Avaliação inicial: identificação, triagem e intervenção mínima para o uso de drogas

A avaliação inicial tem o objetivo de detectar usuários com problemas relacionados a drogas. A partir dessas informações podemos planejar o cuidado.

Toda avaliação de saúde tem como objetivo levantar dados do indivíduo para realizar sua identificação social demográfica e econômica, pesquisar sobre seu estado de saúde e alterações possíveis de maneira biopsicossocioespiritual. Outros objetivos também são de profunda importância na avaliação, como a história clínica e seus antecedentes familiares. A partir desse universo de informações podemos planejar o cuidado. A avaliação inicial possui o objetivo de detectar usuários com problemas relacionados a álcool e outras drogas.

homem ao fundo com agulha com drogas em foco

Avaliação para uso de drogas

Para a realização de uma avaliação com triagem específica quanto ao uso de substâncias psicoativas, algumas justificativas devem ser consideradas: não existe uso seguro de drogas psicoativas; o uso de nocivos e a dependência de álcool e outras drogas possuem poucos diagnósticos por questões sociais; as complicações clínicas geralmente vem primeiro que o diagnóstico; o prognóstico é piorado pela demora do diagnóstico existe ineficiência por parte dos profissionais de saúde para atendimento das demandas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) faz orientações gerais para os programas de atendimento a usuários de drogas lícitas e ilícitas que preconizam a necessidade de acolhimento destas pessoas, com ausência de preconceito. O acolhimento deve ser realizado sendo o primeiro contato com o serviço de saúde. No caso do uso e abuso de álcool e outras drogas é um momento privilegiado, momento pelo qual é possível realizar uma aliança terapêutica. E para isso também é muito importante buscar a sinalização do problema.

Sintomas sinalizadores do problema com álcool e outras drogas:

  • Distúrbios do sono;
  • Depressão;
  • Ansiedade;
  • Humor instável;
  • Irritabilidade exagerada;
  • Alterações da memória e da percepção da realidade;
  • Falta frequente nos ambientes laborais, principalmente escola e trabalho;
  • Alterações da pressão arterial;
  • Problemas gastrintestinais;
  • História de trauma e acidente frequentes;
  • Disfunção sexual.

Outros sinais físicos são sinalizadores, como observar as questões relativas: tremor leve, pressão arterial lábil, hipertensão arterial, taquicardia ou arritmias cardíaca, aumento do fígado, irritação nasal(sugestiva do uso de cocaína ou de drogas fumadas), odor alcoólicos, odor de maconha e nicotina, síndrome da higiene bucal (disfarce do odor de álcool ou tabaco), uso frequente de colírio ocular ou substância nasal.

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Critérios diagnósticos para o uso problemático, nocivo ou de risco

A organização mundial de saúde (OMS) define o uso, como um padrão de uso de substância psicoativas e psicotrópicas que esteja causando dano à saúde, podendo ser de natureza física, psíquica ou social. Casos de intoxicação ou a famosa “ressaca”, evento que acontece pós intoxicação, não são considerados, por si só dano, um dano a saúde. O critério da CID-10 para o uso nocivo(abuso) de substância são: Dano rela a pessoa, padrão de uso que levem a consequências negativas a condição física, psíquica ou social e alterações no comportamento.

A seguir vamos trabalhar um exemplo de formulário para pesquisa sobre uso de drogas psicoativas:

Data:

Nome:

Idade:

Por que você está aqui hoje?

O quê está errado com você?

Com quem vive?

  • Sozinho
  • Com Cônjuge
  • Outros parentes
  • Amigos
Outros problemas:

Quando se deu o primeiro episódio de uso?

Teve algum acidente de trânsito?

Teve algum traumatismo na cabeça?

Teve algum problema decorrente de brigas?

Teve problema após beber álcool ?

Teve problemas após o uso de drogas

Tabaco

Você fuma?                             Sim Não 

Quantos cigarros por dia?

Dieta

Você cuida da sua dieta para:

Colesterol                               Sim Não

Uso de sal                               Sim Não

Calorias totais/dia                 Sim Não

Exercícios físicos:

Pratica atividades físicas regulamente?

Quanto tempo por semana destina a tal fim?

Se não realiza atividade física, quais são os principais impeditivos?

Se não realiza atividade física, acha que possui relação com o uso das substância de uso?

Quais atividades físicas você mais gosta de fazer?

Acha que consegue realizar alguma atividade física durante o dia ou a semana?

Uso de álcool ou Drogas

Você tem observado algum problema com seu uso de álcool ou outra droga?

Alguém de sua família tem problemas com álcool ou drogas?

As pessoas que convivem com você fazem uso de álcool ou outras drogas?

As pessoas que convivem com você se incomodam com o uso de álcool ou outras drogas?

Você já se sentiu mal por ter consumido álcool ou outras drogas?

Quais são os horários de consumo?

Quantas vezes você realiza o consumo por dia, semana ou mês?

Estresse

Sente-se cansado ou estressado?

  • Constantemente
  • Frequentemente
  • Eventualmente
  • Raramente
Sono

Você dorme bem?

Você faz uso de calmante para dormir?

Se faz, há quanto tempo?

Outro ponto importante é classificar o uso. Todas as populações fazem uso de drogas, o mais importante é classificar de que forma esse uso se estabelece e se há relação de problemas de saúde para os indivíduos. Para isso a classificação do uso e o entendimento do uso se faz importante.

