AIDS 2022: Pessoas com HIV apresentam risco maior de covid-19 grave

OMS apresenta dados sobre casos de pacientes HIV positivos com Covid-19 durante a 24th International AIDS Conference

Desde o início da pandemia de Covid-19, houve preocupação se indivíduos vivendo com HIV estariam sob maior risco de complicações, quadros mais graves e ou óbito. Embora as evidências venham demonstrando que a infecção pelo HIV por si só não é um fator a mais para mortalidade, o assunto continua em debate. 

Em uma das apresentações da 24th International AIDS Conference, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre características e desfechos de pacientes com Covid-19 hospitalizados foram apresentados. 

Resultados 

O banco de dados da OMS captou informações referentes a 338.566 pessoas hospitalizadas com Covid-19 em 50 países. Dos 197.479 com informação sobre o status de infecção pelo HIV, 16.955 (8,6%) eram pessoas convivendo com HIV, das quais 94,6% residiam na África, 37,1% eram homens e a mediana de idade foi de 45,5 anos. 

Entre os participantes com HIV e Covid-19, 38,3% foram admitidos com quadros graves ou críticos e 24,7% morreram durante a internação. Interessante notar que 91,5% desses pacientes com HIV estavam em uso de terapia antirretroviral. Alguns sintomas clássicos de Covid-19 foram relatados, de forma estatisticamente significativa, com maior frequência em indivíduos com HIV, tais como febre, dispneia, fadiga, cefaleia, dor torácica, anosmia e mialgia. Tosse, por outro lado, foi menos frequente. 

A presença de comorbidades também foi um achado comum entre as pessoas com HIV hospitalizadas com Covid-19, com 52% apresentando-se com 1 a 2 comorbidades além da infecção pelo HIV e 7,1%, com 3 ou mais. No geral, mais indivíduos com HIV hospitalizados apresentaram condições clínicas concomitantes do que indivíduos sem infecção pelo vírus (59% vs. 45% ; p < 0,0001). 

Comparados com pessoas sem infecção pelo vírus, os participantes com HIV apresentaram um risco 15% maior de quadro grave ou crítico (OR ajustada = 1,15; IC 95% = 1,10 – 1,20) e uma probabilidade 38% maior de mortalidade intra-hospitalar (OR ajustada = 1,38; IC 95% = 1,34 – 1,41). Sexo masculino, idade entre 45 e 75 anos, e presença de cardiopatia crônica ou hipertensão arterial foram fatores associados a maior probabilidade de gravidade nessa população, enquanto sexo masculino, idade superior a 18 anos, diabetes, hipertensão, neoplasia, tuberculose ou doença renal crônica estavam associados a maior risco de óbito intra-hospitalar. A presença de imunossupressão grave – contagem de linfócitos T-CD4 < 200 células/mm³ – apresentou-se como fator de risco para mortalidade de forma independente da carga viral. 

Uma subanálise conduzida somente com dados de participantes em que havia informação sobre terapia antirretroviral mostrou que indivíduos em uso de TARV apresentaram probabilidade 17% menor de óbito e 40% menor de admissão com quadro grave quando comparados com os que não estavam em tratamento. 

Contudo, quando comparados com pessoas sem HIV, tanto os que estavam em tratamento quanto os que não estavam, apresentaram maior risco de morte (HR ajustada = 1,48; IC 95% = 1,39 – 1,57 e HR ajustada = 1,79; IC 95% = 1,48 – 2,16, respectivamente). De forma semelhante, outra subanálise com dados de indivíduos com informações em relação à carga viral mostrou maior risco de morte tanto nos com carga viral < 1000 cópias/mL (HR ajustada = 1,77; IC 95% = 1,57 – 1,99) quanto nos com carga viral > 1000 cópias/mL (HR ajustada = 1,45; IC 95% = 1,32 – 1,58) em comparação com pessoas sem infecção. 

Discussão

Quando a análise de mortalidade é dividida por períodos para considerar diferenças na variante dominante, nota-se que, tanto em indivíduos sem infecção, quanto nos com infecção pelo HIV, houve redução significativa no período de dominância da variante Ômicron em relação ao período da variante Delta. Entretanto, essa redução foi muito menos pronunciada nas pessoas com HIV, com diferença absoluta de mortalidade de 4,8% (IC 95% = 3,1 – 6,5), comparada com uma diferença de 13,0% (IC 95% = 12,5 – 13,6) na população sem HIV. 

 

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