Coinfecções em pacientes diagnosticados com Covid-19

Estudos mostram que coinfecções na apresentação inicial de Covid-19 são infrequentes. Saiba mais sobre os resultados apresentados.

Sabidamente infecções virais podem estar associadas a infecções bacterianas de forma concomitante. Ao mesmo tempo, os sintomas de Covid-19 podem muitas vezes ser semelhantes a infecções bacterianas ou fúngicas. Por esses motivos, é comum que muitos profissionais iniciem antimicrobianos empiricamente. Entretanto, estudos mostram que coinfecções na apresentação inicial de Covid-19 são infrequentes.

Rawson et al., realizaram uma revisão sistemática e encontraram uma prevalência de 8% de coinfecções bacterianas ou fúngicas em pacientes diagnosticados com Covid-19. Os autores destacam que esse número é menor do que o encontrado em estudos com outros coronavírus: para o SARS-CoV-1, a prevalência de coinfecções foi de 31% e para outros coronavírus, de 13%.

Em outra revisão, Lansbury et al. encontraram uma prevalência de 7% de coinfecção bacteriana laboratorialmente confirmada em pacientes hospitalizados com Covid-19, aumentando para 14% quando a análise é somente em pacientes internados em terapia intensiva. Nesse mesmo trabalho, coinfecções virais estavam presentes em 3%. As bactérias mais frequentemente encontradas nos casos de infecção secundária foram Mycoplasma pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Haemophilus influenza e Klebsiella pneumoniae e uma proporção importante tratava-se de pneumonias hospitalares.

Estudos mostram que coinfecções na apresentação inicial de Covid-19 são infrequentes.

Infecções associadas à assistência à saúde, resistência antimicrobiana e medidas de prevenção

A preocupação com a presença de coinfecções bacterianas levou à prática comum de prescrição de antimicrobianos empiricamente para pacientes que são internados com Covid-19. Estudos vêm evidenciando aumento no consumo de antibióticos em unidades que prestam cuidados a pacientes com Covid-19. A análise de uma coorte espanhola mostrou aumento no consumo global de antibióticos em um hospital da Espanha, nas primeiras semanas da epidemia no país, sendo mais significativo nas alas com pacientes com Covid-19.

Pacientes com a doença apresentam fatores de risco para desenvolvimento de IRAS, assim como de infecções por microrganismos multirresistentes, tais como uso de antibióticos e antifúngicos, presença de doença pulmonar crônica prévia, ventilação mecânica e internação hospitalar prolongada. Por sua vez, infecções nosocomiais nessa população estão associadas a um alta taxa de mortalidade, como demonstrado em outro estudo espanhol, em que os autores revisaram as infecções nosocomiais em pacientes com Covid-19 confirmados, internados em leitos de UTI em um hospital de Madri. Os resultados revelaram uma elevada prevalência de infecções associadas à assistência à saúde (IRAS), sendo 60,4% complicadas com choque séptico e sendo consideradas como causa principal em 33% dos óbitos.

Uma explicação para a grande quantidade de infecções de corrente sanguínea (primárias e associadas a cateter) observadas nessa coorte foi a realocação de profissionais e de recursos para permitir a expansão dos leitos de UTI durante os momentos mais intensos da epidemia, com descrição de adaptação de enfermarias e salas cirúrgicas para serem utilizadas como leitos de terapia intensiva. Além disso, ênfase foi dada na adesão às medidas de precaução respiratória, mas as medidas de prevenção de IRAS, como adesão a bundles pode ter sido negligenciada.

A importância da adesão às medidas de prevenção de IRAS pode ser demonstrada em algumas publicações. Uma análise retrospectiva, em um centro hospitalar em Los Angeles, em que os profissionais de saúde receberam treinamentos e educação em relação à higienização das mãos e ao uso e desinfecção corretos de equipamentos de proteção individual (EPI).  Os autores mostram uma redução nas taxas de infecções por microrganismos multirresistentes no período após a admissão de pacientes com Covid-19, quando comparado com o período anterior à epidemia. Ao mesmo tempo, um aumento significativo no consumo de preparações alcóolicas e de sabão foi observado no mesmo período. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo retrospectivo de Bentivegna et al., com redução nas infecções por microrganismos multirresistentes em áreas Covid e não-Covid.

Entretanto, embora as infecções por esses organismos tenham diminuído de forma global no estudo após o início da pandemia e o reforço às medidas de prevenção de infecções, os autores encontraram uma proporção maior de infecções por microrganismos multirresistentes em pacientes diagnosticados com Covid-19, quando comparados com pacientes internados por outras causas. Uma hipótese levantada é o uso aumentado de antibióticos de amplo espectro nessa população, levando a pressão seletiva de mecanismos de resistência. Nesse ponto, a atuação de um programa de stewardship de antibióticos tem um importante papel. Ferramentas como a dosagem sérica de procalcitonina também podem auxiliar na decisão de suspender antimicrobiano, podendo ser úteis para limitar o consumo desnecessário de antibióticos.

Mensagens práticas sobre coinfecções

  • A presença de coinfecções bacterianas é menos comum nas infecções por SARS-CoV-2, do que com outras infecções virais respiratórias. A associação de exames radiológicos, laboratoriais e microbiológicos, além de marcadores como procalcitonina, podem auxiliar o médico assistente a excluir infecções bacterianas e permitir a suspensão de antibióticos com segurança.
  • A adesão às medidas de precaução de contato é essencial para evitar, não só a transmissão nosocomial de SARS-CoV-2, quanto de microrganismos multirresistentes a antibióticos. Além da higienização das mãos, é importante estar atento para se observar cuidados como a troca de luvas a cada paciente e o uso de capote individual para os pacientes que estejam em precaução de contato por risco de microrganismos multirresistentes.

Referências bibliográficas

  • Rawson, TM, Moore, LSP, Zhu, N, Ranganathan, N, Skolimowska, K, Gilchrist, M, Satta, G, Cooke, G, Holmes, A. Bacterial and fungal co-infection in individuals with coronavirus: A rapid review to support COVID-19 antimicrobial prescribing. Clin Infect Dis. 2020 Dec 3;71(9):2459-2468. doi: 10.1093/cid/ciaa530.
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  • Bentivegna, E, Luciani, M, Arcari, L, Santino, I, Simmaco, M, Martelletti, P. Reduction of Multidrug-Resistant (MDR) Bacterial Infections during the COVID-19 Pandemic: A Retrospective Study. Int J Environ Res Public Health. 2021 Jan 23;18(3):1003. doi: 10.3390/ijerph18031003.

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