Depressão aumenta o risco de TVP/TEP; saiba como

Transtornos como depressão e ansiedade têm sido associados a maior risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus e até cânceres.

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Quando o assunto é Medicina baseada em evidências, é comum encontrarmos associações inusitadas entre doenças e seus fatores de risco. Porém, o impacto de transtornos mentais na saúde física ainda é pouco conhecido.

Transtornos como depressão e ansiedade têm sido associados a maior risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus e até cânceres. Porém, uma metanálise britânica publicada em Julho/2018 demonstrou algo mais inusitado: a depressão por si só aumenta o risco de tromboembolismo. O uso de antidepressivos também se mostrou um fator de risco independente.

A pesquisa envolveu oito estudos observacionais envolvendo depressão, uso de antidepressivos, ou ambos em relação ao risco de TEP. O número de sujeitos da pesquisa totalizou 960.113.

Claro que, para tirar tais conclusões, é importante excluir outros fatores de risco associados. Como a depressão também é fator de risco para síndrome metabólica e maus hábitos de vida (e esses, por sua vez, para o TEP), os estudos ajustaram suas variáveis para fatores como idade, IMC, tabagismo e comorbidades associadas.

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O resultado geral foi de um risco relativo (RR) de 1,27 para pacientes em uso de antidepressivos e um RR de 1,31 para aqueles em depressão sem tratamento.

O RR para o uso de antidepressivos foi o mesmo independentemente da classe do medicamento usado. O risco também varia de acordo com o sexo, porém sem um padrão bem estabelecido. O RR de mulheres com depressão, por exemplo, foi de 1,21, enquanto o de homens com depressão foi de 1,65.

Além disso, um dos estudos (realizado apenas com mulheres) observou que não existe um RR significativamente elevado em pacientes com depressão tratados de forma não-medicamentosa.

depressão

Fisiopatologia

Os mecanismos para essa associação não são tão claros. Pacientes com depressão tendem a ter estilos de vida com potenciais riscos, como o sedentarismo, tendência à obesidade e ao tabagismo. Além disso, um estado pró-inflamatório sistêmico tem sido associado com a depressão, o que também é um fator de risco para TVP/TEP.

Em outros estudos, já foi observado que pacientes deprimidos têm ativação plaquetária e atividade pró-coagulante exacerbada. Outros demonstram relação entre depressão e hiper-homocisteinemia. Já o mecanismo para o uso de antidepressivos é mais incerto, ainda mais considerando que seu uso tem sido classicamente associado mais a sangramentos que a trombose.

A fisiopatologia proposta reúne alterações da agregação plaquetária (especialmente através de interferência nos níveis séricos de serotonina), presença de anticorpos anticardiolipina e a maior tendência à estase venosa pela sedação relativa que ocorre como efeito colateral.

Como interpretar os resultados?

É importante ressaltar que essa é uma das primeiras metanálises para essa associação e que muita pesquisa ainda é necessária para que os dados sejam mais consistentes. Além disso, os estudos envolvidos são principalmente transversais. Logo, podemos presumir a associação entre depressão/antidepressivos e TVP/TEP, mas não relação de causa-efeito.

Não temos informações suficientes para afirmar que devemos suspender antidepressivos de uma paciente com história de TVP, por exemplo. Porém, é importante termos em mente essa associação para que possamos estar atentos à depressão e uso de antidepressivos como potenciais fatores de risco, caso esses pacientes apresentem suspeita clínica de TVP/TEP.

Ou seja, a análise caso a caso continua essencial.

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Referências:

  • MELVILLE, Nancy, A. Antidepressants, Depression Tied to Increased Thromboembolism Risk. 2018. Via Medscape. Disponível em: <https://www.medscape.com/viewarticle/899903#vp_3>. Acesso em: 19 mar. 19.

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