A síndrome da pele escaldada estafilocócica é resultado da disseminação hematogênica para a pele de exotoxinas produzidas pelo Staphylococcus aureus, causando desprendimento da zona granulosa da epiderme por efeito sobre os desmossomos. Cabe ressaltar que o foco infeccioso é distante de onde se libera a exotoxina sob a forma de condições como conjuntivite, otite média e onfalite.
No que concerne à clínica, causa dor cutânea difusa, eritema (principalmente nas dobras cutâneas como pescoço, axilas, fenda glútea e pregas inguinais), formação de bolhas e descamação superficial progressiva, sem acometimento de mucosas. Assemelha-se à queimadura por água quente, por isso o nome “pele escaldada”.
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O eritema generalizado geralmente se desenvolve em 48 horas e com a progressão da doença, surgem as bolhas flácidas. A descamação costuma ocorrer de dois a cinco dias após o início do eritema e em região perioral, pode ser verificada a presença de crostas espessas. Febre, irritabilidade e baixa aceitação da dieta também podem ocorrer.
Acomete principalmente menores de cinco anos e acredita-se que a maior suscetibilidade em crianças pequenas se deve à falta de anticorpos protetores contra toxinas estafilocócicas e pela imaturidade renal para eliminar estas exotoxinas.
O diagnóstico é clínico e o tratamento consiste em antibioticoterapia sistêmica e terapia de suporte a fim de evitar complicações como sepse, celulite e distúrbios hidroeletrolíticos.
O prognóstico é favorável quando há tratamento adequado. A maioria dos pacientes se recupera dentro de duas a três semanas.
Dentre os diagnósticos diferenciais, deve-se descartar necrólise epidérmica tóxica resultante de hipersensibilidade a drogas, mas é rara em recém-nascidos, não cursa com crostas em região perioral e apresenta plano de clivagem mais profundo na epiderme.
Fisiopatologia
A exotoxina (tipo A e B) produzida pelo Staphylococcus aureus, através de disseminação hematogênica, chega a pele e causa clivagem da desmogleína 1, que é uma proteína responsável pela adesão entre os ceratinócitos no estrato granuloso da pele. Com isso, ocorre descamação superficial de grande parte da superfície cutânea.
Apresentação Clínica
Anamnese
A doença é mais comum em crianças pequenas (abaixo de 6 anos), mas pode ocorrer em adolescentes e adultos com doenças de base (ex.: doença renal, imunossupressão, diabetes mellitus).
As bactérias produtoras das toxinas se encontram em outros sítios infectados; sendo assim, o paciente pode apresentar outras doenças associadas, como impetigo, conjuntivite bacteriana, feridas operatórias, pneumonia, piomiosite, artrite séptica ou endocardite.
O paciente pode apresentar pródromos de dor cutânea, febre, irritabilidade, mal estar e recusa alimentar antes do desenvolvimento das lesões cutâneas.
As complicações podem ocorrer da mesma forma que os pacientes com grandes queimaduras, com infecções secundárias das lesões, distúrbios hidroeletrolíticos importantes e mesmo morte.
Exame Físico
O exame físico deve ser realizado com muito cuidado, para evitar mais lesões cutâneas desnecessárias.
As lesões cutâneas inicialmente se assemelham a uma queimadura solar, com exantema macular eritematoso principalmente em região de dobras cutâneas, como região cervical, axilas e região inguinal. Evolui para eritema generalizado em 48 horas.
As lesões, então, evoluem com formação de bolhas finas que se rompem com facilidade, e formam erosões e crostas.
Fissuras radiais e presença de crostas podem ser encontradas ao redor de olhos, nariz e boca.
Geralmente, as membranas mucosas são preservadas.
Quando a pele se rompe, não se observa sangramento na superfície abaixo do rompimento, demonstrando o caráter de descamação superficial da pele.
Pode estar presente o sinal de Nikolsky, que é a presença de descolamento da pele após leve pressão mecânica local. A pele se descola como um lenço de papel. Se possível, evitar a realização dessa avaliação, para não causar mais lesões cutâneas desnecessárias.
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As erosões e as crostas costumam se resolver em 1-2 semanas. Geralmente, não deixam cicatrizes, mas podem cursar com hipopigmentação por alguns meses após a resolução da doença.
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