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Nos EUA , quase 1,3 milhão de mulheres realizam uma cesárea anualmente, com uma taxa de cesárea de 32% de todos os partos. Recomendações norte-americanas que apoiam a realização de prova de trabalho de parto após cesariana ajudaram a aumentar o parto vaginal após a cesárea para cerca de 28 %, resultando em uma menor taxa de cesárea na década de 1990.
Contudo, dada a crescente preocupação com a ruptura uterina, a taxa de parto vaginal após cesárea em 2016 foi de 12,4% . A taxa de cesárea permaneceu bastante estável nos últimos anos.
Complicações da cesariana
Estudos anteriores mostraram que há complicações a curto e longo prazos do parto cesáreo. Cesarianas sucessivas mostraram morbidade significativa, principalmente associadas à cistotomia, lesão intestinal, transfusão de sangue, aumento do tempo operatório, doença adesiva abdominal e enterotomia. Dada a alta prevalência de partos cesáreas (com morbidade materna por cesáreas primárias e sucessivas), foi publicado em 29/10/2018 no American Journal of Perinatology um estudo cujo objetivo foi estimar o risco de morbidade perioperatória com o aumento do número de cesarianas.
O estudo de coorte retrospectivo foi realizado de 2004 a 2010. Pacientes submetidas ao parto cesariana foram incluídas. As medidas de desfecho foram lesões de intestino ou bexiga, histerectomia, hemorragia grave que requereram transfusão, morbidade grave ou complicações do sítio cirúrgico. O teste de tendência de Cochran-Armitage foi usado para avaliar o aumento da incidência de cada morbidade com o número de cesarianas prévias.
A regressão logística multivariada foi utilizada para estimar os riscos ajustados para cada morbidade com o aumento do número de cesáreas em comparação com cesárea primária. Das 15.872 participantes, 5.144 tiveram parto cesáreo: 3.113 primigestas, 1.310 iterativa um, 510 iterativa dois e 211 iterativa três ou mais.
Resultados
Houve um aumento significativo de lesão orgânica (intestino ou bexiga), histerectomia e complicações do sítio cirúrgico com o aumento do número de cesarianas. Mulheres com duas cesarianas prévias tinham quase sete vezes mais chances de ter lesão orgânica (aOR: 6,97, IC 95%; [2,04-23,81]), e aquelas com três ou mais cesáreas anteriores tinham mais de oito vezes mais chances (aOR: 8,58; IC 95%; [1,94-37,94]).
O risco de histerectomia foi significativamente maior para as mulheres com duas cesarianas anteriores (aOR: 2,47, IC 95%; [1,14-5,33]), e aumentou para quase oito vezes com três ou mais cesarianas anteriores (aOR: 7,94, IC 95%; [3,81-16,53]). A hemorragia que necessitou de transfusão foi mais de três vezes mais provável com três ou mais cesáreas prévias (aOR: 3,49; IC 95%; [1,44-8,47]). Não houve diferenças no risco de morbidade materna grave. As complicações do sítio cirúrgico aumentaram significativamente apenas em mulheres com três ou mais cesáreas prévias (aOR: 1,78; IC 95%; [1,05-3,03]).
Conclusão
Diante do exposto, o estudo traz embasamento para informar às pacientes sobre os riscos da cirurgia e chama a atenção dos médicos assistentes sobre planejamento pré-operatório. Dependendo dos recursos hospitalares disponíveis, a consideração do encaminhamento para um centro de atendimento terciário pode ser apropriada para pacientes com maior risco de morbidade no momento da cesárea.
Os riscos de lesão de órgãos e histerectomia são aumentados após duas ou mais cesáreas prévias, e os riscos de hemorragia grave e complicações de sítio cirúrgico aumentam após três ou mais cesáreas.
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Referências:
- Sondgeroth KE, Wan L, Rampersad MPHRM, Stout MJ, Macones MGA, Cahill MAG, et al. Risk of Maternal Morbidity with Increasing Number of Cesareans.