Como a diabetes altera a superfície ocular? 

Conheça o estado atual de conhecimento dos desfechos clínicos da obesidade, pré diabetes e diabetes na superfície ocular.

Obesidade, pré diabetes e diabetes estão crescendo exponencialmente no mundo. O efeito do diabetes na retina é bem classificado, mas existe um crescente interesse nos efeitos metabólicos da doença na região anterior do olho. Muitas vezes, a diabetes só é diagnosticada em clínicas oftalmológicas já em estágios avançados, somente depois que os sinais claros de retinopatia diabética aparecem.

Um artigo foi publicado na BMJ em 2020 falando sobre o estado atual de conhecimento dos desfechos clínicos da obesidade, pré diabetes e diabetes na superfície ocular. As alterações que ocorrem pela desregulação da insulina e da glicose podem levar a visão flutuante/embaçada, aumento do risco de inflamação e complicações subclínicas do uso de lentes de contato ou de cirurgias oculares e dor/desconforto.

Córnea

A espessura central aumenta 10–30μm em pacientes com diabetes tipo 1 ou 2, incluindo os bem controlados com Hb A1c <7.3. A duração da diabetes está relacionada ao aumento da espessura central. Dois estudos não encontraram associação entre obesidade e espessura mas um estudo mostrou associação. A hiperglicemia pode causar dano oxidativo e reduzir a atividade da ATPase no endotélio. Já a densidade endotelial reduz em torno de 100-400 células/mm2 em pacientes com diabetes tipo 1 e 2.

A diminuição na densidade leva a alterações do formato e tamanho da célula (pleomorfismo/polimegatismo). O comprimento da fibra nervosa é preditivo de diagnóstico de neuropatia periférica em pacientes com diabetes. A saúde dos nervos corneanos comprovadamente melhora quando o controle glicêmico melhora. Uma das medidas da função nervosa é a sensibilidade corneana.

Mais de 50% dos pacientes com diabetes mostra sensibilidade reduzida como resultado do dano ao nervo sensorial corneano. Nesse sentido, as células dendríticas epiteliais são importantes para a cicatrização adequada de feridas na córnea, e existe um aumento nas células dendríticas nos pacientes com DM 1 e 2. Elas têm relação inversa com a densidade das fibras indicando que existe interação neuroimune no desenvolvimento da ceratite neurotrófica.

Além disso, a insulina possui um papel importante mediando o metabolismo de células epiteliais e a homeostase. Algumas alterações no estilo de vida, como aumento de atividades físicas e dieta regulada, podem rapidamente reduzir os níveis de glicose e insulina pós prandial.

Filme lacrimal, conjuntiva e glândulas de meibomius

O International Dry Eye Workshop (DEWS) II classificou a diabetes como um fator de risco para olho seco por deficiência aquosa, apesar de poder haver também um componente evaporativo. Pacientes com diabetes têm filme lacrimal que se rompe mais rápido, diminuição na produção e volume de lágrima, maior osmolaridade e mais disfunção da glândula de meibomius

O comprometimento da superfície ocular é maior quando a diabetes tem curso mais grave e mais longo.  Pacientes com obesidade, sendo uma grande parte com pré diabetes, também têm mais metaplasua conjuntival e perdem mais células de goblet. Além disso, pacientes com diabetes são mais propensos a ter blefarite e alterações neuropáticas e microvasculares nas glândulas lacrimais e de meibomius, redução do lacrimejamento reflexo por diminuição da sensibilidade corneana e disfunção nervosa.  

Importante lembrar que os diabéticos também tendem a ter mais hiperemia conjuntival por dilatação de grandes vasos conjuntivais. Muitos mediadores inflamatórios e neuropeptídeos estão alterados na lágrima desses pacientes. A insulina é crítica na manutenção da saúde da córnea, glândulas lacrimais e meibomius. Na superfície ocular, por sua vez, é encontrada uma maior frequência de bactérias como E. Coli, Klebsiella pneumoniae e enterococos.  

A maior positividade de culturas e diversidade bacteriana pode estar associada com maior gravidade e duração, respectivamente, da diabetes. Pacientes com diabetes tipo 1 e 2 têm maior risco de ter conjuntivite bacteriana aguda. Além disso, usuários de lentes de contato com diabetes tem 130 células/mm2 células endoteliais a menos do que os que não usam, o que representa 4-5% de perda endotelial em diabéticos se comparado a pacientes saudáveis.  

Sabe-se que, nesses casos, a lente rígida é a mais segura, mas não existe contraindicação formal para uso de lentes gelatinosas em diabéticos. Esses pacientes devem ser orientados em relação ao maior risco de complicações e necessidade de follow up mais frequente devido a pior cicatrização, redução da função nervosa, densidade endotelial diminuída e alterações no microbioma ocular, o que poderia levar a eventos infiltrativos corneanos. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Richdale K, Chao C, Hamilton M. Eye care providersemerging roles in early detection of diabetes and management of diabetic changes to the ocular surface: a review. BMJ Open Diab Res Care 2020;8:e001094. doi:10.1136/ bmjdrc-2019-001094.

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