Em uma palestra intitulada “Noise Pollution in the PICU”, apresentada no último congresso anual da American Delirium Society (ADS), o pediatra intensivista Yu Kawai (Mayo Clinic College of Medicine and Science, Estados Unidos) citou diversos trabalhos recentes que destacam a relevância do ruído excessivo como fator de risco significativo para o desenvolvimento de delirium em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). Para ilustrar sua apresentação, o Dr. Kawai mostrou os resultados de um estudo bastante interessante conduzido por ele e sua equipe como parte de uma iniciativa da Society of Critical Care Medicine (SCCM), denominada PICU Liberation QI Collaborative, cujo objetivo foi implementar as melhores práticas para o manejo da dor, prontidão para extubação, sedação, delirium, mobilização precoce e envolvimento da família. Ao implementar uma lista de checagem à beira do leito chamada Bundle to Eliminate Delirium (BED), os pesquisadores levantaram a hipótese de que a cultura da unidade relacionada ao delirium e o desfecho do paciente apresentariam melhora. O resumo desse estudo foi publicado em suplemento do jornal Critical Care Medicine.
Metodologia
O BED foi implantado em março de 2017 na Mayo Clinic e foi utilizado pela enfermagem uma vez por plantão. Uma escala Likert de dez pontos foi distribuída um mês antes e dois meses após a implementação do BED para 95 enfermeiros da UTIP. A pesquisa avaliou a frequência e a confiança na realização de cuidados relacionados ao delirium. O desfecho dos pacientes foi definido pela prevalência de um resultado positivo ao se aplicar a ferramenta Pediatric Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit (pCAM-ICU). Os dados das primeiras doze semanas após a implantação do BED foram comparados com os dados das mesmas doze semanas em 2014, 2015 e 2016. Os dados da pesquisa (mediana pré-BED vs pós-BED) e as taxas de prevalência foram comparadas pelo teste U de Mann-Whitney.
Os questionários pré e pós-BED foram preenchidos por 73 e 71 enfermeiros, respectivamente. Todas as comparações estatísticas relacionadas à pesquisa tiveram p < 0,01. A confiança da enfermagem melhorou após o BED no reconhecimento do delirium (6 versus 7), avaliação (7 versus 9), discussão durante as rodadas clínicas (7 versus 9), manejo/prevenção (7 versus 9) e educação familiar (6 versus 8). A frequência da discussão relacionada ao delirium aumentou durante as rodadas pós-BED: resultado do pCAM (5 versus 8), meta diária do nível de sedação (6 versus 8) e plano de manejo/prevenção do delirium (5 versus 8). As enfermeiras também sentiram que desmamaram os sedativos (7 versus 8), normalizaram o ciclo dia/noite (6 versus 8), mobilizaram (6 versus 8) e reorientaram os pacientes (7 versus 8), além de envolveram a família nos cuidados diários (8 versus 8). 9) com mais frequência pós-BED.
A taxa de positividade do pCAM-ICU pós-BED foi de 0,4% (3/815), significativamente menor do que nos três anos anteriores: 1,5% em 2016 (p = 0,03), 1,6% em 2015 (p = 0,04) e 1,6% em 2014 (p = 0,03).
Conclusão
Kawai e colaboradores concluíram que, ao implementar um bundle de delirium, os enfermeiros da UTIP realizaram com mais confiança e mais frequência os cuidados relacionados ao delirium, inclusive, a implantação do bundle foi associada à diminuição da prevalência de delirium em comparação com os três anos anteriores ao estudo.