A data 26 de junho marca o Dia Nacional de Combate às Drogas. O consumo dessas substâncias por mulheres tem aumentado consideravelmente nas Américas, sobressaindo aos níveis do consumo mundial. Esse cenário é preocupante, pois a menor porcentagem de água corporal, menor massa muscular e óssea, e menor atividade enzimática no estômago e no fígado, tem efeitos deletérios à mulher, mesmo com doses menores se comparadas ao do sexo masculino.
A publicidade e o marketing por vezes são considerados vilões para a autoestima feminina, pois mostram mulheres com o padrão de beleza chamado de ideal para a atualidade. No entanto, esse padrão ideal em alguns casos esconde as doenças cardiovasculares, câncer, depressão e transtornos psiquiátricos, dependência química, cirrose, dentre outras doenças que têm aumentado com o padrão de consumo de álcool e outras drogas. E, nesse cenário, as gestantes, inseridas em uma cultura em que o uso dessas substâncias é uma atividade recreativa, se veem como usuárias passivas ou ativas, e, em alguns casos, sem se atentar aos possíveis danos à sua saúde e a do bebê (Quadro 1).
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Quadro 1. Consequências fetais do uso de álcool e outras drogas por gestantes.
Substância/ Consequência | Álcool | Tabaco | Maconha | Cocaína ou crack |
Aborto | Sim | Sim | Sim | – |
Baixo peso ao nascer | Sim | Sim | Sim | Sim |
Natimorto | Sim | Sim | Sim | – |
Nascimento prematuro | – | Sim | Sim | Sim |
Descolamento Prematuro de Placenta | – | Sim | Sim | Sim |
Outras | Paralisia cerebral no bebê, Síndrome alcoólica fetal | Lábio leporino e fenda palatina, Pulmões fracos até o nascimento | Internação em unidade intensiva neonatal, Crescimento Intrauterino Restrito | Problemas renais e cardíacos, alteração do perímetro cefálico |
Além das consequências mencionadas, o uso dessas substâncias é responsável pela maioria das situações de violência intrafamiliar, acidentes fatais e problemas de cunho laboral e de convivência em comunidade. Com o quadro de dependência instalado, a pessoa busca de forma insistente e incessante a substância em questão. Torna-se uma ação prioritária em relação a outros comportamentos e hábitos de vida, como alimentação, higiene corporal, e atividade física.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde e entidades especializadas em obstetrícia, não há quantidade máxima segura de álcool e de outras substâncias na gestação. E, embora exista uma tendência de redução do consumo, muitas mulheres desconhecem o efeito das substâncias no organismo, e algumas continuam consumindo mesmo com a gestação. Dessa forma, a triagem do consumo de álcool e outras drogas é imprescindível nas consultas de pré-natal, assim como perguntar da paridade e da data da última menstruação.
Caso a mulher afirme o consumo de alguma substância, a aplicação de instrumentos como o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) ou Alcohol, Smoking, and Substance Involvement Screening Test (ASSIST) facilita o direcionamento da intervenção de enfermagem, pois, a partir deles, é possível identificar o padrão de consumo e escolher se a ação será educativa ou de encaminhamento para uma unidade especializada.
Durante as consultas de pré-natal realizadas por enfermeiros na atenção primária, a escuta qualificada e livre de julgamentos permite o estabelecimento de vínculo e uma maior adesão ao plano terapêutico definido, além de fortalecer o vínculo da rede de apoio da mulher na família e comunidade. Nesse contexto, é imprescindível uma boa anamnese, a fim de identificar os fatores de risco relacionados ao uso de drogas ou algum tipo de violência que a mulher possa estar sofrendo no período gestacional.
Ao considerar o ambiente de mulheres em situação de rua, é importante destacar a particularidade de sua vulnerabilidade durante o atendimento ao pré-natal, visto que grande parte dessa população faz uso de drogas e possuem outros riscos associados. O consumo de álcool e drogas, o risco de violência, o risco de desnutrição e desidratação, o risco de infecções sexualmente transmissíveis e a dificuldade de acesso à higiene pessoal são alguns dos exemplos identificados para esse grupo populacional.
Sabe-se que o uso de álcool e drogas nas mulheres em condições de rua está associado a diversos fatores, como por exemplo, a fome, o frio, a depressão, a ansiedade, o medo e a fuga da realidade. Diante disso, cabe ao enfermeiro desenvolver confiança para uma atitude de aceitação à cessação do álcool e das drogas por meio da educação quanto aos efeitos do consumo e de suas complicações, bem como identificar os motivos do uso a fim de oferecer melhores condições e evitar o risco materno e fetal.
Todavia, nesse ciclo fechado de vulnerabilidade social e econômica, o profissional de enfermagem, por meio do rastreamento e abordagens educacionais ou de acompanhamento multiprofissional e intersetorial, pode oferecer às mulheres ferramentas para conseguirem se esquivar dessa engrenagem de dependência.
Coautoras: Isabelle Gaspar / Mariana Marins – Enfermagem