A compreensão da morte é um dos maiores desafios da humanidade. Percorremos diversos caminhos para que possamos compreender todos os processos existenciais. Sofremos com a perda de nossos entes queridos. Quando há o nosso próprio encontro com a morte também subjetivamente paira a insegurança sobre a sobrevida. Esta é a esperança de muitos no processo de conforto e esperança frente ao temor do fim de sua vida e de seus entes queridos. Os profissionais de saúde passam a ter grande responsabilidade nesse processo por compor um saber técnico que ajude pessoas no processo de partida.
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Morte, religiosidade e espiritualidade
Um dispositivo muito utilizado pelas pessoas frente o processo de morte e frente aos processos persuasivos da vida se encontra na busca religiosa-espiritual. Compreendemos essa dicotomia pois a religiosidade e a espiritualidade podem parecer a mesma coisa mas são completamente diferentes. A primeira está ligada a religião e aos dogmas, regras e condutas humanas traçadas na compreensão do divino e do pós-vida. Se estabelece em um poder que pode ser salvador dos problemas terrenos e das dores frente aos processos de sofrimento. Já a espiritualidade, usará do autoconhecimento para atingir um estado de conforto, subjetivo e importante para a libertação do apego material relacionado ao sofrimento, a resposta estaria na própria existência.
Indubitavelmente, há uma vasta diferença entre religiosidade e espiritualidade, onde a primeira representa um movimento de expressão da prática e se relaciona com instituições religiosas. Já a segunda pode ser considerada uma dimensão ampla e potente muito mais subjetiva e que se relaciona a questões existenciais, onde há a busca de sentidos, transcendendo a religião. Os termos na maioria das vezes não são excludentes mas se encontram entrelaçados quando o objetivo é buscar a compreensão ou aceitação da morte. O luto é um processo doloroso que se dá em fases que podem adoecer a pessoa e na instituição da religiosidade e da espiritualidade a pessoa pode ter conforto e esperança.
A literatura relata que enfermeiras percebem que os pacientes em situação de sofrimento, doença e morte se apegam a crenças religiosas ou espirituais para conseguir superar e encontrar equilíbrio frente a sentimentos conflituosos. Quanto menor as possibilidades de tratamento e mais alto o risco de morte maior será a busca por questões metafísicas. É comum que os usuários do serviço de saúde busquem auxilio religiosos-espiritual solicitando-o como dimensão do cuidado em saúde. A baixa condição econômica é um fator de aumento da busca religiosa-espiritual. O luto frente a morte é complexo e deve ser instrumento de cuidado dos profissionais.
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Coping
Os profissionais de saúde devem compreender que deve haver sensibilidade frente o processo de morte morrer. Na religiosidade e principalmente na espiritualidade temos a possibilidade de cuidados em um desfecho construtor e edificante para um cuidado integral. Há um conceito importante quando falamos de busca espiritual-religiosa que pode ser positiva ou negativa. Chamamos essa busca de coping positivo ou coping negativo. Podemos considerar como uma iniciativa de busca por Deus ou pelo divino onde pode o paciente tem uma atitude de enfrentamento que seja terapêutica. No entanto, quando temos o coping negativo podemos ter um refutar da religião ou da espiritualidade. Vamos conhecer melhor o coping positivo e o coping negativo, de acordo com o instrumento de CRE (Coping religioso-espiritual).
A Escala de Coping Religioso-Espiritual Abreviada, busca compreender o quanto o usuário do serviço utiliza a religião e a espiritualidade para lidar com o estresse em sua vida. A situação pode envolver a vida pessoal, profissional, econômica, ou outras possíveis possibilidades de aflição ou incômodo na existência. Apenas vamos apresentar as questões presentes na escalas sem as perguntas, para saber o que pode ser perguntado a pessoa em conflito ou sofrimento.
- Orei pelo bem-estar de outros
- Procurei o amor e a proteção de Deus
- Não fiz muito, apenas esperei que Deus resolvesse meus problemas por mim
- Procurei trabalhar pelo bem-estar social
- Procurei ou realizei tratamentos espirituais
- Procurei em Deus força, apoio e orientação
- Senti insatisfação com os representantes religiosos de minha instituição
- Pedi a Deus que me ajudasse a encontrar um novo propósito na vida
- Imaginei se Deus permitiu que isso me acontecesse por causa dos meus erros
- Realizei atos ou ritos espirituais (qualquer ação especificamente relacionada com sua crença: sinal da cruz, confissão, jejum, rituais de purificação, citação de provérbios, entoação de mantras, psicografia, etc.)
- Tive dificuldades para receber conforto de minhas crenças religiosas
- Fiz o melhor que pude e entreguei a situação a Deus
- Convenci-me que forças do mal atuaram para tudo isso acontecer
- Pratiquei atos de caridade moral e/ou material
- Procurei me aconselhar com meu guia espiritual superior (anjo da guarda, mentor, etc)
- Voltei-me a Deus para encontrar uma nova direção de vida
- Tentei lidar com meus sentimentos sem pedir a ajuda de Deus
- Tentei proporcionar conforto espiritual a outras pessoas
- Fiquei imaginando se Deus tinha me abandonado
- Pedi para Deus me ajudar a ser melhor e errar menos
- Pensei que o acontecido poderia me aproximar mais de Deus
- Não tentei lidar com a situação, apenas esperei que Deus levasse minhas preocupações embora
- Senti que o mal estava tentando me afastar de Deus
- Entreguei a situação para Deus depois de fazer tudo que podia
- Orei para descobrir o objetivo de minha vida
- Fui a um templo religioso
- Busquei proteção e orientação de entidades espirituais (santos, espíritos, orixás, etc)
- Imaginei se minha instituição religiosa tinha me abandonado
- Procurei por um total redespertar espiritual
- Confiei que Deus estava comigo
- Comprei ou assinei revistas periódicas que falavam sobre Deus e questões espirituais
- Pensei que Deus não existia
- Questionei se até Deus tem limites
- Busquei ajuda ou conforto na literatura religiosa
- Pedi perdão pelos meus erros
- Participei de sessões de cura espiritual
- Questionei se Deus realmente se importava
- Tentei fazer o melhor que podia e deixei Deus fazer o resto
- Envolvi-me voluntariamente em atividades pelo bem do próximo
- Ouvi e/ou cantei músicas religiosas
- Sabia que não poderia dar conta da situação, então apenas esperei que Deus assumisse o controle
- Recebi ajuda através de imposição das mãos (passes, rezas, bênçãos, magnetismo, reiki, etc.)
- Tentei lidar com a situação do meu jeito, sem a ajuda de Deus
- Senti que meu grupo religioso parecia estar me rejeitando ou me ignorando
- Participei de práticas, atividades ou festividades religiosas ou espirituais
- Procurei auxílio nos livros sagrados
- Tentei mudar meu caminho de vida e seguir um novo — o caminho de Deus
- Culpei Deus pela situação, por ter deixado acontecer
- Refleti se não estava indo contra as leis de Deus e tentei modificar minha atitude
O instrumento CRE pode ser utilizado para saber se uma pessoa esta provisoriamente com uma relação de coping positivo ou negativo o que pode ajudar nas diretrizes do projeto terapêutico singular, as perguntas possuem alternativas a serem marcadas. A utilização do instrumento é benéfica e pode orientar melhores ações de assistência a saúde e de pesquisa.
Quer conhecer mais sobre essa escala? Acesse o nursebook e conheça escala CRE.