Considerações sobre a determinação laboratorial do Paratormônio (PTH)

O paratormônio (PTH) desempenha um papel fundamental na homeostase mineral e no metabolismo ósseo do organismo.

O Paratormônio (PTH), também conhecido como Hormônio da Paratireoide, é um polipeptídeo de cadeia simples, sintetizado nas glândulas paratireoides como um precursor de 115 aminoácidos (pré-pró-PTH). Esse precursor sofre duas clivagens proteolíticas na paratireoide, até chegar na sua forma biologicamente ativa, de 84 aminoácidos (1-84).

Após sua síntese, o PTH 1-84 é armazenado na glândula e, notadamente sob o estímulo de baixas concentrações de cálcio iônico plasmático e alguns outros fatores, é secretado, por exocitose, pelas células principais da paratireoide na corrente sanguínea.

Algumas de suas principais indicações clínicas se concentram na investigação, diagnóstico diferencial e monitorização de hiper ou hipocalcemias, distúrbios da paratireoide, e da osteodistrofia renal, além da avaliação intraoperatória (ex.: ressecção de adenoma de paratireoide).

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Considerações sobre a determinação laboratorial do Paratormônio (PTH)

Aspectos laboratoriais

A determinação e interpretação laboratorial do PTH não é uma tarefa simples. Além da fração biologicamente ativa (PTH 1-84), outros fragmentos do hormônio (ex.: C-terminal, N-terminal), provenientes da degradação intra e/ou extraglandular do PTH, também são encontrados na circulação, o que pode levar a reações cruzadas em alguns tipos de ensaios.

O PTH e seus fragmentos apresentam metabolização renal e hepática. O fragmento C-terminal, por exemplo, é mais dependente da eliminação renal, o que faz com que pacientes com comprometimento importante da função renal tenham uma concentração bem mais elevada dessa fração no sangue. A meia-vida da sua forma ativa (1-84) é de apenas 2 a 4 minutos, enquanto que, para fins comparativos, a do C-terminal pode chegar a ser até 10 vezes maior.

Ensaios disponíveis em nosso meio

Os testes inicialmente desenvolvidos para a determinação do PTH, também chamados de primeira geração, eram baseados em técnicas de radioimunoensaio. Eles apresentavam uma sensibilidade insatisfatória, sendo específicos para a detecção da porção C-terminal. Dessa forma, possuíam uma utilidade clínica limitada, vindo a serem amplamente substituídos pelos ensaios imunométricos nas últimas décadas.

Posteriormente, uma segunda geração de ensaios foi lançada no mercado (sendo até hoje os mais disponíveis comercialmente), através de metodologias imunométricas de dois locais, conhecidos como “PTH intacto”. Esses testes possibilitaram a avaliação laboratorial do PTH com uma maior rapidez e simplicidade, adicionando ainda um melhor desempenho analítico (maior sensibilidade e especificidade) quando comparados aos de primeira geração.

Entretanto, esses kits para a determinação do PTH intacto também são passíveis de interferência analítica, em maior ou menor grau (a depender do kit diagnóstico utilizado), de fragmentos inativos do hormônio, principalmente os N-terminais truncados (PTH 7-84).

Mais recentemente, a indústria diagnóstica desenvolveu os testes terceira geração, também por técnicas imunométricas, chamados de “PTH (1-84) bioativo”. Esses ensaios, além de proporcionarem uma melhor estabilidade pré-analítica da amostra, prometem detectar apenas a forma biologicamente ativa do hormônio (PTH 1-84), sem sofrer interferências do fragmento (7-84). Dessa forma, esses kits podem acrescentar informações importantes em alguns grupos de pacientes (ex.: insuficiência renal, hiperparatireoidismo primário, monitorização intraoperatória).

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Limitações gerais

Até o momento, não existe um método de referência para a dosagem do PTH, além de diferenças entre os calibradores utilizados, e da possibilidade de reações cruzadas (em diferentes graus) com formas e fragmentos do PTH (ex.: C-terminal, N-terminal, PTH oxidado, PTH 7-84, etc.).

Adicionalmente, também existe uma grande diferença entre os valores de referência fornecidos nas bulas dos ensaios dos fabricantes, com poucas informações sobre as populações em que os estudos para a determinação dos valores de referência foram baseados (ex.: indivíduos sem e com insuficiência renal, hiper/hipoparatireoidismo, níveis séricos de cálcio, fósforo, vitamina D).

Isso faz com que haja uma grande variabilidade interensaios e, por conseguinte, aumente a dificuldade de se comparar os resultados obtidos entre os diferentes kits e fabricantes, mesmo quando utilizados os ensaios de geração equivalente.

Mensagem final

O PTH é um importante hormônio do organismo, possuindo várias implicações e utilidades clínicas. Suas concentrações são melhor interpretadas quando em conjunto com a clínica do paciente, exame físico, função renal e resultado de outros exames complementares, como cálcio, fósforo e vitamina D.

Existem diversos kits diagnósticos comercialmente disponíveis para a determinação laboratorial do PTH, cada um com suas vantagens e limitações. Devido à grande variabilidade que pode existir entre os diferentes tipos de ensaios/fabricantes, é fundamental que os médicos assistentes conheçam as principais características do ensaio no qual o PTH foi determinado, estando, pois, em contato próximo e permanente com o Laboratório Clínico.

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