Aspectos clínico-laboratoriais da Cistatina C

A Cistatina C é uma proteína não glicosilada da superfamília dos inibidores da cisteína protease. Neste post, conheça as indicações.

Diferentes biomarcadores, no sangue e/ou urina, são usualmente utilizados para a avaliação da doença renal. Dentre eles, a Cistatina C sérica vem ganhando cada vez mais importância e aplicabilidade nos últimos anos. 

A Cistatina C, também conhecida como Cescitina, é uma proteína não glicosilada, de baixo peso molecular (cerca de 13 kDa) e carga positiva, pertencente à superfamília dos inibidores da cisteína protease.

Leia também: Conitec é desfavorável à incorporação de medicamento contra AME no SUS

Ela é produzida, a uma taxa constante, por todas as células nucleadas do organismo, sendo livremente filtrada nos glomérulos. Por conseguinte, suas concentrações séricas são dependentes quase que exclusivamente da taxa de filtração glomerular (TFG) e, assim como a creatinina, seus níveis sanguíneos são inversamente proporcionais a TFG. 

Uma vez filtrada, é quase que completamente reabsorvida e catabolizada à nível dos túbulos renais proximais, não apresentando secreção renal e/ou extrarrenal. Dessa forma, sob condições fisiológicas, a cistatina C não é encontrada significativamente na urina final excretada e, portanto, a função renal não pode ser avaliada pela sua depuração urinária. 

Seus níveis séricos, ao contrário da creatinina, são pouco influenciados por variáveis extrarrenais como, por exemplo, peso, massa muscular, gênero, idade ou raça. Nesse sentido, em algumas situações, o uso da cistatina C pode ser mais acurado do que a creatinina para a avaliação da função renal. 

pessoa com doença renal crônica segurando modelo de rim

Principais indicações 

  • Avaliação e monitoramento da função renal em pacientes com doença renal; 
  • Estimar a TFG, isoladamente ou em conjunto com a creatinina, por meio de equações matemáticas (ex.: CKD-EPI com cistatina C, CKD-EPI com creatinina e cistatina C); 
  • Nos indivíduos em que o resultado da creatinina pode não ser confiável, como no caso de pacientes desnutridos, obesos, amputados, para/tetraplégicos e idosos; 
  • Em situações nas quais a função renal pode apresentar variações bruscas (ex.: hospitalização).

Limitações 

Assim como outros biomarcadores endógenos da função renal, a cistatina C também apresenta algumas restrições. Na prática clínica, a sua determinação de rotina não se mostrou superior à da creatinina. 

Ela ainda é um exame, quando comparado aos outros marcadores clássicos da função renal, mais caro e menos disponível comercialmente, além de não estar incluso no rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), desobrigando assim a sua cobertura pelos planos de saúde privados.  

Em algumas situações, as concentrações séricas de cistatina C podem estar elevadas, sem, contudo, se correlacionar com uma redução da TFG, como em portadores de tumores malignos, mieloma múltiplo, cirrose hepática ou uso de corticoides em altas doses. Devido à imaturidade da função renal, seus níveis apresentam-se mais elevados em neonatos. 

Outra desvantagem é que os ensaios/metodologias (ex.: imunoturbidimetria) para a sua determinação ainda carecem de padronização, podendo assim apresentarem variações entre os Laboratórios Clínicos e os diferentes fabricantes de kits diagnósticos. 

Mensagem final 

O Laboratório Clínico contribui, de modo determinante, para o manejo dos pacientes com doença renal, na medida em que pode auxiliar na investigação, diagnóstico, seguimento e prognóstico desses indivíduos. 

A introdução da cistatina C veio a colaborar para uma melhor avaliação da função renal, notadamente em algumas situações especiais como, por exemplo, no caso de pacientes com aumento ou redução anormal da massa muscular.  

Essa proteína é considerada um bom marcador da função renal e, se observadas suas vantagens e limitações, pode agregar muito valor no contexto das doenças renais.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Inker LA, Eneanya ND, Coresh J, et al. New Creatinine- and Cystatin C-Based Equations to Estimate GFR without Race. N Engl J Med. 2021;385(19):1737-1749.
  • Kanaan S, Garcia MAT, Xavier AR. Bioquímica Clínica. 3a ed. Rio de Janeiro, RJ: Atheneu, 2022. 
  • Mayo Clinic Laboratories. Test Catalog. Cystatin C. Disponível em: https://www.mayocliniclabs.com/test-catalog/overview/614154. (Acesso em 14/11/2022).