No último dia 15 de março, tivemos o Dia Mundial do Sono. Nesta última segunda-feira várias ações foram realizadas no mundo para discutir um grave problema psicossocial, os distúrbios do sono. Além disso, a data pretende promover discussões de cuidado em torno da temática. Sabemos que o mundo contemporâneo, o excesso de atividades e as vulnerabilidades psicossociais geram comprometimento no sono. A ansiedade que atinge grande parte da população também é um dos influenciadores desse problema que afeta muito a qualidade de vida das pessoas.
Dentre diversos problemas relacionados ao sono, Barros et.al. (2019), nos revela que pesquisas mostram que a baixa qualidade do sono pode gerar altas taxas de mortalidade e o aumento na prevalência de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, ansiedade, depressão, síndromes metabólicas etc. Ainda nos mostra que a qualidade do sono é uma dimensão importante, que proporciona bem-estar físico e mental, por ser uma das necessidades básicas de vida. Além disso, outros impactos relativos a processos inflamatórios e metabólicos podem ocorrer.
Distúrbios do sono
A necessidade do sono é individual, mas estudos mostram que a privação do sono gera alteração do comportamento. A média de sono na coletividade é de aproximadamente sete a oito horas por dia. Geralmente a população dorme menos por causa das atividades pessoais, ou mesmo por causa de distúrbios do sono. Os motivos da falta de sono são diversos. O trabalho e a produção estão relacionados a esse processo, conforme nos mostra Santos-Coelho (2020):
“Não é incomum aumentarmos a nossa produtividade na sociedade moderna à custa da privação do sono (PS). Entretanto a PS leva a um declínio das funções cognitivas, com pioras da qualidade de vida e da produtividade. Dormir é essencial para o ser humano.”
Conquanto os problemas físicos decorrentes da falta do sono sejam muitos, os maiores acontecem na área psíquica. Emoções, comportamento e cognição são afetados quando o sono não se encontra em atividade regular. Compreender alguns sinais e sintomas relacionados a essas áreas é de fundamental importância para a realização de cuidado e para o cuidar de si. Lembramos que este é um problema de muitos profissionais da saúde. Os profissionais da enfermagem são um dos profissionais mais afetados, visto o caráter de seu trabalho e por ser profissão de cuidado ininterrupto. Santos-Coelho (2020) ainda nos ajuda a compreender algumas alterações na área das emoções, do comportamento e da cognição, como podemos ver a seguir:
EMOÇÕES | COMPORTAMENTO | COGNIÇÃO |
Irritabilidade | Aumento de agressões | Amnésia temporária |
Ansiedade | Aumento no uso de álcool | Dificulta tomada de decisão |
Depressão | Aumento no uso de drogas | Dificulta execução de movimentos |
Desorientação espacial | Diminuição de atividades físicas | Dificulta fluidez verbal |
Desorientação temporal | Distúrbios alimentares | Dificulta o processamento de informações |
Fadiga muscular | Agitação | Dificulta o raciocínio lógico, gerando acalculia |
Anedonia | Acatisia | Dificulta concentração e interação social |
Reatividade negativa | Dificuldade de aprendizagem | Problemas na fala e na escrita |
(Elaborado pelo autor)
Os sinais e sintomas relacionados ao sono podem ser diversos conforme visto anteriormente. É importante saber que a multiplicidade de sinais e sintomas podem gerar transtornos mentais e outros relacionados ao sono. O padrão de sono, logo se relaciona com o padrão de saúde e assim, com a qualidade de vida das pessoas na sociedade. O sono possui duas principais fases ou estados, sendo eles o rapid eye movement (REM) e non-rapid eye movement (NREM). Os ciclos do sono são organizados durante um período de sono. Zanuto et.al. (2015, p.43), revela que: “Os distúrbios que afetam esses dois estados podem acarretar piora na qualidade de vida e instalação, a longo prazo, de diversas doenças de ordem metabólica e cardiovascular”.
Entre os distúrbios mais comuns do sono, temos:
Insônia: podemos considerar uma dificuldade para dormir, que atinge em média uma a cada três pessoas no mundo. Possui relação direta com o cansaço e com a dificuldade de conseguir o descanso necessário.
Roncos: a protrusão de língua sobre a garganta pode bloquear o ar e diminuir a entrada de ar, necessitando do esforço. Pode ser comum em pessoas obesas ou com grande circunferência abdominal. Posições laterais e elevação da cabeça podem diminuir o problema.
