Pela primeira vez em 20 anos, o Centro de Desenvolvimento para o Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) atrasou um marco de desenvolvimento importante para os pequenos: a idade em que eles deveriam atingir um nível específico de linguagem.
Na prática, alguns objetivos de fala e linguagem foram adiados para idades mais avançadas. Por exemplo, uma criança de um ano deve ser capaz de apontar duas partes do corpo quando solicitada, mas o CDC “empurrou” essa habilidade para a idade de dois anos. Outro exemplo: Uma criança de dois anos deveria ser capaz de dizer 50 palavras, mas agora esse marco foi transferido para crianças de dois anos e meio. A mudança na régua causou polêmica entre especialistas.
Leia também: Avaliação do desenvolvimento auditivo em crianças
Saiba mais sobre as mudanças na avaliação do desenvolvimento
O CDC encomendou e financiou a American Academy of Pediatrics (AAP) para convocar um grupo de trabalho formado por oito especialistas (nenhum era fonoaudiólogo) com a finalidade de simplificação e otimização do uso dos marcos como instrumento de vigilância e para desencorajar a abordagem “wait and see”, ou seja, esperar, em vez de agir, em caso de atraso no desenvolvimento.
Os especialistas no assunto identificados pela AAP estabeleceram onze critérios para as listas de verificação de marcos do CDC, incluindo o uso de marcos que a maioria das crianças (≥ 75%) deveria alcançar por idades específicas de visita de supervisão de saúde e aquelas que são facilmente observadas em ambientes naturais.
Um banco de dados de dados normativos para marcos individuais, ferramentas comuns de triagem e avaliação e opinião clínica publicada foi criado para informar as revisões. A aplicação dos critérios estabelecidos pelo grupo de trabalho da AAP e a adição de marcos para as visitas de supervisão de saúde de 15 e 30 meses resultaram em uma redução de 26,4% e substituição de 40,9% dos marcos anteriores do CDC.
Um terço dos marcos retidos foi transferido para diferentes idades; 67,7% foram remanejados para idades mais avançadas. Aproximadamente 80% dos marcos finais tinham dados normativos de ≥1 fontes. Os marcos socioemocionais e cognitivos tiveram os dados menos normativos. Esses critérios e listas de verificação revisadas podem ser usados para apoiar a vigilância do desenvolvimento, julgamento clínico sobre triagem adicional do desenvolvimento e pesquisa em processos de vigilância do desenvolvimento. As lacunas nos dados de desenvolvimento foram identificadas particularmente para marcos socioemocionais e cognitivos.
Embora tenha sido publicado neste mês, em 2022, o estudo de revisão foi realizado em 2019, portanto, antes da pandemia. Especialistas destacam que não é possível ignorar que, por ser atrelado ao governo americano e por se tratar de um estudo de revisão, em que diversas decisões são baseadas em opiniões de especialistas e não exatamente em evidências científicas, podem haver vieses e interesses em jogo.
Uma das autoras da pesquisa em que o CDC se baseou, Jennifer M. Zubler, esclareceu que as alterações foram realizadas para garantir que os marcos refletem objetivos que, pelo menos, 75% do total de crianças podem atingir. Uma vez que os pequenos não conseguem mais atender a essa expectativa, ainda que antes, as crianças conseguissem, elas foram revisadas e ajustadas, segundo o órgão.
O American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) fez um pronunciamento demonstrando preocupação com a mudança e informando que estão também analisando a literatura para averiguar se as novas diretrizes estão condizentes com as evidências científicas.
Especialistas consideram altamente preocupante a real possibilidade de muitas crianças saírem prejudicadas por não receberem intervenção precocemente e acumularem atrasos de forma danosa.
20 dez. 2023 
4 min. 
