Última manhã do IDWeek destinada à revisão das infecções de trato urinário (ITU) relacionada aos cateteres percutâneos, como nefrostomia e punção suprapúbica. Tema controverso devido aos poucos estudos publicados (dificuldade de realizar grandes ensaios pelo baixo número de pacientes), muita variabilidade entre os estudos (definição de ITU nesses casos não é bem estabelecida, populações de pacientes variáveis) e guidelines desatualizados.
Ainda que controverso, é um tema de muita relevância clínica pois esses pacientes estão sempre em risco de infecção e de evoluírem de forma grave. Além disso, temos que levar em consideração a dificuldade na diferenciação de infecção e colonização, o que faz com que sejam pacientes seguidamente expostos à antibioticoterapia desnecessariamente.
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A primeira pergunta a ser respondida é:
- Existe diferença entre os tipos de cateteres percutâneos?
Sim. Estudos mostram que quanto menor o calibre do cateter, maior a chance de formação de biofilme. Além disso, existem cateteres de polímeros com tecnologia que dificultam a formação de biofilme e cateteres revestidos com antibióticos. Esses últimos, mais caros e com alguns estudos mostrando aumento de resistência bacteriana associada.
Vale ressaltar que o tempo de cateterização também aumenta a chance de formação de biofilme e existem fatores de riscos relacionados ao paciente que facilitam com que isso aconteça, como:
- Dieta que aumente formação de oxalato de cálcio na urina,
- Nefrolitíase,
- Gestação,
- Doença renal crônica,
- Imobilidade.
A segunda pergunta a ser respondida é:
- Como diagnosticar uma infecção?
Os pacientes devem demonstrar bacteriúria significativa e sintomas de ITU que não possam ser atribuídos a outra causa. Febre não é um bom parâmetro clínico nesses casos.
Considerar ≥ 103 CFU/mL em pacientes sintomáticos e 105 em assintomáticos.
Além disso, não colete cultura de rotina em pacientes assintomáticos que estejam com cateter funcionante.
A terceira pergunta respondida:
- O que é mais vantajoso em termos de evitar infecção, a punção suprapúbica ou a cateterização uretral?
Estudos indicam que a curto prazo, a cateterização suprapúbica oferece menos risco e a longo prazo não existe diferença entre elas. Entretanto, mais estudos precisam ser feitos para indicar qual população seria beneficiada e em qual tempo.
Em quarto lugar:
- Quais os cuidados preventivos podem ser realizados?
- Profilaxia antibiótica antes da instalação do cateter,
- Utilização de sistema fechado e posicionamento da bolsa coletora sempre abaixo da bexiga/rins,
- Troca de cateter a cada 1-2 meses,
- Uso de antibiótico profilático de acordo com os fatores de risco do paciente.
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Por último:
- Como tratar?
O controle da fonte é o ideal. Logo, quando possível, troque o cateter.
Leve em consideração urinoculturas prévias. Caso não tenha, inicie antimicrobiano de amplo espectro levando em consideração a possibilidade de resistência à quinolonas e de bactéria ESBL.
Não colete cultura de controle após o tratamento em pacientes que responderam satisfatoriamente.
A recorrência é comum (em torno de 39%, sendo 21% pela mesma bactéria) e os fatores associados para diminuição de risco foram escolha adequada do antimicrobiano e troca do cateter nos primeiros quatro dias de infecção.