Dia Mundial do Rim: pontos importantes no manejo da DRC

Um desafio na vida do nefrologista é encontrar uma forma de iniciar o manejo dos casos de nefropatia em momento mais precoce da DRC.

Um grande desafio na vida cotidiana do nefrologista é encontrar uma forma de iniciar o manejo dos casos de nefropatia em momento mais precoce da doença renal crônica (DRC). A maioria dos pacientes não apresenta sintomas relacionados a disfunção renal até estarem em estágio avançado o que nos deixa com a sensação de que aquele paciente poderia ter percorrido um caminho renal distinto, caso tivesse sido reconhecido o problema mais precocemente.

Há 17 anos foi criado o Dia Mundial do Rim pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) junto a International Federation of Kidney Foundations (IFKF). Este dia é celebrado na segunda quinta-feira de Março, anualmente, e tem o objetivo de conscientizar sobre a saúde dos rins, com um tema específico a cada ano. Em 2022 a campanha é “saúde dos rins para todos: educando sobre a doença renal”.

O tema foi escolhido exatamente para conscientizar os profissionais de saúde em geral, especialmente porque o início da piora da função renal raramente ocorre quando o paciente está nas mãos do nefrologista e sim dos médicos da atenção primária, cardiologistas, endocrinologistas, geriatras dentro outros. Estas especialidades comumente acompanham os pacientes com hipertensão arterial sistêmica e diabetes, que são as principais causas de DRC estágio terminal (no Brasil, exatamente 62% dos mais de 145000 pacientes em diálise, pelo censo de diálise de 2021).

Ouça agora: Como rastrear a doença renal crônica (DRC)? [podcast]

Desta forma, nada mais justo do que aproveitar a data simbólica e contribuir com a campanha, ajudando na educação médica necessária para diminuir o impacto das nefropatias. Importante lembrar que 10% da população apresenta alguma doença renal e até 2040 a estimativa é que a DRC seja a 5a principal causa de óbito no mundo! Escolhemos 5 (poderiam ser 50…rs) pontos importantes a serem lembrados:

    • Uma creatinina sérica dentro dos valores de referência não significa ausência de doença renal. Devemos sempre calcular a taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) através da fórmula de escolha – CKD-EPI – e avaliar a presença de albuminúria para uma avaliação mínima adequada da função renal. Lembrando que consideramos normal quando > 60 mL/min/1,73m2 e albuminúria < 30 mg/g (de creatinina urinária). Em jovens, valores < 75 mL/min/1,73m2 já usualmente representa doença. Diversas doenças tem indicação de acompanhamento frequente (em geral anual) da função renal, como diabetes e hipertensão.
    • A doença renal do diabetes (principal causa de nefropatia no mundo) dispõe de uma excelente novidade no seu tratamento, com a descoberta nos últimos anos da capacidade de retardo da progressão da doença com o uso dos inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (iSGLT2), que se soma ao clássico bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona, e o qual está indicado para todos os pacientes diabéticos com DRC (por albuminúria ou TFGe).
    • O uso de anti-inflamatórios não hormonais é um importante nefrotóxico de fácil acesso a população e o qual deve ter seu uso indiscriminado evitado em pacientes que já apresentem TFGe < 60 mL/min/1,73m2 ou com fatores de risco para lesão renal aguda, como idosos, cardiopatas ou com risco de desidratação.
    • A presença de hematúria e leucocitúria na amostra de urina isolada não significa sempre que estamos diante de uma Infecção Urinária. Um amplo grupo de doenças, as glomerulopatias, representam diagnóstico diferencial destes achados e deve ser lembrado, sendo a terceira causa de DRC estágio terminal e que usualmente acomete jovens. Não esqueça de não desprezar a presença de proteinúria!
    • O uso de contraste iodado no paciente portador de DRC clinicamente estável oferece baixo risco de lesão renal persistente e não deve ser contraindicado sem uma ponderação entre o risco de efeito colateral e os malefícios associados a não realização do procedimento (como em um paciente com suspeita de coronariopatia ou de TEP, por exemplo).

        Coautor:

Gabriel Montezuma
Editor do @nefropapers ⦁ Residência de Nefrologia na Escola Paulista de Medicina/UNIFESP ⦁ Nefrologista assistente da Escola Paulista de medicina/UNIFESP
⦁ Nefrologista assistente do Hospital das Clínicas da FMUSP

 

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