Adolescentes que têm mais horas de sono possuem melhor desempenho escolar

Há evidências de que os adolescentes, na maioria das sociedades, não atingem as horas diárias de sono recomendadas durante o período escolar.

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Uma queixa bastante comum dos pais de adolescentes é de que o filho não dorme. Mas será que esse comportamento é apenas um sinal de rebeldia juvenil? Um estudo recente publicado na revista Science Advance em dezembro de 2018 abordou uma questão bastante relevante: a maioria dos adolescentes apresenta privação crônica do sono.

Segundo o artigo, os adolescentes geralmente preferem permanecer ativos até o final da noite e acordar somente no final da manhã. Esta rotina diária não é apenas uma consequência de uma mudança na vida social e do uso de dispositivos eletrônicos, que mantêm os adolescentes acordados durante a noite, mas também é resultado de mudanças na homeostase e no ciclo circadiano. Durante a puberdade, o ciclo circadiano adolescente atrasa naturalmente o início do sono.

Uma razão para isso é um aparente prolongamento do período circadiano durante a adolescência, o que tipicamente leva para um início tardio do período noturno. Além disso, existem evidências de que o relógio biológico adolescente é menos sensível à luz durante o período da manhã. Por outro lado, a regulação homeostática do sono, que proporciona aumento do sono de acordo com as horas de vigília, também é modificada em adolescentes mais velhos. Isso permite que eles acordados por mais tempo, em relação aos mais jovens, devido a diminuição do sono durante os períodos de vigília.

Com base nestas mudanças mensuráveis ​​na regulação do sono, os adolescentes se encontram entre duas situações importantes: sua regulação circadiana e homeostática do sono, que atrasa o sono, e suas obrigações sociais, o que impõe compensações precoces do sono, resultando em uma redução diária. A maioria dos adolescentes dorme menos que o tempo diário recomendado nesta idade (que seria de 8 a 10 horas) e uma intervenção que tem sido proposta pela Academia Americana de Pediatria é a de postergar os horários de início das aulas. Aumentar a duração diária do sono em adolescentes não é necessário apenas devido aos resultados adversos óbvios de saúde física e mental associada à privação crônica do sono, mas também devido ao papel que o sono normal desempenha na aprendizagem e na consolidação da memória.

Qualquer ação que resulte em uma duração mais longa de sono em adolescentes também pode resultar em melhor desempenho acadêmico. Existem evidências de que os adolescentes, na maioria das sociedades industrializadas, não atingem as horas diárias de sono recomendadas durante o período escolar, o que é consistente com estimativas de que, nos últimos 100 anos, o sono encurtou em cerca de uma hora em adolescentes. No entanto, a associação entre o aumento do sono e um melhor desempenho escolar em adolescentes e se um atraso no início das aulas ​do ensino médio resulta em melhor desempenho têm sido difíceis de estabelecer.

O estudo de Dunster et al. foi possível graças a uma alteração no horário de início das aulas: o Distrito Escolar de Seattle, no Estado de Washington, Estados Unidos, decidiu atrasar o horário de início das escolas de nível médio, de 07h50 para 08h45. Esta mudança foi implementada para o ano letivo de 2017 e permitiu que os autores realizassem um estudo pré/pós mudança dos horários das aulas (2016 e 2017). As populações do estudo incluíram alunos do segundo ano de duas escolas públicas de ensino médio em Seattle. Em cada ano, na mesma época, uma amostra independente de alunos fazendo a mesma aula era estudada em cada escola. O estudo foi implementado como uma prática de laboratório de ciências em que os alunos poderiam testar previsões sobre seus próprios padrões de sono.

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No estudo de Dunster et al., dados de atividade diária, exposição à luz e sono foram coletados usando monitores de atividade de pulso Actiwatch Spectrum®. Os relógios foram programados para coletar dados em períodos de 15 segundos durante 14 dias e os alunos foram instruídos para pressionar um botão marcador no relógio cada vez que eles iam dormir e quando acordavam. Os alunos também completaram um diário online retrospectivo, que incluiu perguntas sobre o início do sono, como eles foram despertados, se tiraram alguma soneca e se removeram o relógio e incluiu também um espaço para comentários.

Informações demográficas dos alunos, incluindo sexo, data de nascimento, tempo de deslocamento para a escola e meio de transporte foram coletados através de um formulário de pesquisa demográfica distribuído em sala de aula. Os alunos também tinham a oportunidade de revelar quaisquer distúrbios do sono e/ou responsabilidades (trabalho, cuidados infantis, etc.) que poderiam afetar a coleta de dados. Os dados foram coletados ao longo de seis semanas, durante as primaveras de 2016 e 2017, em rodadas deduas semanas. Os alunos de cada rodada receberam as mesmas instruções. As notas do segundo semestre dos alunos incluídos no estudo foram fornecidas pelos professores.

O estudo demonstrou que um atraso nos horários de início das aulas do ensino médio, das 7h50 para às 8h45, teve vários benefícios mensuráveis para os alunos adolescentes. A mudança levou a um prolongamento significativo do sono diário de mais de meia hora: de 6 horas e 50 minutos para 7 horas e 24 minutos, restaurando os valores históricos de sono apresentados várias décadas antes das noites em ambientes bem iluminados e com acesso a telas emissoras de luz.

Estes resultados demonstram que atrasar o horário de início das aulas do ensino médio pode aproximar os alunos do nível de sono recomendado e reverte a tendência de perda gradual do sono do último século. Os autores também demonstraram que o horário de início da escola foi associado a um melhor alinhamento do tempo de sono com o sistema circadiano (redução do jet lag social), redução da sonolência e aumento do desempenho acadêmico: os estudantes que estavam melhor descansados ​​e mais alertas exibiram melhor desempenho acadêmico.

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Referências:

  • Sleepmore in Seattle: Later school start times are associated with more sleep and better performance in high school students. BY GIDEON P. DUNSTER, LUCIANO DE LA IGLESIA, MIRIAM BEN-HAMO, CLAIRE NAVE, JASON G. FLEISCHER, SATCHIDANANDA PANDA, HORACIO O. DE LA IGLESIA. SCIENCE ADVANCES12 DEC 2018 : EAAU6200

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