Estudo avalia o risco de eventos adversos após revacinação em pacientes com suspeita de alergia à vacina

Pesquisadores do Canadá conduziram um estudo cujo objetivo foi justamente estimar o risco de recorrência de EAPV após a revacinação.

Pacientes que apresentam um evento adverso após imunização (EAPV) podem perder a confiança na segurança da vacina, o que acaba reduzindo a aceitação de vacinações subsequentes. Quando um paciente evolui com quadros mais graves, como anafilaxia ou convulsões, é difícil, de fato, tanto para o próprio paciente quanto para os profissionais de saúde, em receber e indicar, respectivamente, uma próxima vacina. Embora os EAPV geralmente sejam específicos para um imunizante em particular, as preocupações de segurança podem se estender a diferentes tipos.  

Muitas vezes, a ocorrência de eventos alérgicos, como sintomas de hipersensibilidade do tipo imediata ou tardia (como erupção cutânea, urticária, angioedema e reações semelhantes à doença do soro) após a vacinação levanta preocupações específicas entre médicos e pacientes quanto ao potencial de evento grave com exposição subsequente à vacina. O teste cutâneo de alergia é uma ferramenta importante no diagnóstico de hipersensibilidade imediata. No entanto, não é padronizado para a maioria das vacinas e resultados falso-positivos e negativos podem ocorrer. 

Diante dessa dificuldade, pesquisadores do Canadá conduziram um estudo cujo objetivo foi justamente estimar o risco de recorrência de EAPV após a revacinação e determinar, entre pacientes com suspeita de alergia à vacina, se a positividade do teste cutâneo foi associada à recorrência desses eventos. O estudo foi publicado no Journal of Pediatrics.

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revacinação

Metodologia 

O estudo realizado foi prospectivo e observacional, incluindo pacientes avaliados na Canadian Special Immunization Clinic Network (SIC) no período de junho de 2013 a setembro de 2019 com EAPV que necessitaram de revacinação com a vacina associada temporalmente ao seu evento.  

Após consentimento, os pacientes foram encaminhados à Rede SIC devido a, pelo menos, um dos seguintes EAPV:  

  • Febre (temperatura igual ou superior a 40,5° C;
  • Reação local igual ou superior a 10 cm de diâmetro; 
  • Celulite, abscesso, nódulo ou reação de Arthus no local da injeção; 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), a reação de Arthus (ou reação de hipersensibilidade de grau III) é caracterizada por uma reação inflamatória local intensa na pele, mediada por complexos formados pela ligação de antígenos com anticorpos. 

  • Evento do tipo alérgico dentro de 24 horas após a vacinação ou sintomas de hipersensibilidade do tipo retardada; 
  • Choro persistente com duração de três horas;
  • Convulsão ou outro evento neurológico; 
  • Episódio hipotônico-hiporesponsivo; 
  • Artralgia ou artrite; 
  • Trombocitopenia; 
  • Outros EAPV inesperados ou excepcionalmente graves e preocupantes. 

Os clínicos usaram diretrizes para informar suas recomendações. Os participantes passaram por avaliação padronizada e coleta de dados e foram acompanhados após a revacinação para capturar as recorrências. Por fim, os dados foram transferidos para um banco central para análise descritiva. 

Resultados 

No total, 588 participantes foram avaliados para 627 EAPV. Destes, 570 (91%) ocorreram em pacientes pediátricos com menos de 18 anos de idade.  

Os EAPV incluíram: 

  • Hipersensibilidade imediata (130/627; 21%); 
  • Reações locais extensas (110/627; 18%); 
  • Erupção cutânea não urticariforme (51/627; 8%); 
  • Convulsões (26/627; 4%); 

Houve 61 eventos neurológicos, incluindo 13 (21%) convulsões febris, 13 (21%) convulsões afebris, 5 (8%) síndrome de Guillain-Barré/síndrome de Miller-Fisher e 30 (49%) outros EAPV neurológicos (mielite, encefalite, parestesia, regressão do desenvolvimento, acidente vascular cerebral, neurite óptica, paralisia de Bell, cerebelite). Vinte e dois eventos neurológicos (36%) foram graves. 

  • Trombocitopenia (11 /627; 2%).  

A revacinação foi recomendada para 513 de 588 (87%) participantes. Entre os participantes recomendados para revacinação durante o período do estudo, 63% (299/477) foram revacinados.  

A recorrência de EAPV foi de: 

  • 10% (31/299) em geral; 
  • 31% (15/49) para reações locais extensas;
  • 7% (5/66) para hipersensibilidade imediata; 
  • Não houve recorrência de outros eventos neurológicos entre oito revacinados. 

Nenhuma recorrência foi grave. Entre 92 participantes com suspeita de alergia à vacina que realizaram teste cutâneo e foram revacinados, o valor preditivo negativo (VPN) do teste cutâneo para recorrência de EAPV foi de 96%.  

Conclusão 

Os pesquisadores observaram que a maioria dos pacientes com EAPV prévio pode ter recomendação de revacinação com sucesso, pois o risco de recorrência de EAPV grave é baixo, particularmente para pacientes com EAPV de impacto baixo a moderado, como reações locais extensas, hipersensibilidade imediata e convulsão.  

O VPN do teste cutâneo de alergia para a recorrência desses eventos é elevado, embora a maioria dos pacientes com testes cutâneos positivos também possa ser revacinada com segurança em ambientes controlados. 

Os resultados desse estudo podem enriquecer as discussões sobre a segurança da revacinação após um EAPV e apoiar a harmonização das abordagens para garantir que os pacientes possam ser protegidos de maneira ideal contra doenças evitáveis por vacina.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • MUÑOZ, C. E. et al. Revaccination and Adverse Event Recurrence in Patients with Adverse Events Following Immunization [published online ahead of print, 2022 Aug 7]. J Pediatr., v.S0022-3476, n.22,00668-0, 2022 
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. “Conceitos importantes”. 2021. Disponível em: https://familia.sbim.org.br/vacinas/conceitos-importantes    Acesso em: 07/09/2022