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Em recente comentário publicado em 06 de julho de 2020 no jornal Clinical Infectious Diseases, os pesquisadores Lidia Morawska e Donald Milton fazem um apelo à comunidade médica e a órgãos nacionais e internacionais relevantes para que reconheçam o potencial de propagação aérea da Covid-19.
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Potencial de transmissão
De acordo com os pesquisadores, existe um potencial significativo de exposição ao vírus por inalação de gotículas respiratórias microscópicas a distâncias curtas a médias. Morawska e Milton citam estudos que demonstraram que os vírus são liberados durante a expiração, a fala e a tosse em microgotículas pequenas o suficiente para permanecerem no ar. Dessa forma, há risco de exposição a distâncias superiores a 1 a 2 m de um indivíduo infectado.
Os pesquisadores também mencionaram que vários estudos retrospectivos conduzidos após a epidemia de SARS-CoV-1 constataram que a transmissão aérea era o mecanismo mais provável que explica, por exemplo, o padrão espacial das infecções. A análise retrospectiva mostrou o mesmo para o SARS-CoV-2. Por fim, muitos estudos realizados sobre a disseminação de outros vírus, incluindo vírus sincicial respiratório, coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e gripe, mostram que vírus viáveis podem ser exalados e/ou detectados no ambiente indoor de pacientes infectados. Isso representa o risco para as pessoas que compartilham esses ambientes, pois elas podem inalar potencialmente esses vírus, resultando em infecção e doença.
Dessa forma, existem todos os motivos para se esperar que o SARS-CoV-2 se comporte de maneira semelhante. E assim, que a transmissão via micropartículas transportadas pelo ar seja um caminho importante.
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A orientação atual de vários órgãos nacionais e internacionais se concentra na lavagem das mãos, na manutenção do distanciamento social e nas precauções contra gotículas. No entanto, os autores do artigo destacam que a maioria das organizações de saúde pública, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não reconhecem a transmissão pelo ar. Exceto pelos procedimentos de geração de aerossóis realizados em ambientes de saúde.
Para Morawska e Milton, a lavagem das mãos e o distanciamento social são apropriados, mas insuficientes para fornecer proteção contra micropartículas respiratórias portadoras de vírus liberadas no ar por pessoas infectadas. Esse problema é especialmente agudo em ambientes fechados, particularmente lotados e com ventilação inadequada em relação ao número de ocupantes e períodos de exposição prolongados.
Os pesquisadores sugerem que medidas para mitigar o risco de transmissão aérea incluem:
- Fornecer ventilação suficiente e eficaz (minimizando recirculação de ar, por exemplo), particularmente em edifícios públicos, ambientes de trabalho, escolas, hospitais e casas de repouso;
- Suplementar a ventilação geral com controles de infecção aérea, como exaustão local, filtragem de ar de alta eficiência e luzes ultravioletas germicidas;
- Evitar superlotação, principalmente em transporte público e prédios públicos.
Morawska e Milton destacam a preocupação com que a falta de reconhecimento do risco de transmissão aérea da Covid-19 e a falta de recomendações claras sobre as medidas de controle contra o vírus transmitido pelo ar tenham consequências significativas: as pessoas podem pensar que estão totalmente protegidas, aderindo às recomendações atuais mas, de fato, são necessárias intervenções aéreas adicionais para reduzir ainda mais o risco de infecção. Esse assunto é de maior importância agora, quando os países estão reabrindo após os bloqueios, levando as pessoas de volta aos locais de trabalho e os alunos de volta às escolas, faculdades e universidades. Os pesquisadores esperam que essa declaração conscientize que a transmissão aérea da Covid-19 é um risco real e que medidas de controle, conforme descritas acima, devem ser adicionadas às outras precauções tomadas, para reduzir a gravidade da pandemia.
No momento, a OMS está preparando um resumo científico para abordar as evidências continuamente emergentes sobre a transmissão da Covid-19.
Autor(a):
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências bibliográficas
- Morawska L, Milton DK. It is Time to Address Airborne Transmission of Covid-19 [published online ahead of print, 2020 Jul 6]. Clin Infect Dis. 2020;ciaa939. doi:10.1093/cid/ciaa939
- McNamara D. WHO Plans to Address Airborne Covid-19 Transmission. 2020. Medscape website. Disponível: https://www.medscape.com/viewarticle/933544 Acesso 12/07/2020