Em 1975, um comitê do National Institutes of Health dos Estados Unidos discutiram as questões relativas à classificação e diagnóstico de doenças cerebrovasculares. Em suas considerações havia os ataques isquêmicos cerebrais focais transitórios sobre os quais o comitê descreveu:
“Estes são episódios de comprometimento cerebral temporário e focal de origem vascular, de início rápido, geralmente durando de 2 a 15 minutos, mas ocasionalmente até um dia (24 horas).”
Esses episódios foram chamados de AITs (acidente isquêmico transitório), e a duração máxima foi arbitrariamente fixada em 24 horas. Esta definição foi construída para fornecer uma base comum para distinguir pacientes que provavelmente estavam apresentando um acidente vascular cerebral isquêmico dos que provavelmente não apresentavam um infarto cerebral subjacente.
Como a ressonância magnética (RM) foi usada com mais frequência na década de 1990, ficou claro que muitos pacientes que apresentavam um ataque isquêmico transitório tinham evidências de infarto na imagem cerebral.
Consequentemente, um grupo de neurovasculares se reuniu para considerar e então propor uma nova definição de AIT que foi publicada em 2002.
Estudos
Os novos estudos de imagem deixaram claro que a definição tradicional de ataque isquêmico transitório baseada no tempo não estava diferenciando um grupo de indivíduos sem lesão cerebral permanente, como originalmente era pretendido. Além disso, não há nada específico sobre a duração do sintoma de 24 horas, ou seis horas, ou uma hora, ou cinco minutos em relação ao prognóstico.
O grupo propôs uma nova definição baseada em comprometimento tecidual, em vez de baseada em tempo. Lamentavelmente, a inclusão da duração de uma hora persistiu como resquício da definição tradicional baseada no tempo.
Em 2009, o Conselho de AVC da American Heart Association/American Stroke Association emitiu uma declaração científica para profissionais de saúde intitulada “Definição e avaliação de ataque isquêmico transitório”.
“Trata-se de um episódio transitório de déficit neurológico causado por isquemia focal do cérebro, medula espinhal ou retina, sem infarto agudo”.
Como os eventos isquêmicos envolvendo a medula espinhal são incomuns e geralmente não são considerados acidentes vasculares cerebrais, esses episódios poderiam facilmente ter sido omitidos da definição. No entanto, nesta declaração, o tempo não foi mais mencionado.
Os avanços na neuroimagem tornaram insustentável a visão de que a isquemia cerebral suficiente para causar sintomas transitórios muitas vezes não produz nenhuma lesão cerebral. Se o cérebro for avaliado com tomografia computadorizada após um evento isquêmico, alguns infartos podem ser visíveis. Se o mesmo cérebro for avaliado com ressonância magnética a 0,15 Tesla (T), mais infartos podem ser aparentes. A 1,5 T e depois a 3 T, é provável que ainda mais infartos sejam visualizados, mesmo entre pacientes com sintomas e sinais clínicos transitórios.
Atualmente, aparelhos de 7 T e até 11 T estão disponíveis, e novos métodos altamente sensíveis para identificar infarto cerebral estão em desenvolvimento. Além disso, estudos histopatológicos mostraram que, mesmo quando não ocorre um infarto tecidual franco, ocorre comprometimento neuronal.
Em suma, segundo Donald e col. AITs são acidentes vasculares cerebrais isquêmicos menores e a definição atual parece ser inapropriada. Em vez disso, segundo o autor, é hora de adotar o termo síndrome cerebrovascular isquêmica aguda e retirar o termo AIT .
Referências bibliográficas:
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Easton JD, Johnston SC. Time to Retire the Concept of Transient Ischemic Attack. JAMA. 2022;327(9):813–814. doi:10.1001/jama.2022.0300