Uma das sessões de maior destaque na pediatria durante o CBMI 2022, intitulada “Sepse pediátrica no Brasil: incidência, mortalidade e diagnóstico precoce – onde estamos?”, contou com a participação de estudiosos na área e deixou mensagens muito relevantes para os pediatras intensivistas do país. Na palestra “Definições de Sepse Pediátrica: o que mudou desde o último consenso?”, a médica Daniela Carla de Souza salientou a importância da identificação precoce da sepse e a necessidade de critérios diagnósticos mais robustos em pediatria.
Daniela realçou que, apesar de ser um problema de saúde que acomete todo o planeta, dados sobre a carga global de sepse são limitados. Um dos estudos mostrados em sua aula (Rudd e colaboradores, 2020) concluiu que, no período de 1990 a 2017, cerca de 48,9 milhões de casos incidentes de sepse foram registrados em todo o mundo e 11 milhões de mortes relacionadas à sepse foram relatados, representando 19,7% de todas os óbitos globais (75% das mortes ocorreram em países de baixa e média renda).
Com relação a crianças e adolescentes, os números são alarmantes: houve 25,3 milhões de casos, com 3 milhões de óbitos). Uma vez diagnosticada, a taxa de letalidade da sepse pediátrica é estimada em 25%, conforme revisão sistemática com metanálise de Tan e colaboradores (2019) – nesse estudo, os pesquisadores observaram que a chance de uma criança com sepse evoluir para óbito em países de baixa e média renda é quatro vezes maior.
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Definindo sepse
Com relação à definição de sepse em pediatria, a palestrante comentou sobre dados históricos desde 2005, quando a International Pediatric Sepsis Consensus Conference publicou definições e critérios para sepse, sepse grave e choque séptico em crianças com base em pacientes adultos e com modificações na fisiologia baseadas na idade, além de considerações maturacionais. Novas definições e critérios para pacientes adultos foram divulgados em 2016 com o nome Sepse-3.
Nessa publicação, “sepse” foi definida como disfunção orgânica com risco de morte causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção e “choque séptico” o subconjunto de sepse com disfunção circulatória e celular/metabólica associada a um maior risco de mortalidade.
O termo “sepse grave” foi substituído por esta nova definição de sepse. Embora a aplicação do Sepsis-3 em crianças tenha sido tentada, as revisões formais das definições de sepse pediátrica de 2005 permanecem pendentes.
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Manejo
Para as recomendações sobre o manejo de choque séptico e sepse associada a disfunção orgânica da Surviving Sepsis Campaign, Weiss e colaboradores (2020) utilizaram as seguintes definições referentes à nomenclatura de 2005:
Sepse grave:
- Dois ou mais critérios da síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) baseada na idade;
- Infecção invasiva suspeita ou confirmada; e
- Disfunção cardiovascular, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), ou duas ou mais disfunções de sistemas de órgãos não cardiovasculares.
Choque séptico:
- Subgrupo com disfunção cardiovascular, que incluiu hipotensão, tratamento com medicamento vasoativo ou perfusão prejudicada.
No artigo de Weiss e colaboradores (2020), estudos que definiram sepse como infecção grave que leva a disfunção orgânica com risco de vida foram incluídos, mesmo que os critérios usados para definir sepse se desviassem das definições de consenso de 2005.
Mensagem prática
A grande mensagem da aula é que a sepse é um grande desafio diagnóstico na pediatria, deve ser sempre suspeitada em locais que fazem atendimento pediátrico e que os seus critérios de definição ainda não são bem elucidados. Há muito trabalho ainda para os pesquisadores, que buscam melhores definições não contempladas pelos critérios Sepsis-3 para pacientes adultos.