As práticas de higiene oral são essenciais na abordagem multidisciplinar do cuidado ao paciente crítico e reduzem a incidência de complicações infecciosas, como pneumonia associada a ventilação mecânica.
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Introdução
A microbiota oral abriga a segunda maior microbiota do corpo humano que inclui bactérias, fungos e vírus, sendo a maioria destes microrganismos compostas por bactérias comensais gram-positivas que são consideradas benéficas ao hospedeiro. Todavia, no paciente crítico, os mecanismos de defesa da orofaringe são dramaticamente alterados (comorbidades; incapacidade de autocuidado oral; uso de antibióticos; alterações salivares) resultando em supercrescimento bacteriano e transição da microbiota da orofaringe para bactérias gram-negativas patogênicas.
A implementação do protocolo de higiene oral no paciente crítico desempenha um papel crucial ao reduzir a colonização de patógenos da orofaringe e via aérea superior, resultando na diminuição na taxa de incidência da pneumunia associada a ventilação mecânica (PAV).
Objetivos da higiene oral no paciente crítico
– Diminuir a colonização de patógenos
– Eliminar ou controlar o biofilme na cavidade oral
– Inspecionar focos infecciosos na cavidade oral
– Prevenir pneumonia associada a ventilação mecânica
Sugestão de higiene oral no paciente crítico
- Avaliação em 24 horas da admissão, por um cirurgião dentista, com avaliação de:
- focos de infecção
- dentes com risco de avulsão
- presença de bordas cortantes
- biofilme bucal
- aparelhos ortodônticos e próteses dentárias
- Limpeza mecânica da cavidade oral (dentes, língua, gengiva e mucosa) pela equipe multidisciplinar 2x ao dia podendo ser utilizado escova de dente, espátula, gaze e água filtrada/estéril.
- Após limpeza mecânica aplicar solução aquosa de digluconato de clorexidina 0,12% para desorganização do biofilme.
- Hidratação das mucosas bucal (saliva artificial ou água destilada) e peribucal (ácidos graxos essenciais e/ou vitamina E 2%).
O uso de clorexidina 0,12% é recomendado pela Anvisa. Todavia, uma metanálise recente demonstrou benefício incerto e aumento de mortalidade com uso de clorexedina na higiene oral [6], sendo novos estudos necessários para uniformizar o cuidado.
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Mensagem Final
A higiene oral é uma parte importante no cuidado multidisciplinar do paciente crítico, visto que neste subgrupo de pacientes, os mecanismos de defesa da mucosa orofaríngea estão alterados, aumentando o risco de infecção. A implementação de protocolos de higiene oral reduz complicações infecciosas, como pneumonia associada a ventilação mecânica, no entanto, ainda não há consenso sobre a melhor forma de como realizá-la, sendo necessários novos estudos para uniformizar esta prática clínica.