As ulcerações da mucosa oral apresentam diversas causas subjacentes, como infecções, traumas, doenças inflamatórias e neoplasias. As lesões transitórias costumam ser causadas por trauma agudo ou agentes infecciosos, sendo o herpes simples a causa viral mais comum. Medicamentos também podem gerar desde quadros agudos e leves de estomatite erosiva a reações graves com lesões cutâneas disseminadas, como na síndrome de Stevens-Johnson e na necrólise epidérmica tóxica.
As lesões crônicas e recorrentes merecem investigação para descartar doenças inflamatórias imunomediadas. Uma condição relativamente comum é o líquen plano oral, mais comum em mulheres de 30 a 60 anos, e pode apresentar diferentes padrões: reticular, papular, em placa, atrófico, erosivo ou bolhoso. Um diagnóstico diferencial importante são as doenças bolhosas autoimunes como o penfigoide de membranas mucosas, pênfigo vulgar e pênfigo paraneoplásico, que podem gerar bolhas, erosões e úlceras em qualquer parte da mucosa oral, além de dor e disfagia importantes.
Ainda nesse contexto, a doença de Behçet e o lúpus eritematoso devem ser descartados. A presença de lesões múltiplas, sintomas articulares e acometimento de outros órgãos-alvo deve levantar a suspeita dessas afecções reumatológicas. A biópsia associada ou não a exames sorológicos e à imunofluorescência são ferramentas importantes para o diagnóstico dessas condições inflamatórias e para descartar lesões neoplásicas que podem mimetizar ulcerações benignas. A persistência de manchas, placas, nódulos, feridas e áreas de sangramento são um sinal de alerta para a possibilidade de câncer oral.
Em mais de 90% dos casos os cânceres orais são carcinomas de células escamosas (CEC). O trauma persitente da mucosa oral devido a dentes quebrados, dentaduras e próteses mal ajustadas gera irritação crônica da mucosa, sendo um possível fator etiológico para o CEC bucal. A leucoplasia e eritroplasia (placas brancas e vermelhas, respectivamente) são outras condições que podem estar presentes antes do início do CEC, mas a maioria felizmente não progride para câncer. Outros tumores menos comuns incluem os das glândulas salivares, melanomas e linfomas.
Referências bibliográficas:
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