As doenças atópicas, incluindo a rinite alérgica (RA), apresentam alta prevalência, principalmente em países desenvolvidos. As estimativas de prevalência de rinite crônica em todo o mundo variam entre 10% e 40%¹. No Brasil, a prevalência média de sintomas relacionados à rinite alérgica foi de 29,6% entre adolescentes e de 25,7% entre escolares, além disso, o Brasil está no grupo de países que apresentam as maiores taxas de prevalência de asma e de RA do mundo². Diante da elevada quantidade de pacientes com sintomas da doença, é preciso estar atento às formas de apresentação e tratamento da rinite alérgica.
Definição
A RA pode ser definida com a presença de sintomas como espirros, prurido nasal, obstrução do fluxo aéreo e principalmente secreção nasal clara. A fisiopatologia da doença envolve reações mediadas por IgE contra alérgenos inalados envolvendo inflamação da mucosa por células T auxiliares do tipo 2 (Th2). Os alérgenos mais importantes incluem pólens e fungos sazonais, bem como alérgenos internos perenes, como ácaros, animais de estimação e pragas³. Além disso, a maioria das pessoas asmáticas também apresenta sintomas de rinite. A presença de RA (sazonal ou perene) aumenta significativamente a probabilidade de asma: até 40% das pessoas com rinite alérgica têm ou terão asma em algum momento da vida4.
Os três elementos-chave do manejo da RA são a redução da exposição ao alérgeno sensibilizante, que inclui um espectro de recomendações de prevenção ambiental específicas para o alérgeno, farmacoterapia direcionada e imunoterapia subcutânea ou sublingual em casos selecionados¹. As principais medicações utilizadas na prática clínica diária incluem os anti-histamínicos, glicocorticóides intranasais e os antagonistas do receptor de leucotrienos.3 Os glicocorticóides intranasais são as medicações mais eficazes para a rinite alérgica, sendo sua eficácia moderada no controle de sintomas3. Um desses medicamentos é o spray nasal de furoato de fluticasona (FF), um corticosteróide utilizado uma vez ao dia que demonstrou eficácia terapêutica e segurança para o tratamento da RA em um estudo populacional chinês em 20125.
O estudo fase 4, duplo cego e randomizado para doses de fluticasona de 55 ou 110 microgramas ou placebo, envolveu crianças de 2 a 12 anos com sintomas de RA, definidos pelos principais guidelines diagnósticos da doença, excluídos pacientes com outras doenças que poderiam interferir no controle da RA, como a própria asma. O desfecho primário foi a melhora do escore nasal de sintomas em todos os grupos comparados durante as duas primeiras semanas de tratamento, registrado de forma eletrônica pelo responsável pela criança. Foram incluídos 360 pacientes nos três grupos de avaliação, sendo que 92% completaram o tempo de seguimento. A média diária de sintomas nasais foi semelhante nos grupos de tratamento, experimentando uma redução significativa (p<0.001) quando comparado ao grupo placebo. A grande limitação do estudo consiste na informação preenchida pelos responsáveis dos pacientes, podendo ter sido sub ou superestimadas, influenciando diretamente os resultados encontrados.5
Estudos recentes têm demonstrado uma afinidade maior do FF pelo receptor de glicocorticóides quando comparado a outros corticóides nasais além de potência anti-inflamatória e redução da utilização de antialérgicos orais5.
A eficácia e segurança dos corticosteroides nasais pode variar de acordo com a faixa etária, sendo o FF adequadamente seguro para utilização a partir dos 2 anos de idade5,6. A administração é feita em dose única diária, ao contrário de alternativas de sprays intranasais de corticosteróides que requerem doses múltiplas ao longo do dia. Isso pode ser importante, pois tanto a dosagem e o regime de tratamento têm sido citados como fatores que podem afetar a adesão5. Pacientes adolescentes e adultos também apresentaram melhora dos sintomas nasais e qualidade de vida com a utilização de FF uma vez ao dia, com poucos efeitos adversos, mesmo em casos de rinite sazonal7. Outros corticosteroides nasais, como a beclometasona e a budesonida, parecem ser eficazes na melhora dos sintomas de RA, com poucas evidências comparando droga a droga2,5. Entretanto, a superioridade dos corticosteróides nasais frente aos anti-histamínicos permanece incerta3.
De forma geral, a terapia começa com anti-histamínicos orais, frequentemente iniciados pelo paciente, sendo os de última geração menos sedativos e com menor perfil de efeitos adversos, como a desloratadina e a levocetirizina1,2. O efeito dos antagonistas dos receptores de leucotrienos, como o montelucaste, nos sintomas da RA demonstrou-se semelhante ou ligeiramente inferior ao dos anti-histamínicos orais. 2,3.
O tratamento da RA envolve uma abordagem ampla, incluindo medidas de controle ambiental, farmacoterapia e, se indicado, imunoterapia com alérgenos. Os regimes de tratamento devem ser adaptados à gravidade e duração dos sintomas do paciente, levando-se em consideração sua tolerância a medicamentos, custos e preferências pessoais. Quando não há resposta ao tratamento, faz-se necessário confirmar o diagnóstico de RA, certificar-se de que não há exposição a algum antígeno provocador e checar a adesão ao tratamento proposto. A terapia adequada pode melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente e impactar os resultados clínicos de curto e longo prazo1.