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A detecção de coronavírus humano (HCoV) sozinho ou em coinfecção com o rinovírus C (RV-C) foi independentemente associada à admissão de crianças pequenas em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), hospitalizadas por insuficiência respiratória aguda (IRA). Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada em uma UTIP brasileira em Ribeirão Preto/SP, publicada no último ano.
Coronavírus em crianças
O estudo Human coronavirus alone or in co-infection with rhinovirus C is a risk factor for severe respiratory disease and admission to the pediatric intensive care unit: A one-year study in Southeast Brazil de Matsuno e colaboradores (2019) foi publicado na PLOS ONE.
Nesse estudo prospectivo de coorte observacional, os pesquisadores objetivaram avaliar o perfil de vírus respiratórios em crianças pequenas hospitalizadas por infecção aguda do trato respiratório inferior (acute lower respiratory tract infection – ALRI) e sua associação com a gravidade da doença, definida como necessidade de internação em UTIP.
Os pesquisadores elegeram, para esse estudo, todas as crianças com menos de três anos de idade e que compareceram consecutivamente à sala de emergência pediátrica com ALRI e que foram hospitalizadas no período de 1º de junho de 2008 a 31 de maio de 2009.
Os autores definiram ALRI pela presença de tosse, taquipneia, dificuldade respiratória com tempo expiratório prolongado e sibilos ou crepitações à ausculta. Pacientes com diagnóstico de pneumonia bacteriana, como indicado pela apresentação clínica e por radiografia de tórax ou hemocultura positiva foram excluídos da análise.
Os aspirados nasofaríngeos desses pacientes foram testados para 17 vírus respiratórios humanos por ensaios moleculares e baseados em imunofluorescência. Modelos de regressão simples e log-binomial foram construídos para avaliar associações do tipo de vírus com a necessidade de admissão na UTIP. As covariáveis englobaram: idade, prematuridade, presença de doença subjacente e cardiopatia congênita.
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Resultados
Os pesquisadores observaram que os aspirados nasofaríngeos foram positivos para, pelo menos, um vírus em 236 pacientes. Rinovírus foram detectados em 85,6% das am
ostras, com preponderância do RV-C. (61,9%). O vírus sincicial respiratório (respiratory syncytial vírus – RSV foi detectado em 59,8% das amostras e, o HCoV, foi identificado em 11%. Foram encontradas co-detecções de dois a cinco vírus em 78% dos pacientes.
A detecção de HCoV sozinho [risco relativo ajustado (RR) 2,18; IC95% 1,15–4,15] ou em coinfecção com RV-C (RR ajustado 2,37; IC95% 1,23–4,58) foi independentemente associada à admissão na UTIP.
Matsuno e colaboradores (2019) destacam que, embora os HCoV causem mais frequentemente resfriados comuns, eles também podem causar doenças respiratórias graves que culminam com IRA. Os autores também enfatizam a importância da disponibilização ampla de testes de diagnóstico rápidos e confiáveis para vírus respiratórios associados à gravidade da doença para melhorar o manejo do paciente e otimizar os recursos de saúde.
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Autor:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referência bibliográfica:
- MATSUNO, A. K. et al. Human coronavirus alone or in co-infection with rhinovirus C is a risk factor for severe respiratory disease and admission to the pediatric intensive care unit: A one-year study in Southeast Brazil. PLOS ONE, v.14, n.6, e0217744, 2019.