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Tempo de leitura: 3 minutos.
Experiências adversas na infância (EAI) é uma expressão usada para descrever todos os tipos de abuso, negligência e outras experiências potencialmente traumáticas que ocorrem com indivíduos com menos de 18 anos de idade. As EAI’s incluem negligência, abuso físico ou emocional, abuso doméstico, exposição a uso indevido de substâncias ou a doença mental, separação parental ou divórcio e prisão dos pais.
Entretanto, pouco se sabe sobre quais fatores melhoram os resultados em longo prazo para aqueles expostos a EAI. A prática de atividade física na infância e na adolescência tem mostrado benefícios para a saúde mental, incluindo melhora de sintomas depressivos, do estresse e da autoestima. Acredita-se que os esportes em equipe melhorem a saúde mental devido à sua natureza social e ao apoio social resultante. No entanto, não se sabe se a participação em equipes esportivas no subgrupo de jovens expostos a EAI está associada a melhores resultados em longo prazo na saúde mental.
Saúde Mental e Esporte
Easterlin et al. queriam avaliar, entre adolescentes expostos a EAI, se a participação em equipes esportivas durante a adolescência está associada a melhor saúde mental na vida adulta. Além disso, buscavam saber se a associação entre a participação em esportes coletivos e a saúde mental varia de acordo com o sexo. Por isso, desenvolveram o estudo Association of Team Sports Participation With Long-term Mental Health Outcomes Among Individuals Exposed to Adverse Childhood Experiences, publicado em maio na revista JAMA Pediatrics.
Este estudo utilizou dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health (Add Health) para comparar o surgimento de três diferentes desfechos na saúde no adulto (diagnóstico de depressão, diagnóstico de ansiedade e sintomas depressivos) entre aqueles com EAI’s durante a infância que participaram e não participaram de esportes coletivos durante a adolescência.
Os autores utilizaram dados de pesquisa de segmento 1 (coletados durante o ano letivo de 1994-1995, quando os respondentes estavam entre a 7ª e a 12ª série) para detectar a participação em esportes coletivos durante a adolescência, e os dados do segmento 4 (coletados em 2008, quando os entrevistados tinham entre 24 e 32 anos de idade) para avaliar a saúde mental desses indivíduos já na fase adulta. As covariáveis incluíam dados demográficos, educação dos pais, estrutura familiar, falta de seguro de saúde e características da escola.
Dos 9668 indivíduos incluídos no estudo [4470 homens (50,0%); média de idade, 15,2 (+/-1,75 anos)], 4888 (49,3%) relataram 1 ou mais EAI’s e 2084 (21,3%) relataram 2 ou mais EAI’s. Indivíduos com quaisquer EAI’s tiveram taxas significativamente maiores de problemas de saúde mental na fase adulta do que aqueles que não relataram nenhum EAI (depressão: 19% versus 13%; ansiedade: 14% versus 12%; sintomas depressivos: 24% versus 15%).
Em modelos ajustados, a participação esportiva durante a adolescência foi associada com menor chance de diagnóstico de depressão na fase adulta [odds ratio ajustada (aOR) 0,76 (IC95%, 0,59–0,97)] e ansiedade [aOR 0,70 (IC 95%, 0,56–0,89)] entre aqueles que relatam EAI’s. A análise estratificada por sexo mostrou que a participação em esportes conferiu chances significativamente mais baixas de todos os três desfechos de saúde mental na idade adulta para meninos, mas apenas um para meninas (ansiedade). Ligação escolar, autoestima e sentimento de ser socialmente aceito mediaram entre 16% e 35% da relação entre a participação esportiva e os resultados na saúde mental.
Conclusões do estudo
O estudo concluiu que a participação de adolescentes afetados por EAI’s em esportes coletivos foi associada a melhor saúde mental na fase adulta. A possibilidade de que a participação do adolescente em equipes esportivas possa atenuar parte do risco aumentado de problemas de saúde mental em adultos que sofreram EAI durante a adolescência fornece mais outro motivo para recomendar que crianças e adolescentes participem de esportes coletivos e outras atividades que possam aumentar os sentimentos de conectividade, autoestima e aceitação social.
A presença de EAI não significa que uma criança irá ter complicações. No entanto, experiências positivas podem impedir que as crianças vivenciem adversidades e podem proteger contra muitos dos resultados negativos na saúde física e mental, mesmo após a ocorrência da adversidade.
Autora:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências:
- Centers for disease control and prevention. About Adverse Childhood Experiences. 2019. Disponível em: https://www.cdc.gov/violenceprevention/childabuseandneglect/acestudy/aboutace.html. Acesso em 29 de jun. 2019.
- Easterlin MC, et al. Association of Team Sports Participation With Long-term Mental Health Outcomes Among Individuals Exposed to Adverse Childhood Experiences. JAMA Pediatrics, maio 2019.
- Cowden JD. Might Team Sports Protect Against Effects of Adverse Childhood Experiences? 2019. Disponível em: https://www.jwatch.org/na49363/2019/06/25/might-team-sports-protect-against-effects-adverse. Acesso em 29 de jun. 2019.