AIDS 2022: TARV, hormonioterapia e aspectos metabólicos

Alterações metabólicas e suas consequências estão em destaque na 24th International AIDS Conference. O uso de antirretrovirais vem sendo associado a ganho de peso. Os resultados de estudos apontam para efeitos diferenciados entre fárcamos e classes.

Alterações metabólicas e suas consequências estão em destaque nessa 24th International AIDS Conference. O uso de determinados antirretrovirais vem sendo associado, de forma consistente, a ganho de peso. Os resultados de diferentes estudos apontam para efeitos diferenciados não só entre as diversas classes, mas também entre fármacos da mesma classe.

O impacto do uso de antirretrovirais e de outros fatores, como idade, menopausa e hormonioterapia, foi tema de um dos simpósios da AIDS 2022. Veja a seguir os principais destaques:

 

Alterações metabólicas associadas à TARV

– Inibidores de integrasse (INI) estão associados a maior ganho de peso quando comparados com outras classes, como os inibidores de transcriptase reversa (ITR). Dolutegravir (DTG) e bictegravir (BIC) foram associados a maiores aumentos de peso do que elvitegravir (EVG).

– No estudo FLAIR, o efeito sobre o peso foi semelhante com DTG e cabotegravir (CAB).

– Entre os ITRs, TAF esteve associado a ganho de peso maior do que abacavir (ABC), que, por sua vez, esteve associado a maior ganho do que TDF.

– O ganho de peso associado ao início de TARV está fortemente relacionado com a gravidade inicial da infecção pelo HIV, sendo mais pronunciadas naqueles indivíduos com infecção mais tardia. No estudo da ANRS CO4 FHDH, o ganho de peso associado ao uso de TAF, DTG ou raltegravir (RAL) chegou a aproximadamente 10kg em 2 anos em pessoas que apresentavam quadros caracterizados como AIDS ou com CD4 < 200 células/mm³.

– A troca de TDF para TAF foi associada a aumento pronunciado de peso nos primeiros 9 meses após alteração do esquema antirretroviral.

– Tanto em pacientes virgens de tratamento quanto nos multiexperimentados, o uso de INI foi relacionado a melhor perfil lipídico quando comparado com inibidores de protease (IP). Entretanto, o perfil lipídico é pior do que os de participantes em uso de ITR.

– A troca de TDF para TAF também esteve relacionada a alterações no perfil lipídico, com aumentos de LDL, HDL e triglicerídeos. Entretanto, a relação colesterol/HDL permaneceu inalterada e não há dados sobre o impacto da troca em relação à ocorrência de eventos cardiovasculares.

– O risco de desenvolvimento de diabetes mellitus foi menor nos pacientes infectados pelo HIV que iniciaram tratamento com INI quando comparados com os que iniciaram terapia com IP.

– A relação de desenvolvimento de DM e tipo de TARV parece estar relacionada ao ganho de peso. Em uma coorte de mulheres convivendo com HIV, aumento na HbA1C após troca de TARV para um esquema contendo INI só foi observado nas participantes que apresentaram ganho de peso > 5%.

– Até o momento, não há evidências de maior risco cardiovascular aterosclerótico e nem de DM fora do contexto de obesidade com o uso de INI ou TAF.

 

Alterações metabólicas associadas à menopausa

– Mulheres com HIV na menopausa apresentam maior expressão de HIV e maior expressão de marcadores inflamatórios.

– Fatores de risco clássicos para fragilidade óssea são altamente prevalentes em pessoas vivendo com HIV. Mulheres com HIV na pós-menopausa estão sob maior risco de perda óssea do que mulheres na pós-menopausa sem infecção por esse vírus.

– A infecção pelo HIV e menopausa são fatores independentes, mas com efeito aditivo, para diminuição de densidade mineral óssea.

– Além dos fatores hormonais, a exposição a determinadas classes de antirretrovirais pode contribuir para a perda óssea, com efeitos mais pronunciados nos esquemas que combinam TDF com IP.

 

Alterações metabólicas associadas à hormonioterapia

– Hormonioterapia relacionada ao processo de transição de gênero em pessoas trans também está associada a alterações em parâmetros metabólicos. Em geral, indivíduos que passam pelo processo tendem a ganhar peso, com maior intensidade em homens trans.

– Para processos de feminilização, usualmente são utilizadas formulações de estrogênio combinadas com terapia anti-androgênio. Alterações observadas incluem: diminuição de massa e força muscular, redistribuição de gordura corporal para glúteos, quadris e coxas, mudanças favoráveis no perfil lipídico e efeitos variáveis na densidade óssea.

– Já para os processos de masculinização, testosterona é o principal hormônio utilizado, estando associado a aumento de massa e força muscular, redistribuição de gordura para abdome e áreas centrais, aumentos em colesterol total, LDL e triglicerídeos e diminuição de HDL e aumento na densidade óssea.

– Resultados de acompanhamento de pessoas em hormonioterapia e uso de TARV nos estudos HPTN 077 e HPTN 083 não mostraram interações significativas entre o uso de CAB e outros antirretrovirais e o de hormônios sexuais.

 

Aspectos relacionados à TARV e à idade

– Alterações metabólicas apresentam impactos diferenciados de acordo com a idade. Nos idosos, a relação entre IMC alto e mortalidade é menos pronunciada do que em pessoa mais jovens e IMCs mais baixos e perda de peso são fatores de risco para mortalidade nessa população.

– A eficácia de TARV para supressão viral é semelhante entre indivíduos mais jovens e idosos.

– O uso de DTG não esteve associado a ganho de peso em idosos com HIV.

– Indivíduos idosos estão sob maior risco de polifarmácia, aumentando o potencial para interações medicamentosas. Assim, alguns pontos devem ser lembrados no cuidado de pacientes idosos e que estão envelhecendo com HIV: usar antirretrovirais com menor potencial de interações, manejar alterações que acontecem com a idade (diminuição de função renal e hepática), sempre lembrar de revisar medicações concomitantes.

 

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