Quer acessar esse e outros conteúdos na íntegra?
Cadastrar GrátisJá tem cadastro? Faça seu login
Faça seu login ou cadastre-se gratuitamente para ter acesso ilimitado a todos os artigos, casos clínicos e ferramentas do Portal PEBMED
Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.
A febre sem foco em bebês em bom estado geral entre sete a 60 dias de vida é um desafio comum para os profissionais de saúde. A causa mais frequente nesses bebês é viral. Contudo, a febre também é um sintoma inicial comum de infecções bacterianas, como meningite e infecção do trato urinário (ITU), por exemplo. Como essas infecções bacterianas podem ser fatais (sepse), milhares de bebês febris nessa faixa etária são avaliados anualmente por suspeita desse tipo de infecção nos Estados Unidos, o que muitas vezes leva a hospitalização desnecessária, já que, a maioria desses pacientes, a suspeita não se confirma.
Existe uma variabilidade substancial da prática entre os pediatras em termos de avaliação e de tratamento, incluindo exames de sangue, culturas microbiológicas, testes virais, análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), uso de antibióticos empíricos, indicação de hospitalização e tempo de permanência hospitalar. Os prejuízos causados aos pacientes pelo excesso de exames solicitados e do tratamento empírico são difíceis de quantificar.
Veja também: Sepse na pediatria: quais são as condições de risco elevado
Em 2016, o grupo American Academy of Pediatrics (AAP) Value in Inpatient Pediatrics (VIP) network projetou e implementou um estudo nacional americano para melhoria da qualidade (quality improvement – QI) com o objetivo de padronizar o atendimento a lactentes de sete a 60 dias de idade em bom estado geral com febre sem foco. O projeto, intitulado “Reduzindo a Variabilidade Excessiva na Avaliação da Sepse Infantil” (Reducing Variability in the Infant Sepsis Evaluation – REVISE) ofereceu educação baseada em evidências, estratégias de implementação e ferramentas para o atendimento aos prestadores de serviços de departamentos de emergência e unidades de internação pediátricos (UTIP) americanos.
O objetivo principal do REVISE foi padronizar, melhorar a hospitalização adequada e o tempo de internação hospitalar nessa população de bebês por meio de uma colaboração nacional de QI. O estudo de Biondi e colaboradores foi publicado em setembro pela revista americana Pediatrics.
REVISE: o estudo sobre sepse pediátrica
A iniciativa REVISE foi projetada para padronizar o atendimento a lactentes em bom estado geral, com idades entre sete a 60 dias, avaliados por febre sem foco. Foram coletados dados referentes a dois períodos nos departamentos de emergência e unidades de internação participantes: 12 meses da linha de base e 12 meses de implementação de dados.
Foram excluídos os bebês em mau estado geral e aqueles com comorbidades. Os locais participantes receberam ferramentas de alteração, gráficos de execução, um aplicativo móvel, webinars ao vivo, treinamento e LISTSERV. As análises foram realizadas através de gráficos estatísticos de controle de processos e regressão de séries temporais interrompidas.
As duas medidas de resultado foram: a porcentagem de bebês hospitalizados que foram avaliados e hospitalizados adequadamente e a porcentagem de bebês hospitalizados que receberam alta com um período de internação adequado.
Resultados
No total, 124 hospitais de 38 estados americanos forneceram dados sobre 20.570 crianças. A mediana de melhora na porcentagem de bebês que foram avaliados e hospitalizados adequadamente e naqueles com tempo de internação hospitalar apropriado foi de 5,3% (intervalo interquartil = 22,5% a 13,7%) e 15,5% (intervalo interquartil = 2,9 a 31,3), respectivamente. A variação de causa especial em relação à meta foi identificada para ambas as medidas. Não houve alteração no tratamento tardio ou infecções bacterianas não diagnosticadas (diferença de inclinação 0,1; intervalo de confiança de 95%, 28,3 a 9,1).
Leia mais: Choque séptico em pediatria: quais corticosteroides usar?
Os autores destacam que houve melhorias nos aspectos principais do manejo de bebês febris, incluindo a proporção de lactentes hospitalizados adequadamente e o tempo de permanência hospitalar. Além disso, projetos semelhantes a esse podem ser usados para melhorar o atendimento de crianças em outras condições clínicas.
Autor:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referência bibliográfica:
- BIONDI, E. A. et al. Reducing Variability in the Infant Sepsis Evaluation (REVISE): A National Quality Initiative. Pediatrics, v.144, n.3, 2019.