Na última década, vários estudos e protocolos têm sido base para a utilização de aspirina em baixas doses para prevenção de pré-eclâmpsia grave e precoce nas pacientes que apresentam esse risco, de acordo com os cálculos de risco realizados no exame morfológico do primeiro trimestre. Os benefícios encontrados nessas pacientes, também encontramos na paciente hipertensa crônica? Conseguimos prevenir pré-eclâmpsia sobreposta nestas pacientes?
Em outubro de 2022 foi publicado uma revisão sistemática e metanálise no American Journal of Obstetrics and Gynecology, com o objetivo de investigar se o uso de aspirina em baixas doses durante a gravidez por mulheres com hipertensão crônica reduz as chances de pré-eclâmpsia sobreposta e resultados perinatais ruins.
Os pesquisadores incluíram estudos de coorte, caso-controle e controles randomizados que relataram mulheres com hipertensão crônica grávidas de um único filho. Os estudos elegíveis compararam o uso de aspirina em baixas doses durante a gravidez com um braço controle.
Os estudos
Os autores incluíram nove estudos (três estudos de coorte retrospectivos e seis ensaios randomizados) com um total de 2.150 mulheres com hipertensão crônica. A profilaxia com aspirina em baixa dose não reduziu significativamente as chances de pré-eclâmpsia sobreposta nos ensaios clínicos randomizados (OR 0,83, IC 95% 0,55-1,25, PI 0,27-2,56, evidência de baixa qualidade) ou estudos observacionais (OR 1,21, IC 95% 0,78 -1,87, PI 0,07-20,80, evidência de qualidade muito baixa).
A aspirina em baixas doses também não reduziu as chances de pré-eclâmpsia prematura (OR 1,17, IC 95% 0,74-1,86), e o início precoce da aspirina não teve impacto significativo. Não houve efeito significativo em recém-nascidos pequenos para a idade gestacional ou mortalidade perinatal, no entanto, houve uma redução significativa no parto prematuro (OR 0,63, IC 95% 0,45-0,89, evidência de qualidade moderada). A qualidade da evidência foi limitada pela heterogeneidade das pacientes e risco de viés.
Esta metanálise que trouxe hoje para discussão não conseguiu demonstrar uma mudança significativa nas chances de pré-eclâmpsia sobreposta, bebês pequenos para a idade gestacional ou mortalidade perinatal com o uso de aspirina em baixas doses em mulheres com hipertensão crônica.
No entanto, houve uma redução significativa do parto prematuro, o que justifica o uso continuado da profilaxia com aspirina. Afinal, por mais que não houve a diminuição de casos de pré-eclâmpsia, a redução significativa do parto prematuro é um grande ganho para os recém-natos, diminuindo morbidade e mortalidade, além de diminuir os gastos hospitalares que são enormes nos partos prematuros.