A ingestão cáustica em pediatria é um tema de grande desafio para manejo devido às suas diversas possibilidades de complicações como lesão esofágica grave, estenose e fístula, que podem resultar em disfagia e transtornos alimentares.
Gastroenterologista pediátricos do Hospital Bambino Gesù, na Itália, realizaram um estudo com o objetivo de avaliar parâmetros clínicos, laboratoriais e instrumentais de crianças que haviam ingerido soda cáustica, na tentativa de identificar possíveis preditores de piores desfechos. Além disso, também avaliaram os aspectos do exame endoscópico e os dados epidemiológicos e apresentaram os seus resultados no 55th Annual Meeting of European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition (ESPGHAN 2023).
O estudo foi realizado com pacientes pediátricos de forma prospectiva, tendo um registro médico padrão para cada paciente, avaliando dados epidemiológicos e bioquímicos, além da endoscopia digestiva alta (EDA) nos pacientes com história de ingestão cáustica.
Dentre os dados obtidos, destacam-se:
- 167 crianças foram incluídas neste trabalho (média de idade: 49 meses; faixa etária: 10-204 meses);
- 58% ingeriram alcalinos e 31,7% ingeriram ácidos;
- 70,7% das ingestões foram acidentais, 7,2% foram intencionais e 22,2% foram “acidentais-deliberadas”, devido armazenamento inadequado dos produtos;
- Os exames laboratoriais mostraram aumento dos níveis de lactato desidrogenase em 14,7%, aumento da alfa-amilase salivar em 10,9% e leucocitose em 8,5% dos pacientes;
- A EDA foi realizada 46,1% pacientes:
- Um grau variável de lesões da mucosa esofágica (Escore de Zargar 1 a 3);
- Nenhum marcador bioquímico foi significativamente associado à presença de lesões esofágicas;
- O nível sanguíneo de amilase salivar positivo foi relacionado a um risco ligeiramente maior de escore de Zargar positivo;
- Não foram observadas diferenças significativas nos achados endoscópicos entre as crianças com diferentes modalidades de ingestão.
Conclusão
Por fim, cerca de 1⁄4 dos compostos corrosivos ingeridos foram armazenados de forma inadequada, reforçando a importância de não reutilizar recipientes alimentares para armazenamento de tais compostos, especialmente em ambientes onde há crianças.
Os autores consideram que o risco de lesão esofágica foi estritamente relacionado à presença de sintomas na apresentação. Do ponto de vista dos exames laboratoriais, o aumento do nível sanguíneo de amilase salivar pode ajudar na previsão de lesões esofágicas.
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