O processo cirúrgico é um período que pode causar muita insegurança, medo e stress em adultos das mais variadas idades. Segundo Silva e Oliveira (2019) é comum a manifestação psicológica expressa por medo da dor e fobia do ambiente cirúrgico hospitalar, relacionada à reação de ajustamento.
Pacientes pediátricos no ambiente cirúrgico
Se em adultos, podemos identificar estas manifestações psicológicas tão claramente, é possível imaginar como este processo pode ser marcante para uma criança, afinal são situações que fogem do controle dos pequenos em um ambiente novo, por vezes assustador e em que eles são separados dos únicos rostos familiares: os dos pais.
Sem dúvida a preparação psicológica pré-operatória é fundamental para que a criança tenha algum nível de controle sobre o desconhecido representado pelo ambiente cirúrgico, entretanto esse preparo por parte da família nem sempre é possível ou eficaz, já que o familiar também possui medos expressos no ato cirúrgico ao qual seu filho/a será submetido. (BROERING e CREPALDI, 2018).
Como então podemos transformar a vivência da criança e do familiar no ambiente cirúrgico hospitalar? As estratégias de preparação para cirurgia do paciente pediátrico devem ser pensadas não somente visando o intra-operatório, mas, como citado por Broering e Crelapdi (2021) deve ser considerado o pós-cirúrgico bem como a importância que esta experiência pode ter no desenvolvimento infantil.
Saiba mais: Bronquiolite viral aguda: O que o enfermeiro deve saber?
Iniciativas para melhorar a experiência
Há muito se fala em como a brincadeira é um processo no qual a criança desenvolve suas percepções, inteligência e sua tendência à experimentação, uma vez que o lúdico é capaz de extrapolar a infância permeando todo o desenvolvimento humano. (SILVA e MEIRELLES, 2009).
Segundo Broering e Crelapdi (2021) o brincar pode ser usado como ferramenta do processo humanizado onde os pequenos pacientes podem tirar dúvidas, desmistificar medos e se aproximar da equipe de saúde. Para Alves (2020), o processo de humanização começa na comunicação verbal e em como ela deve ser adequada ao seu ouvinte para que seja eficaz, ou seja, é necessário trazer para o ambiente cirúrgico as ferramentas primordiais na comunicação infantil como a brincadeira e a imaginação.
Hoje muitas instituições de saúde com enfoque no paciente pediátrico, possuem ambientes onde as crianças podem brincar até o momento de serem encaminhadas ao centro cirúrgico, salas cirúrgicas com temáticas infantis e até mesmo dispõem de carrinhos elétricos onde os pequeninos são transportados até o setor para serem operados.
Engana-se quem pensa que somente os grandes investimentos são capazes de tornar a experiência dos pequenos clientes mais leve e divertida. Utilizando uma boa dose de empatia, boas ideias e imaginação, podemos ser agentes de transformação na assistência perioperatória e proporcionar para o paciente e sua família um ambiente acolhedor, seguro e porque não, fantástico?
Referências bibliográficas:
- ALVES, Alexandre Marques. Atuação do psicólogo na unidade pediátrica em iminência de cirurgia cardíaca. Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.13 no.3 Belo Horizonte set./dez. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.36298/gerais202013e14919.
- BROERING, Camilla Volpato; Crepaldi, Maria Aparecida. Desenhos de Crianças Submetidas a Cirurgias Eletivas. Psicologia Escolar e do Desenvolvimento. Psic.: Teor. e Pesq. 37, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102.3772e37312
- BROERING, Camilla Volpato; Crepaldi, Maria Aparecida. Percepções e informações das mães sobre a cirurgia de seus filhos. Fractal: Revista de Psicologia, v. 30, n. 1, p. 3-11, jan.-abr. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.22409/1984-0292/v30i1/1434.
- SILVA, Damiana Cosmea da; MEIRELLES, Naluzia de Fátima. Humanização da Assistência à criança em Centro Cirúrgico Oncológico. Ver SOBECC, São Paulo, v 14, n1, p. 30-41, jan./mar.2009.
- SILVA. Luciana Santos da; OLIVEIRA, Jeffchandler Belém de. A cirurgia cardíaca e as manifestações psicológicas apresentadas ao doente e a participação multidisciplinar. Asgard artigo. Belém, 2019. Disponível em: https://drjeffchandler.com.br/wp-content/uploads/2021/03/Luciana-Santos-Cirurgias-cardiacas-e-modelo-biopsicossocial.docx-Google-Docs.pdf.