A PEBMED, com apoio da Pfizer, trará conteúdos exclusivos sobre o European Society of Cardiology (ESC) 2022, que acontece de 26 a 29 de agosto, em Barcelona. Confira agora as abordagens para tratamento medicamentoso e intervencionista da doença miocárdica isquemia e inovações tecnológicas na ecocardiografia:
A síndrome coronariana crônica é a doença cardíaca mais prevalente no mundo e a maior causa de miocardiopatia com insuficiência cardíaca, proporcionando alta mortalidade e morbidade. Até o presente momento, não há evidência robusta, com grandes trials randomizados, que dê suporte a intervenção coronariana percutânea (ICP) no que tange redução de desfechos clínicos duros para pacientes com insuficiência cardíaca (IC) avançada.
Confira a cobertura completa do ESC 2022
Estudo REVIVED-BCIS2
O estudo controlado REVIVED-BCIS2, randomizado e duplo-cego, buscou avaliar se a combinação de terapia medicamentosa otimizada (TMO) e ICP reduziria morte por todas as causas e hospitalização por IC em comparação à TMO isoladamente. Foram randomizados 700 indivíduos com IC grave (FEVE < ou = 35%), doença coronariana extensa (BCIS-JS > ou = 6) e ICP factível para lesões abrangendo pelo menos 4 segmentos disfuncionantes viáveis (a viabilidade foi avaliada por ressonância, eco estresse ou PET/SPECT). Foram excluídos pacientes com infarto agudo com menos de 4 semanas, IC aguda ou arritmia ventricular sustentada a menos de 72 horas. A avaliação da viabilidade foi feita em 70% por ressonância magnética, a média de idade foi de 75 anos, média de FEVE de 27%, cerca de 88% eram homens, 41% diabéticos e 75% estavam em classe funcional NYHA < III. O desfecho primário foi mortalidade por todas as causas ou insuficiência cardíaca e os desfechos secundários foram: qualidade de vida, melhora da FEVE, revascularização inesperada. A análise foi feita com no mínimo 24 meses de seguimento, média de 3,4 anos. A ICP não reduziu o desfecho primário em relação a TMO (HR 0,99 [IC 95% 0,78-1,27 p 0,96]). Também não teve diferença estatística em relação a FEVE; a qualidade de vida melhorou com a ICP após 6 meses, porém não teve diferença estatística após este período.
Estudo ALL-HEART
Ainda no âmbito da doença isquêmica cardíaca, existem questionamentos sobre a redução do estresse oxidativo e redução de desfechos cardiovasculares. O estudo ALL-HEART (Allopurinol and cardiovascular outcomes in patients with ischaemic heart disease), primeiro grande estudo prospectivo, randomizado com alopurinol, quis determinar se a terapia com alopurinol associada a TMO usual para isquemia melhora desfechos clínicos negativos. Foram randomizados 5215 pacientes, > = 60 anos, com Clearance > 30 ml.min, sem Gota e sem uso de terapia redutora de urato, com média de seguimento 4,8 anos. Pacientes com ClCr 59-30 usaram 300mg/dia de alopurinol e os com ClCr >=60 receberam 600 mg/dia. O desfecho primário foi infarto não-fatal, AVC não fatal ou morte cardiovascular. O alopurinol não melhorou desfechos cardiovasculares comparado ao tratamento habitual de pacientes > 60 anos com doença miocárdica isquêmica em pacientes sem Gota.
Assista: Vídeo-resumo do 1º dia do ESC 2022
Estudo EchoNet-RCT
Mudando um pouco o assunto de doença isquêmica para a avaliação da imagem cardíaca, apresentou-se hoje, também, o estudo EchoNet-RCT (Safety and Efficacy study of artificial intelligence LVFE), que trouxe em pauta a inteligência artificial na cardiologia. A ecocardiografia (ECO) é o método diagnóstico mais utilizado para avaliar imagem e função miocárdicas e, não raro, tem o poder de indicar revascularização cirúrgica se provar disfunção ventricular. Dessa forma, é de fundamental importância que o exame avalie a função ventricular corretamente e, atrelar um software clínico ao aparelho de ECO para fornecer precisão e agilidade torna-se inovador.
O trial EchoNet-RCT é um estudo controlado, randomizado, duplo-cego, de não-inferioridade que visou avaliar a segurança e eficácia do uso da inteligência artificial (IA) na ECO vs a ECO isoladamemente. Foram incluídos 3495 pacientes adultos, randomizados 1:1 para AI vs ECO isolada e avaliados no início e no final do estudo por ecocardiografistas diferentes. O desfecho primário foi resultados de exames com diferença significativa da função ventricular (> 5% de FEVE). Desfechos secundários foram diferença na função ventricular final e inicial feitas pelos cardiologistas e o tempo de acesso a imagem pelo mesmo.
Destaca-se que, na avaliação inicial a ECO isolada, foi visto: 1130 (32,3%) de exames corretos, 1520 (43,4%) imprecisos e 845 (24,2%) incorretos.
O acesso inicial da função ventricular pela AI foi não inferior e foi superior ao da ecocardiografia isolada (-0,97 [IC95% -1,31 a -0,61], p <0,001) . Após a revisão dos exames de forma cegada, os médicos foram menos propensos a erros de avaliação (-0,94 [IC95% -1,34 a -0,54], p < 0,009). Além disso, o tempo de exame pelo cardiologista foi mais curto com a AI (-8 [IC95% -12 a -4], p < 0,009).