Desfechos neurológicos da oferta precoce de aminoácidos a prematuros extremos

Um grupo de pesquisa australiano analisou a resposta à suplementação com aminoácidos parenterais em bebês prematuros.

A prematuridade é um fator de risco importante em diversas comorbidades do período neonatal, estando fortemente associada ao baixo peso ao nascer. Nos prematuros extremos, aqueles nascidos com idade gestacional (IG) abaixo de 28 semanas esse impacto é ainda mais considerável. O aporte de nutrientes intraútero para o feto é interrompido de forma crítica e abrupta quando nesses pacientes repercutindo no desenvolvimento de múltiplos órgãos, dentre eles o sistema nervoso central, podendo afetar funções cognitivas.  

Hoje, algumas alternativas terapêuticas tentam simular esse aporte intra útero no pós-nascimento dessas crianças prematuras extremas, manejando nutricionalmente através da oferta de micro e macronutrientes, com objetivo de melhorar as taxas de crescimento e desenvolvimento saudável. 

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Nesse contexto, com objetivo de avaliar a resposta à suplementação com aminoácidos parenterais em bebês com extremo baixo peso ao nascer e prematuros em relação ao desfecho neurológico, um grupo de estudiosos da Austrália realizou um trabalho com esse para relevante.

hipertensão arterial pulmonar associada à broncodisplasia em RNs prematuros extremos

Estudo

Sendo esse um estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, no qual bebês com peso ao nascer inferior a 1.000 g em oito unidades de terapia intensiva neonatal  (UTIN)  para receber suplementação com aminoácidos na dose de 1 g por dia, no grupo intervenção ou placebo em adição à nutrição usual nos primeiros cinco dias após o nascimento.  

O desfecho primário foi a sobrevida livre de neuroincapacidade avaliada com as Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil, umas das escalas mais conceituadas para avaliação do neurodesenvolvimento, associada ao  exame neurológico aos 2 anos de idade corrigida. Demais desfechos como presença ou ausência de distúrbios neonatais, a taxa de crescimento e ingestão nutricional também foram avaliados.  

Após essa intervenção pontual nos primeiros  cinco dias de vida e posterior avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), o resultados obtidos foram: 

  • Um total 434 lactentes participaram do estudo  (217 por grupo) neste estudo. 
  • A sobrevivência livre de neurodeficiência: 
  • Foi observada em 97 de 203 crianças (47,8%) no grupo de intervenção e em 102 de 205 (49,8%) no grupo placebo (risco relativo ajustado, 0,95; intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,79 a 1,14 ; P=0,56), sem diferença estatisticamente significativa;
  • Morte antes da idade de 2 anos: 
  • Presente em 39 de 217 crianças (18,0%) no grupo de intervenção e 42 de 217 (19,4%) no grupo de placebo (risco relativo ajustado, 0,93; 95% CI, 0,63 a 1,36);  
  • Presença de neurodeficiência: 
  • Ocorreu em 67 de 164 crianças (40,9%) no grupo de intervenção e 61 de 163 (37,4%) no grupo de placebo (risco relativo ajustado, 1,16; IC 95%, 0,90 a 1,50). 
  • A neurodeficiência foi moderada a grave em 27 crianças (16,5%) no grupo de intervenção e 14 (8,6%) no grupo placebo (risco relativo ajustado, 1,95; IC 95%, 1,09 a 3,48). 
  • Alterações cardiovasculares: 
  • A persistência do canal arterial foi mais encontrada em crianças do grupo de intervenção do que no grupo placebo (risco relativo ajustado, 1,65; IC 95%, 1,11 a 2,46).  
  • Alterações nutricionais: 
  • A síndrome de realimentação ocorreu em 42 das 172 crianças no grupo de intervenção e 26 de 166 no grupo de placebo (risco relativo ajustado, 1,64; IC 95%, 1,09 a 2,47).

Diante dos resultados expostos, foi evidenciado que a suplementação de aminoácidos parenterais em recém nascidos prematuros extremos, de forma isolada,  não resulta em melhor desfecho neurológico aos dois anos de vida.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bloomfield FH, Jiang Y, Harding JE, Crowther CA, Cormack BE; ProVIDe Trial Group. Early Amino Acids in Extremely Preterm Infants and Neurodisability at 2 Years. N Engl J Med. 2022 Nov 3;387(18):1661-1672. doi: 10.1056/NEJMoa2204886. PMID: 36322845.

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