Como abordar a sexualidade nos cuidados paliativos?

A provocação para esse texto veio do artigo intitulado “Quão Preparados Estamos para Abordar a Sexualidade nos Cuidados Paliativos?”

A provocação para esse texto veio do artigo publicado em outubro de 2019 na “Acta Médica Portuguesa” intitulado “Quão Preparados Estamos para Abordar a Sexualidade nos Cuidados Paliativos?”. Trago algumas reflexões que ele promove de maneira precisa e elucidativa.

Os preconceitos que o Cuidado Paliativo ainda carrega como ser sinônimo de cuidados de final de vida devido sua íntima, porém reducionista, relação com a morte reverbera também quando o assunto é sexualidade, outro tabu na sociedade.

Assim como a morte, pouco ou nada aprendemos durante a formação em saúde sobre a abordagem da sexualidade no cuidado com o paciente. Apesar de ser um aspecto tão pertencente à nossa identidade ainda é comum a visão do paciente como um ser assexuado, ou a de que o sexo, apenas uma parcela do que compõe a sexualidade, pertence ao passado do paciente e por considerá-lo doente demais para pensar nisso, não fazendo parte do presente ou quiçá do futuro.

Sexualidade

As dificuldades são inúmeras e diversas para o paciente expressar sua sexualidade. No aspecto profissional vão desde a dificuldade da abordagem pela falta de treinamento adequado, desconsideração da importância do tema, falta de tempo, prioridade no tratamento da doença/sintomas até o desconforto individual do profissional em relação ao assunto.

Algumas são de ordem estrutural como a falta de privacidade, quartos compartilhados, camas de solteiro, isolamento de contato e a presença constante de profissionais de saúde, em pacientes internados em ambientes hospitalares. Outras relacionadas ao impacto da própria doença e seus respectivos tratamentos gerando consequências na relação com o parceiro (a) como distúrbios de auto-imagem (ex.: alopecia, emagrecimento), disfunção sexual (diminuição da libido, atrofia vaginal, dispareunia e disfunção erétil) ou sintomas descontrolados (ex.: dor, dispneia).

Adaptado de: Mayor S. Managing the sexual consequences of cancer and its treatment. Cancerworld, nov-dec 2013.

Um dos princípios do Cuidado Paliativo é fazer com que os pacientes vivam o mais ativamente possível até a morte, por isso é razoável incluir a sexualidade no plano de cuidados. Assim, segundo a Organização Mundial em Saúde (OMS) a sexualidade “é um aspecto central do ser humano ao longo da vida e abrange sexo, identidades e papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução.” Como observado a intimidade é uma parte relevante da expressão da sexualidade.

Nesse sentido, estudos revelam que pacientes em final de vida continuam a desejar intimidade, pois ela reforça o vínculo emocional, mesmo que em um tipo de relacionamento íntimo diferente do anterior à doença (ex.: dar as mãos, tocar, abraçar e beijar).

Mais da autora: Quando encaminhar o paciente com câncer para cuidados paliativos?

Como abordar

Visando atender às necessidades de forma a reduzir o sofrimento agravado pela falta de comunicação entre pacientes e seus profissionais de saúde é recomendado incluir na avaliação inicial do paciente a verificação breve de sintomas sexuais, que avalia a insatisfação dos pacientes com sua função sexual, tipo de disfunção sexual e a vontade de falar sobre isso. Outras ferramentas úteis são:

  • PLISSIT: (1) Permissão: convide o paciente para iniciar uma conversa sobre seus problemas, emoções, sua sexualidade; (2) Limited Information: explicar sobre a fisiologia sexual, funcionamento normal, aspectos gerais; (3) Specific Suggestions: dar orientações específicas/ individualizadas como uso de lubrificantes; (4) Intensive Therapy: se necessário, encaminhar o paciente ou casal para um especialista em sexualidade.
  • BETTER: (1) Bring up the topic (exponha o assunto); (2) Explaining (explique sua preocupação com a qualidade de vida do paciente, incluindo sexualidade e que deseja dar espaço para que ele possa falar sobre quaisquer preocupações que tenha, mesmo que talvez você não tenha resposta para todas as questões que eventualmente ele traga); (3) Telling (diga aos pacientes que você encontrará os recursos adequados para atender às suas preocupações); (4) Timing (o tempo pode não parecer apropriado agora, mas reconheça que eles podem solicitar informações a qualquer momento); (5) Education (educar os pacientes sobre os efeitos colaterais de seus tratamentos contra o câncer); (6) Recording (registre sua avaliação e intervenções non prontuário do paciente).

O foco central é criar espaço e dar a oportunidade de discutir confortavelmente o impacto da doença na sexualidade do paciente (como a doença/tratamento afetam? como se sentem? o relacionamento com o parceiro (a) mudou?). O objetivo deve ser possibilitar a manutenção da proximidade com seus parceiros (as), criando as condições físicas e psicológicas adequadas.

Deve-se garantir a preservação da intimidade não apenas no aspecto físico, mas principalmente na sua dimensão mais afetada que é a psicossocial relacionada aos cuidados afetivos e solidão.

Referência bibliográfica:

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