Treinamento baseado em coaching melhora comunicação em cardiologia

Pesquisadores testaram um treinamento de comunicação clínica baseada em coaching, focado para cenários de cardiologia.

A importância da comunicação clínica em desfechos de saúde é evidente, tanto intuitivamente quanto empiricamente, para muitos profissionais de saúde. Embora muito tenha sido feito ao longo das formações médicas, em todo o mundo, a esse respeito, por um grande período uma comunicação assertiva e empática na clínica foi vista como um valor acessório à identidade do médico.  

Atualmente, no entanto, em muitos cenários de atuação médica, habilidades de comunicação não são mais consideradas habilidades leves (soft skills), mas sim habilidades duras (hard skills) com alta complexidade e necessidade de treinamento. Embora essa seja uma realidade que acumule cada vez mais evidências e maior qualidade dessas evidências ao longo do tempo, a construção desses dados são um desafio grande. Métricas de comunicação são de complexa obtenção em todos os cenários, seja na clínica, em veículos de comunicação de massa, em divulgação de conteúdo científico entre pares, para nichos ou para o grande público.  

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Em todos esses campos, as dificuldades de se metrificar o processo de comunicação são semelhantes, especialmente porque os marcadores de desfecho de maior interesse e valor – especialmente na clínica – estão centrados na relação emissor-receptor, sendo fortemente influenciados pela percepção e experiência dos receptores durante o processo. 

Pensando nesses desafios, um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, desenvolveu e testou um treinamento de comunicação clínica baseada em coaching, focado para cenários de cardiologia. O estudo foi um ensaio clínico randomizado com dois braços e envolveu 40 cardiologistas, além de uma avaliação de impacto contando com mais de 400 pacientes.  

Como foi feito o estudo?

Iniciado em março de 2022 e finalizado em janeiro de 2023, o estudo lidou com alguns desafios seriados: 1) Desenvolver um modelo de treinamento de habilidades de comunicação clínica; 2) Desenvolver e adaptar ferramentas para mensuração da qualidade de comunicação clínica; 3) Mensurar o efeito das habilidades de comunicação clínica sobre desfechos percebidos por pacientes; 4) Mensurar o efeito do treinamento na construção de habilidades de comunicação clínica. 

Os resultados de como a equipe de pesquisa lidou com esses desafios foram bastante robustos. A equipe desenvolveu um treinamento de pesquisa 1:1 com metodologia de coaching para desenvolver habilidades de comunicação em cinco domínios denominados pela equipe de pesquisa pelo acróstico WISER (em língua inglesa) que representa (em tradução livre):  

  • Contato visual: fazer contato visual com todos na sala. 
  • Convite: fazer perguntas abertas (aquelas que não podem ser respondidas com sim ou não). 
  • Espelhamento de ideias: realizar afirmações reflexivas (que reflitam por paráfrase aquilo que o paciente acabou de dizer, demonstrando escuta ativa). 
  • Emoção: utilizar comunicação empática para nomear emoções dos pacientes, inferir estados, gerar percepção de compreensão afetiva pela experiência do outro. 
  • Preocupações: perguntar ativamente quais as preocupações, dúvidas ou angústias do paciente acerca do tema ou motivador do encontro clínico. 

O grupo de pesquisa adaptou, para esses domínios, aspectos fundamentais da técnica de entrevista motivacional. Como estratégia de treinamento, o método de coaching envolve características fundamentais da andragogia (área das ciências da educação dedicadas ao aprendizado de adultos) e conta fortemente com o aprendizado baseado em competências, feedback constante e reforço positivo de comportamentos desejados. 

Para dimensionar o impacto das habilidades de comunicação, os pesquisadores utilizaram instrumentos padronizados, adaptações de questionários e realizaram a gravação de consultas pré e pós-treinamento no grupo intervenção e controle, mensurando seu conteúdo por métodos qualitativos e quantitativos semiestruturados.  

Resultados 

Os resultados do estudo evidenciaram que esse modelo de treinamento teve impactos na melhora da comunicação clínica de cardiologistas. Os aspectos envolveram efeito positivo tanto na percepção dos profissionais quanto dos pacientes cuidados por esses profissionais. Os dois comportamentos que apresentam maior efeito foram a expressão de empatia e o favorecimento de perguntas do paciente.  

A comunicação empática é considerada, conforme destacado pela equipe de pesquisa, uma habilidade de comunicação de maior nível de dificuldade. Ela pode impactar diretamente, conforme muitas evidências da literatura, a experiência do paciente e a compreensão do conteúdo de saúde da consulta (tanto literacia sobre sua condição clínica, quanto de orientações e planos de cuidado).  

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Mensagem prática 

Do ponto de vista prático, a maior contribuição desse estudo é a construção de modelos de mensuração de habilidades e análise de impacto da comunicação, o que pode direcionar pesquisas futuras em outros cenários clínicos, outras populações e a combinação de seus resultados.  

Além disso, o dimensionamento objetivo desses aspectos facilita a difusão de conhecimento dessas competências humanísticas complexas para as pessoas médicas e reforçam o quanto o aspecto da comunicação clínica é fator de interesse para dimensionar a qualidade de assistência à saúde em níveis individuais e coletivos. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Pollak KI, Olsen MK, Yang H, et al. Effect of a Coaching Intervention to Improve Cardiologist Communication: A Randomized Clinical Trial. JAMA Intern Med.Published online April 10, 2023. doi:10.1001/jamainternmed.2023.0629.