A gestação é um momento de grande transformação na vida da mulher, além das alterações fisiológicas, ocorrem também mudanças psicológicas e sociais. Isso posto, é comum que dúvidas e inseguranças surjam nesse período da vida e por essa razão, a saúde mental da mulher deve ser um objeto de cuidado dos profissionais de saúde, uma vez que essa é fundamental para a continuidade da qualidade de vida durante a gravidez.
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Cuidados com a gestante convivendo com HIV
Uma vez que a gestante viva com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), outras peculiaridades iniciam-se no processo de cuidado desta mulher porque a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS), é uma doença crônica e infecciosa que age enfraquecendo o sistema imunológico. Vale destacar que viver com o vírus HIV não significa ter AIDS, pois a doença só se desenvolve na medida em que o vírus se multiplica destruindo as células linfócitos T-CD4+. Essa concepção transformou o conceito de doença sexualmente transmissíveis (DSTs) para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) pois, enfatiza a possibilidade de que uma infecção pode ser transmitida mesmo que a pessoa não possua nenhum tipo de sinal ou sintoma, o que é importante ser levado em consideração porque muda o panorama de cuidado à saúde da mulher.
Nesse sentido, o cuidado à saúde da gestante que vive com HIV tem particularidades como o uso de antirretrovirais, participação do serviço de infectologia, realização de exames para identificação da carga viral, testagem para outras ISTs, planejamento do uso de medicações que inibam a lactação no pós-parto, entre outros. Outrossim, a saúde mental da gestante precisa ser levada em consideração pois todas as mudanças do período gestacional somada a essa nova rotina, com inseguranças e dúvidas, podem gerar conflitos por tamanha demanda. Demonstrando, dessa forma, que a mulher necessita de maior aporte frente a sua condição psíquica, muitas vezes já vulnerável pelas questões que envolvem a sua gravidez vivendo com HIV, pois sabe-se que essa é uma infecção que possui diversos paradigmas e tabus, principalmente no período da gestação, o que leva a mulher ao temor frente às complicações que podem ocorrer com a saúde do seu bebê.
Embora existam medicações que atuem como profilaxia para que o bebê não se infecte com o vírus HIV no período da gestação, parto e pós-parto, o que pode garantir uma certa tranquilidade para a mulher, muitas vivenciam o sentimento de culpa, muitas vezes imposta pela sociedade que a julga, seja pelo desconhecimento do assunto ou com preconceitos em relação à possibilidade de transmissão do vírus para o bebê. Por esse motivo, é imprescindível o acompanhamento de um profissional de saúde que esteja atento as questões da saúde mental à essas mulheres, pois a investigação da sintomatologia depressiva se faz necessária para a identificação de possíveis sintomas depressivos durante o período pré-natal contribuindo assim no direcionamento correto ao cuidado dessas gestantes. (MARQUES et al, 2021).
Mensagens finais
O cuidado de enfermagem à mulher que vive com HIV vai além do período gestacional, inclui também o parto e o pós-parto até pelo menos os 18 meses de vida da criança nascida da mãe HIV positivo, quando, somente com esse tempo é possível dizer que não aconteceu uma infecção por transmissão vertical. Por conseguinte, enfermeiros devem compreender algumas questões que aparecem em estudos como o de Almeida, Borges e Oliveira (2020), que revela que as mulheres gestantes possuem vulnerabilidades emocionais, e utilizam “estratégias focalizadas na busca de suporte religioso fantasioso para o enfrentamento de problemas, recurso que pode atuar como fator de proteção, de esquiva, especialmente quando relacionado com a presença de sintomas ansiosos”.
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Dito isso, para identificar a vulnerabilidade dessas gestantes é necessário que o profissional invista na consulta de enfermagem e na construção de vínculo por meio do acolhimento às mulheres. Ademais, usar mão de recursos como o Projeto Terapêutico Singular (PTS), um instrumento que deve ser explorado para que possa ser constituído um cuidado dinâmico à saúde integral da mulher. Nesse sentido, o processo de cuidado à saúde mental se faz ainda mais importante no período de pandemia em que vivemos, quando foi orientado que houvesse uma redução das relações interpessoais presenciais entre as gestantes, seus familiares e amigos, momentos esses que poderiam melhorar a qualidade de vida das mulheres, pois o distanciamento social pode aumentar ainda mais os episódios de ansiedade.
Em conjunto com Rafael Polakiewicz.
Referências bibliográficas:
- Bertagnoli, Marina Simões Flório Ferreira e Figueiredo, Marco Antônio Castro. Gestantes Soropositivas ao HIV: Maternidade, Relações Conjugais e Ações da Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão. 2017;37(04):981-994. doi: 10.1590/1982-3703004522016
- Cartaxo CMB, Nascimento CAD, Diniz CMM, Brasil DRPA. Gestantes portadoras de HIV/AIDS: Aspectos psicológicos sobre a prevenção da transmissão vertical. Estudos de Psicologia. 18(3), julho-setembro/2013, 419-427.
- Almeida MFG, et al. Percepções sobre adesão ao tratamento e variáveis psicológicas de gestantes soropositivas para o HIV/AIDS. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social. 2020;8(3).
- Silva ALM, et.al. Os impactos no pré-natal e na saúde mental de gestantes durante a pandemia de COVID-19: uma revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Científico. 2021.
- Marques ES, Melo GC, Brandão TM, Moreira AS, Paixão JT. Sintomas depressivos entre gestantes soropositivas e soronegativas para o vírus da imunodeficiência humana. Enferm Foco. 2021;12(1):67-72.