Anualmente, o dia 15 de agosto é destinado a comemorar o Dia da Gestante, uma data que serve não somente para parabenizar as grávidas, mas que nos convida para uma reflexão crítica sobre esse período na vida de uma mulher, tendo em vista as inúmeras mudanças e desafios. Nota-se que o perfil epidemiológico das gestantes sofreu significativa mudança no decorrer dos últimos anos, sendo observado um aumento na incidência de gestações consideradas tardias. Nesse sentido, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram o crescente número de mulheres que engravidaram após os 30 anos de idade, em contrapartida, de acordo com o Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), no ano de 2020, devido à crise sanitária da pandemia de Covid-19, o número de nascimentos no Brasil foi o menor desde 1994.
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Embora as mulheres em algum momento de suas vidas venham refletir sobre a maternidade, percebe-se que, mesmo aquelas que não desejam ser mãe, serão cobradas quanto a isso, devido a maternidade compulsória que a sociedade tenta impor, bem como o processo de romantização do período gestacional. O que se observa é que existe no imaginário social a figura da mulher grávida, completamente feliz e realizada em estar vivendo aquele momento. Entretanto, a realidade pode não ser essa para todas e, no mundo real, longe da imaginação, por um momento, se uma mulher não se sentir feliz dessa maneira idealizada, dá lugar ao sentimento de culpa, como se ela não amasse o filho que está esperando ou estivesse fugindo do que foi predestinada a ser. (CESAR, LOURES e ANDRADE, 2019)
Maternidade e enfermagem
É evidente que para um adequado acompanhamento da gestação todas essas nuances precisam ser trabalhadas e o enfermeiro tem papel fundamental nesse contexto. Como já mencionado, a gravidez traz significativas mudanças na vida da mulher, seja de cunho físico, social e emocional, por isso, numa consulta de enfermagem pré-concepcional, durante o planejamento reprodutivo, o componente emocional da mulher (e sua parceria) precisa ser abordado de forma clara e objetiva, visando sanar dúvidas e fortalecendo o protagonismo dos indivíduos que vivenciam a gestação. Assim como, durante as consultas de pré-natal, através de uma escuta ativa e qualificada, o enfermeiro, diante de seu arcabouço técnico, científico e de uma comunicação assertiva, pode trazer à luz da reflexão o tema da romantização da gravidez e ele precisa estar preparado com conhecimento e ter a sensibilidade para identificar e entender o processo emocional de culpabilização da mulher.
Devido a vulnerabilidade multifatorial, o ministério da saúde do Brasil incluiu grávidas e puérperas no grupo de risco para a covid-19. E estar grávida em um momento de pandemia pode exacerbar sinais e sintomas do estresse emocional. O medo, a incerteza do amanhã e a necessidade de constante adaptação diante das informações que vão surgindo no decorrer do processo pandêmico, corroboram para que a gestante vivencie diferentes sensações, podendo, em muitos casos, ocasionar o quadro de ansiedade.
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Para tentar superar ou amenizar os desafios, principalmente nos dias atuais, é importante a formação de uma rede de apoio à gestante, que pode ser formada por amigos, familiares, profissionais de saúde e outras gestantes. É imprescindível que os atores envolvidos nesse processo ofereçam o suporte para o enfrentamento dos desafios da maternidade, desde o período gestacional, passando pelo puerpério que é igualmente desafiador. Contudo, tal rede de apoio precisa ter o entendimento e atenção para não tirar a autonomia da mulher, mas sim promover o empoderamento da gestante para que ela tome suas próprias decisões e vivencie as diferentes etapas de sua maternidade como protagonista de sua própria história.
Referências bibliográficas:
- César, R.C.B; Loures, A.F.; Andrade, B.B.S. A romantização da maternidade e a culpabilização da mulher. Revista Mosaico 2019 Jul./Dez.; 10 (2): SUPLEMENTO 68-75
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012.
- FERNANDES, Fábia Cheyenne Gomes de Morais; SANTOS, Emelynne Gabrielly de Oliveira; BARBOSA, Isabelle Ribeiro. A idade da primeira gestação no Brasil: dados da pesquisa nacional de saúde. J. Hum. Growth Dev., São Paulo , v. 29, n. 3, p. 304-312, dez. 2019 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822019000300002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 ago. 2021. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9523.
- Oliveira, Maíra Ribeiro de e Dessen, Maria Auxiliadora. Alterações na rede social de apoio durante a gestação e o nascimento de filhos. Estudos de Psicologia (Campinas) [online]. 2012, v. 29, n. 1 [Acessado 12 Agosto 2021] , pp. 81-88. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000100009>. Epub 27 Abr 2012. ISSN 1982-0275. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000100009.