Exercício de alta intensidade durante a gravidez

Entenda quais são as recomendações que devem ser passadas a pacientes que praticam ou querem praticar esportes durante a gestação.

É de extrema importância saber orientar a gestante sobre a necessidade de realizar exercícios físicos durante a gravidez, contudo, também é necessário saber os impactos de um exercício de alta intensidade em uma gestante. Nos últimos anos, as mulheres vêm aderindo cada vez mais esportes de alta intensidade, tornando esse tema relevante. 

Em abril de 2023 foi publicado um artigo  pelo European Board and College of Obstetrics and Gynaecology (EBCOG), no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology com o objetivo de avaliar possíveis malefícios do exercício de alta intensidade para a gestante e para o feto, levando em consideração as alterações fisiológicas da gestação. 

 

Guideline de atividade física na gravidez

Considerações iniciais

As gestantes passam por uma série de alterações fisiológicas, incluindo o relaxamento do tecido conjuntivo e do músculo liso, impulsionados pelo aumento progressivo dos níveis de hormônios placentários, atingindo um platô no terceiro trimestre. Algumas dessas alterações fisiológicas não têm relação direta com a tolerância ao exercício e a capacidade da gestante, mas outras podem afetá-las significativamente, especialmente no terceiro trimestre. 

O exercício sustentado, como na corrida de longa distância, gera hipertermia. No primeiro trimestre da gravidez, isso é teoricamente considerado um teratógeno físico. No entanto, dados de questionários retrospectivos sugeriram que mulheres saudáveis ​​acostumadas a correr antes da gravidez podem continuar a fazê-lo sem dano ao bebê. Contudo, vale ressaltar que a exposição crônica durante o final da gestação também tem sido associada à restrição do crescimento fetal. Os efeitos termogênicos na gravidez podem ser intensificados por uma desidratação concomitante gerada durante o exercício. 

Direcionamento do profissional

As mulheres grávidas devem ser aconselhadas a garantir que seus exercícios sejam realizados alternando períodos de forte intensidade com períodos de resfriamento, sendo que esse período de forte intensidade não deve ultrapassar 15 minutos. Elas devem usar roupas leves de trama aberta e garantir uma hidratação adequada antes, durante e após o exercício. 

Exercícios evitáveis

Alguns esportes podem levar a traumas abdominais contusos em que as participantes correm o risco de contato com um projétil, por exemplo, tênis, squash, netball, futebol, etc. Esses esportes devem ser evitados no nível competitivo durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez. Esportes envolvendo contato ilimitado e risco de colisão direta no abdômen, como kickboxing, judô, rugby, etc, devem ser completamente evitados nos últimos dois trimestres. Atividades esportivas que colocam o indivíduo em maior risco de cair e sofrer um trauma abdominal contuso, como ginástica, esqui aquático, esqui na neve, snowboard, patinação no gelo, passeios a cavalo, e ciclismo competitivo, devem ser igualmente evitados. O risco de queda é agravado pelo fato de que a gravidez está associada a maior frouxidão articular e aumento do peso corporal, o que pode resultar em uma sensação alterada de equilíbrio e alterações na marcha. 

Danos provenientes de traumas dos exercícios

O trauma indireto pode ser causado por atividades envolvendo aceleração e desaceleração rápidas e força multigravitacional prolongada, como experimentada em passeios de montanha-russa, etc. Estes têm sido associados a complicações obstétricas, como ruptura prematura de membranas, descolamento prematuro da placenta e hemorragia materno-fetal. 

É geralmente recomendado que, após o meio do segundo trimestre da gravidez, as mulheres não devem realizar atividades que exijam que fiquem deitadas de costas por um período significativo. Afinal, o aumento do tamanho e peso do útero nesta fase pode ser suficiente para comprimir a veia cava inferior na posição supina. Isso pode resultar em redução da pressão venosa retorno ao coração, diminuição do débito cardíaco, hipotensão ortostática, diminuição do fluxo na aorta abdominal, diminuição do fluxo sanguíneo placentário e hipoxemia fetal temporária.  

Locais de grande altitude também podem reduzir o suprimento de oxigênio para o feto, por isso, esportes em regiões de altas atitudes devem ser realizados com cautela.  A hipóxia relativa da gestante causada por exercícios intensivos em grandes altitudes, agravado pelas mudanças fisiológicas que ocorrem durante a gravidez, pode potencialmente contribuir para a hipóxia fetal. Tais situações são particularmente importantes em mulheres com condições respiratórias ou cardíacas prévias que os tornem susceptíveis à cianose. Diretrizes específicas de cada país recomendam que exercícios devem ser evitados em altitudes superiores a 1.800 metros, pelo menos até que o corpo se ajuste fisiologicamente à altitude. 

As mulheres grávidas devem se abster de mergulho por causa dos riscos de descompressão brusca no feto. O feto está mal protegido contra o desenvolvimento da doença descompressiva, porque a circulação pulmonar fetal não consegue filtrar a formação de bolhas para a corrente sanguínea materna. No entanto, sugere que mergulhar no primeiro trimestre da gravidez pode ser relativamente seguro. 

 

Este artigo foi produzido em parceria com a Elsevier, utilizando os conteúdos baseados em evidências disponíveis na plataforma ClinicalKey. Clique aqui para saber mais.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0301211523001288 M. Harmsworth, C. Savona-Ventura, T. Mahmood. High-intensity exercise during pregnancy – A position paper by the European Board and College of Obstetrics and Gynaecology (EBCOG), European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology (2023), doi: https://doi.org/10.1016/j.ejogrb.2023.03.038