ABRAN atualiza consenso sobre consumo e suplementação de DHA na infância e adolescência

Neste texto, resumimos as atualizações do consenso sobre a suplementação de DHA com foco na infância e adolescência.

Recentemente, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) atualizou suas recomendações sobre a suplementação de DHA (docosaexaenoic acidácido docosaexaenoico) na gestação, lactância e infância, com base em evidências científicas. O artigo II Consensus of the Brazilian Nutrology Association on DHA recommendations during pregnancy, lactation and childhood foi publicado no periódico International Journal of Nutrology. Neste texto, resumimos as atualizações do consenso com foco na infância e adolescência.

DHA

DHA e alimentação

Os ácidos graxos ômega-3 importantes para os seres humanos são o ácido linolênico, o ácido eicosapentaenóico (eicosapentaenoic acid – EPA) e o DHA. O DHA, é condicionalmente essencial, o que significa que não é produzido pelo corpo humano em quantidades suficientes. Assim como o EPA, o DHA desempenha importantes funções bioquímicas e fisiológicas.  

Segundo a ABRAN, as fontes alimentares de DHA são encontradas principalmente em peixes e algas marinhas e a quantidade de DHA pode variar muito em cada espécie de peixe, como o salmão selvagem, que não está disponível no Brasil. O salmão consumido em nosso país é proveniente de tanques de peixes e o teor de DHA depende do consumo de ração fortificada. No Brasil, a sardinha representa a principal fonte de DHA da dieta, mas seu consumo ainda não atende às recomendações. Além disso, em contraste com os potenciais benefícios que a ingestão regular de peixes marinhos gera para a saúde, certos contaminantes químicos, como metais pesados e pesticidas clorados, podem estar presentes. É importante notar que as evidências mostram que o peixe consumido no Brasil contém baixas quantidades de ômega-3.  

O consenso destaca que o Brasil, apesar de possuir uma extensa região litorânea e condições naturais favoráveis, como o clima, não ocupa posição de destaque, respondendo por menos de 1% da produção mundial de pescado. Apesar do crescimento do consumo de pescado pela população brasileira, o consumo per capita ainda é considerado baixo, uma média de 9 kg/habitante/ano, cerca de 10 kg a menos em relação à média mundial e abaixo da média mínima estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 12 kg de peixe/habitante/ano.

Importância do DHA na infância e adolescência 

O DHA é um nutriente fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança, cujo papel principal é na formação e funcionamento do sistema nervoso central (SNC) e da retina. A sua deficiência pode levar a comprometimento do desenvolvimento cognitivo e visual em crianças: 

  • Prejuízo do desenvolvimento cognitivo: 

– Menor número de células nervosas e menos DHA nessas células; 

– Baixa produção de neurotransmissores (acetilcolina, dopamina e norepinefrina); 

– Baixa deposição de mielina; 

– Menos sinapses. 

  • Prejuízo do desenvolvimento visual: 

– Maturação funcional inadequada da retina; 

– Menor diferenciação de fotorreceptores. 

No caso de escolares e adolescentes, o DHA é relevante para os sistemas de neurotransmissão e para a manutenção da viabilidade sináptica.

Suplementação de DHA em lactentes e pré-escolares

Recém-nascidos (RN) e lactentes devem receber quantidades suficientes de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (long-chain polyunsaturated fatty acids – LCPUFA) para promover o desenvolvimento visual e cognitivo ideal, uma vez que são estabelecidas as necessidades e a importância desses ácidos na nutrição infantil. A amamentação, desde que a mãe ingira uma quantidade suficiente de DHA, atende às necessidades desses bebês. Na ausência de leite materno, devem ser utilizadas fórmulas infantis enriquecidas com DHA (0,2% a 0,5% dos lipídios totais). Após os seis meses de idade, a suplementação desse ácido deve ser continuada, embora haja dúvidas sobre a quantidade ideal para alcançar os benefícios proporcionados por esse nutriente. 

Na fase pré-escolar (entre dois e seis anos de idade), as recomendações de DHA variam de 100 a 200 mg/dia. No entanto, uma alimentação rica em DHA continua sendo recomendada para atingir as quantidades diárias necessárias.  

No Quadro abaixo, seguem as recomendações diárias de DHA em lactentes e pré-escolares de acordo com a ABRAN:

Recomendação diária de DHA em lactentes e pré-escolares 

Idade 

Recomendação diária 

0 a 6 meses 

0,2 a 0,5% do total de lipídios 

6 meses a 2 anos 

10 a 12 mg/kg/dia 

2 a 4 anos 

100 a 150 mg/dia 

4 a 6 anos 

150 a 200 mg/dia 

Legenda: DHA – ácido docosaexaenoico.

Fonte: Adaptado de Nogueira de Almeida et al. (2022). 

Atualmente, o DHA derivado do óleo de peixe possui maior grau de pureza, pois metais pesados e produtos contaminantes foram extraídos e elaborados com técnicas que não degradam ou dessaturam os ácidos graxos. Esses suplementos podem ser encontrados na forma líquida para serem oferecidos em gotas para crianças menores, e na forma de cápsulas, para idades posteriores.

Leia também: Suplementação de ômega 3 no primeiro trimestre e associação com o crescimento fetal

Suplementação de DHA em escolares e adolescentes

De acordo com o consenso, a suplementação em crianças saudáveis com idades entre 10 e 12 anos não mostrou diferenças em um estudo de intervenção de oito semanas. Entretanto, os resultados podem ser diferentes em crianças com dificuldades de aprendizagem e com probabilidade de apresentar concentrações insuficientes de DHA. 

Em relação ao uso do DHA no manejo de crianças e adolescentes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), alguns autores defendem que haveria um uso promissor em indivíduos ainda muito jovens para uso de um medicamento ou múltiplas drogas. Os pesquisadores da ABRAN concluíram, com base em diversos estudos que o uso do DHA em doenças comportamentais e cognitivas e com base em seu efeito anti-inflamatório é promissor, embora ainda não possa ser recomendado para escolares e adolescentes de forma unânime. 

Segundo a ABRAN, a dose de DHA deveria ser maior ou igual a 450 mg e parece que doses altas como 1200 mg/dia ainda seriam seguras. No entanto, os pesquisadores descrevem acreditar que já existe consenso de que devemos garantir que crianças e adolescentes estejam ingerindo as doses recomendadas de LCPUFA para idade e sexo, pois sua função no organismo é muito importante. Dessa forma, citam o questionário de Herter-Aeberli et al., o Swiss n-3 PUFA FFQ, um questionário de frequência alimentar validado para a ingestão de DHA e EPA, para que os grupos populacionais em risco de baixa ingestão possam ser determinados. Acesso ao questionário em inglês aqui.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Nogueira de Almeida, C. et al. II Consensus of the Brazilian Nutrology Association on DHA recommendations during pregnancy, lactation and childhood. International Journal of Nutrology, v.15,n.3,2022. doi: https://doi.org/10.54448/ijn22302