Apneia: é a parada da respiração por alguns instantes, pode em casos graves ser por alguns minutos. Está associado ao ronco prolongado e sonoro. Pode acontecer várias vezes durante o sono.
Bruxismo: ranger dentes de maneira inconsciente. O problema pode estar associado a parte dental-oral, ou nervoso. Pode estar relacionado a níveis altos de estresse. Exercícios de abertura do maxilar podem diminuir o problema.
Sonambulismo: A pessoa pode falar e caminhar e está em estado profundo de sonolência. Possui causa genética e afeta muitas crianças. O cuidado com a pessoa que sofre com esse mal deve ser grande no período noturno.
Narcolepsia: sonolência excessiva. A pessoa costuma dormir em qualquer lugar. Devemos investigar diversas causas, inclusive as físicas e fisiológicas.
É importante que possamos prevenir esses problemas relacionados ao sono, principalmente em tempos de pandemia, onde para além dos distúrbios de sono clássicos, ainda temos problemas diversos relacionados ao sono em relação as modificações dos hábitos de vida e por causa do isolamento social, fenômeno que muda a rotina do sono da maioria das pessoas. Os problemas do sono relacionados a pandemia se inclinam aos problemas de doença mental. Ansiedade e depressão estão entre as doenças mais prevalentes ligadas aos distúrbios do sono.
Vamos conhecer possibilidades de cuidado relacionado aos distúrbios do sono:
-
- Manter um ambiente propício para o sono. Pouco iluminado e com silêncio que pode contribuir para a diminuição de estímulos externos;
- A prática de exercícios físico por pelo menos vinte minutos pode melhorar a qualidade do sono;
- Evitar o uso de estimulantes ou alimentos que possuam substâncias estimulantes, como café, refrigerante, açúcar, taurina etc.;
- Evitar álcool, tabaco e outras drogas, principalmente aquelas que possuem efeitos estimulantes, o uso pode causar um desequilíbrio natural do sono;
- Evitar dormir mais do que o necessário em momentos que não são aqueles escolhidos e necessários. Relacionar com as funções do trabalho;
- Ter hábitos alimentares saudáveis. O excesso de peso e a pouca nutrição pode causar alteração no sono;
- Não leve os problemas para o momento do sono. É preciso estar bem mentalmente, para que haja qualidade no sono;
- Relaxar é uma boa medida. Ouvir uma música calma pode ajudar a induzir o sono;
- Valorize e crie um ritual de sono. Este é importante para diminuir os estímulos cerebrais que podem se barreiras para o sono;
- Atentar-se aos tipos de colchão, travesseiros, temperatura e postura para o descanso.
O sono é parte essencial da vida. Os profissionais de saúde sofrem muito com a falta de sono, principalmente nesse momento que estamos vivendo. Por isso, é importante compreender as questões relativas ao sono e aos sinais e sintomas dos possíveis distúrbios. Lembrem-se, as medidas podem ser preventivas. As alterações do sono, na maioria das vezes acontecem de forma progressiva. Pode ser de forma abrupta, caso haja algum tipo de estresse pós-traumático. Por isso, é importante atenção na alteração do sono. Casos especiais devem ser avaliados, como o sono do bebê, das crianças, dos adolescentes, dos adultos, dos idosos. Além disso, precisamos compreender só sinais que podem alertar a complicação dos quadros de distúrbios do sono.
Durma bem. Você precisa descansar para que possa ter qualidade de vida. Se tiver na posição de profissional, sempre avalie o sono dos usuários do serviço. Este movimento é importante para a qualidade de vida das pessoas e evita doenças mentais associativas. Procure profissionais especializados, caso compreenda que o fenômeno possui gravidade. Lembre-se a importância do sono deve ser tratado de maneira educacional, uma vez que sua ausência pode gerar adoecimento.
Referências bibliográficas:
- Barros, M. B. de A, et.al. Qualidade do sono, saúde e bem-estar em estudo de base populacional. Revista de Saúde Pública, 53, 82. Epub September 30, 2019. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2019053001067
- Santos-Coelho FM. Impacto da privação de sono sobre cérebro, comportamento e emoções. Med Int Méx. 2020;36(Supl. 1):S17-S19. http://doi.org/10.24245/mim. v36id.3777
- Zanuto, E.A.C. et.al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev. Bras Epidemiol jan-mar; vol.18,n.1, pág. 42-53, 2015.