. bacilliformis, sendo a febre de Oroya a forma sistêmica resultante da bacteremia inicial enquanto a verruga peruana corresponde à manifestação cutânea eruptiva que ocorre mais tardiamente. Trata-se de infecção endêmica nos Vales dos Andes, área geográfica que compreende Peru, Equador e Colômbia. A febre de Oroya pode cursar com anemia hemolítica grave, icterícia e hepatomegalia. A doença sistêmica ocorrendo em torno de três semanas após passagem por zonas endêmicas é o principal fator para guiar a suspeita diagnóstica.

No contexto de surgimento de uma pequena pápula ou pústula eritematosa indolor surgindo em torno de poucos dias a duas semanas após lesão inoculante por gato (ou muito raramente por cachorro) em indivíduo imunocompetente, principalmente em regiões tropicais, deve levantar a suspeita de doença da arranhadura do gato.

A doença da arranhadura do gato é causada pela B. henselae, sendo autolimitada e apresentando-se em sua forma típica (linfadenopatia regional subaguda, dolorosa, com eritema sobrejacente, podendo apresentar supuração) em 85-90% dos casos. Os linfonodos epitrocleares e axilares são os mais acometidos. Cerca de 50% dos pacientes apresentam febre, mal-estar e anorexia. Pode ainda ocorrer perda ponderal e sudorese noturna, geralmente com temperaturas que não passam de 39°C.

O diagnóstico consiste no uso de sorologia, sendo que a presença de IgG é suficiente para definição diagnóstica em quadro clínico altamente sugestivo. Entretanto, a sorologia tem especificidade e sensibilidade variáveis. A PCR (reação de polimerase em cadeia) de pus aspirado de linfonodo ou lesão primária da inoculação é altamente sensível e específica e deve ser utilizada em casos em que a suspeita é alta, porém a sorologia é negativa.

O tratamento da doença da arranhadura do gato não é rotineiramente indicado, por se tratar de doença autolimitada com resolução da febre e sintomas constitucionais em algumas semanas e da linfonodomegalia em alguns meses (geralmente dois a cinco meses), com recuperação completa e imunidade permanente. Para pacientes com linfadenopatia extensa ou imunocomprometidos pode-se considerar o uso de Azitromicina 500 mg por via oral uma vez ao dia no primeiro dia seguida de 250 mg uma vez ao dia nos quatro dias seguintes.

Referências bibliográficas:

  • Gandhi TN, et al. Bartonella including cat scratch disease. In: Mandell GL, et al., editors. Principles and Practice of Infectious Diseases. 8th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2015. p. 2649-63.
  • Giladi M, Ephros M. Infecções por Bartonella, incluindo a doença da arranhadura do gato. In: Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 20ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.

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