Nomenclatura Forma de Consumo
Uso recreativo Qualquer consumo de substância psicoativa para experimentar, esporádico ou episódico
Uso de risco Padrão que eleva o risco para o usuário e aqueles que estão à sua volta, mas ainda não trouxe danos diretos à saúde deste usuário.
Abuso ou uso nocivo Consumo associado a algum prejuízo (biológico, psíquico ou social)
Dependência Consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário de diferentes graus. A dependência é caracterizada por:

• Físura que é o desejo acentuado do uso da droga; 

• Necessidade do aumento nas doses para obter o mesmo efeito; •Dificuldade para controlar o uso tanto em termos de início quanto de dose;

• Necessidade de uso da droga com objetivo de aliviar os sintomas;

• Negligência crescente pelos interesses e prazeres alternativos com abandono de atividades laborais;

• Persistência do uso mesmo com efeitos nefastos do uso da droga reconhecidos.

Binge Consumo episódico excessivo, muitas vezes levando à intoxicação.
Intoxicação ou overdose Consumo num único episódio de dose acima daquela que o organismo é capaz de metabolizar causando sintomas graves de descompensação podendo levar até à morte.
Intoxicação ou overdose Conjunto de modificações orgânicas que se dão em decorrência da interrupção abrupta ou redução do aporte de substância após uso prolongado e desenvolvimento de dependência à droga

Resumo da avaliação

Em resumo a avaliação inicial em qualquer ambiente direcionada para o uso de álcool, tabaco e outras drogas psicoativas deve incluir as seguintes questões:

1. Os indivíduos devem ser questionados sobre o uso por uma aspecto amplo por meio de:

  • Anamnese geral detalhada;
  • Anamnese focal, breve, empática e flexível sobre o uso de drogas e aparecimento de problemas;
  • Análise da frequência de uso;
  • Análise de quantidade;
  • Identificação de via de administração;
  • Identificação do último uso e de sinais e sintomas de intoxicação;

2. Deverá haver avaliação da motivação e uma intervenção mínima para mantê-la;

3. Há necessidade de diagnóstico claro do uso nocivo ou aprofundamento diagnóstico em um serviço especializado, com investigação de outras morbidades associadas;

4. Deverá ser feito o exame psíquico e físico;

5. Deverá ser definido:

  • Se orientado a outro serviço ou encaminhado, agendar contrarreferência, mantendo contato com o serviço no qual o paciente foi referenciado;
  • Se aplicada a intervenção mínima, organizar as sessões seguintes para continuar a avaliação das metas, das motivações e de outras necessidades.

Recomendações gerais sobre avaliação inicial nos serviços de saúde

  • Todo profissional de saúde deve investigar o uso de drogas psicoativas nos indivíduos que buscam assistência, com atenção especial para crianças e adolescente;
  • Os indivíduos usuários com ou sem problemas devem receber orientações básicas sobre os conceitos de abuso e dependência de drogas;
  • Intervenções breves, como a entrevista motivacional, podem ser eficazes. Técnicas de confronto devem ser evitadas;
  • Caso o profissional não se sinta apto a intervir, deve buscar adequação no próprio serviço não deixando o paciente sem atenção à saúde.

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Pontos importantes a serem avaliados e operacionalizados:

  • Discuta com o paciente rapidamente sobre as substâncias que ele faz uso;
  • Se perceber disposição para interromper ou diminuir o uso da droga, discuta com o usuário os melhores meios de atingir este objetivo;
  • Se for mulher e estiver grávida ou amamentando encaminhe para serviço especializado pois se trata de gravidez de alto risco;
  • Investigue as razões que a pessoa tem para usar drogas utilizando as técnicas de intervenção breve;
  • Aconselhe a diminuir ou interromper o uso da droga e disponha-se a ajudá-lo;
  • Avalie se a pessoa deseja realizar o tratamento e se está preparada para diminuir o uso;
  • Caso existam sinais importantes de intoxicação, encaminhar para serviço de atendimento clínico.
  • Se houver sinais e sintomas psiquiátricos importantes, encaminhe para o serviço de referência do município;

Todo o indivíduo avaliado como usuário com problema com álcool ou outras drogas, deve ser estimulado a diminuir o consumo e ser acolhidos e acompanhados pelo serviço. Se não houver sucesso, o acompanhamento no território pode ser uma saída para possíveis soluções. Muitas vezes pode ser necessário a visita domiciliar para que novas perspectivas possam ser construídas.

Algumas escalas podem ser utilizadas para triagem de acordo com as especificidades. Vários profissionais devem ser relacionados no processo de cuidado em saúde de pessoas que buscam o serviço de saúde com problemas no uso de álcool e outras drogas.

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Referências bibliográficas:

  • Rio de Janeiro (RJ). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Saúde. Superintendência de Atenção Primária. Guia de Referência Rápida – Álcool e Outras Drogas: Tratamento e acompanhamento de pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas. Rio de Janeiro, 1ª edição, 2016.
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Guia estratégico para o cuidado de pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas : Guia AD. Editora do Ministério da Saúde. Brasília, 2015.
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica: Saúde Mental. Editora do Ministério da Saúde. Brasília, 2013.

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