Efeito da infusão contínua de salina hipertônica em pacientes neurocríticos

A literatura científica possui diversas formas de tratamento para pacientes neurocríticos. Veja mais aqui no Portal PEBMED.

O manejo de emergência do edema cerebral e da hipertensão intracraniana é um problema comum em pacientes com lesão encefálica. Na prática clínica, faltam orientações adequadas sobre escolhas e monitoramento de terapias para o manejo inicial do edema cerebral para eficácia e segurança ideais (1, 2).  

O edema cerebral pode ser secundário à ruptura da barreira hematoencefálica, inflamação local, alteração vascular ou metabolismo celular alterado, sendo consequências que geralmente estão correlacionadas ao traumatismo cranioencefálico. Saber a mensuração desse inchaço depende, principalmente, do monitoramento de pressão intracraniana (PIC), sendo o principal contribuinte para o aumento da PIC, levando a hipertensão intracraniana(2).  

A literatura científica possui diversas formas de tratamento para pacientes neurocríticos, como hiperventilação aguda, modulação da temperatura, descompressão cirúrgica, supressão metabólica e terapia hiperosmolar(1, 2).  

A fluidoterapia é um importante componente do manejo em pacientes com traumatismo cranioencefálico, contudo ainda não são totalmente claros os desfechos clínicos a qual ela se relaciona.

A fluidoterapia 

O manejo cirúrgico e médico do TCE grave tem evoluído significativamente nas últimas décadas, como mostrado pela diminuição da mortalidade. Ainda que a intervenção cirúrgica tenha como objetivo evacuar hematomas extra axiais, o princípio geral do tratamento médico é tratar a pressão intracraniana (PIC) elevada e a diminuição da pressão de perfusão cerebral (PPC). E, para isso, há vários tipos de terapias para isso. Sendo assim, o tratamento hiperosmolar é a primeira linha no tratamento emergente de episódios de elevação de PIC, e em outros cenários como herniação cerebral(1, 3).  

Em suma, a fluidoterapia é um componente importante da prevenção e tratamento de lesões cerebrais secundárias que se desenvolvem rapidamente e amortecem a recuperação neurológica após o trauma(1). 

Entretanto, a terapia hiperosmolar como profilaxia, não é recomendada como resgate em cuidados neurocríticos, já que os dados sobre seus efeitos ainda não foram bem definidos (1, 4). 

O tratamento 

Dentre essa dúvida do real efeito da terapia hiperosmolar, um estudo randomizado francês resolveu analisar ela durante um ensaio de 6 meses de recuperação clínica, demonstrando a ausência de alguma resposta adequada ao uso, durante o manejo dos pacientes. 

Durante a terapia hiperosmolar, ocorre uma interação inevitável entre o efeito do tratamento e o tempo, uma vez que há um rebote do risco de hipertensão intracraniana (HIC), após a descontinuação da intervenção desse fluido salino, além de um aumento sérico de sódio (1, 2). Entretanto, é compreensível a conduta pré hospitalar de usar a salina para tratamento agudo, todavia, ainda não existem literaturas suficientes para comprovar qualquer alteração no desfecho neurológico, sendo adequado apenas para o manejo inicial de PIC elevada ou edema cerebral em pacientes com TCE (2).  

Pacientes com traumatismo cranioencefálico, possuem a recomendação de prevenir a hiperosmolaridade, independente da gravidade do trauma. A continuidade do tratamento margeia o risco de rebote, uma vez que o acúmulo intracelular de osmólitos orgânicos no tecido cerebral pode causar um inchaço cerebral durante a tentativa de normalizar o sódio sérico com o gradiente de osmolaridade gerando a entrada livre de água no tecido encefálico (1-3). 

 Ademais, vale ressaltar que o tempo para o corpo atingir a natremia normal sérica deverá ser adequada à evolução do efeito do inchaço cerebral em cada indivíduo, reiterando as preocupações com possíveis complicações que evitam seu uso na prática clínica, tais quais toxicidade renais, alterações neurológicas e eventos tromboembólicos (1).  

Preocupações com a segurança da solução salina hipertônica, incluindo complicações neurológicas, toxicidade renal e eventos tromboembólicos, têm dificultado seu uso na prática clínica. 

Leia também: A importância da fluidoterapia em pacientes hospitalizados: hidratação direcionada

Conclusão 

O tratamento de neurocríticos, principalmente aqueles com TCE, o uso de salina hipertônica 20%, de forma contínua não possui desfecho clínico superior ao manejo padrão conservador. Contudo, ainda faltam estudos suficientemente ricos para poderem comprovar os benefícios dessa infusão contínua como caminho de salvamento dos neurocríticos, os quais ainda possuem melhor resultado com as condutas padrões.  

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Roquilly A, Moyer JD, Huet O, Lasocki S, Cohen B, Dahyot-Fizelier C, et al. Effect of continuous infusion of hypertonic saline vs standard care on 6-month neurological outcomes in patients with traumatic brain injury: the COBI randomized clinical trial. Jama. 2021;325(20):2056-66.
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