ID Week 2022: Monkeypox, como estamos?

Discutiu-se no ID Week 2022 a atual epidemia de monkeypox, a abordagem clássica da doença, relação com contato sexual e genômica.

O ID Week 2022, congresso de infectologia realizado nos Estados Unidos, começou no dia 18 de outubro de 2022. Entre as plenárias, discutiu-se a atual epidemia de monkeypox que assola diversos países. 

Veja os pontos de destaque a seguir

  • Monkeypox é uma doença causada pelo monkeypox vírus, pertencente à mesma família do vírus da varíola. Na natureza, presume-se que os reservatórios sejam pequenos mamíferos africanos, como roedores silvestres.
  • Classicamente, os casos e epidemias são descritos em países da África, sendo que, nos últimos 20 anos, nota-se um aumento no número de casos na República Democrática do Congo. Entretanto, desde 2015, houve re-emergência da doença em outros territórios, como Serra Leoa, Nigéria, Camarões e Libéria. Nigéria e República Democrática do Congo são os países com maior número de casos.
  • Hipóteses para o aumento de casos detectados incluem: aumento da interação com reservatórios (decorrente do aumento populacional, desmatamento e/ou mudanças climáticas), diminuição de indivíduos com imunidade à doença, e melhoras na capacidade diagnóstica.
  • Até 14 de outubro de 2022, foram confirmados 73.288 casos de monkeypox no mundo.
  • Contato sexual, principalmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH), tem sido a principal forma de transmissão identificada até o momento na epidemia atual. Outras formas de transmissão possíveis são: contato pele a pele próximo e prolongado, objetos e superfícies contaminados (fômites), aerossóis (raros), contato com animais infectados, e inoculação direta (lesões por agulha e tatuagens).
  • As análises genômicas mostram que a linhagem B.1 é a preponderante, com menos casos sendo causados pela linhagem A.2.
  • Cada vez mais, notam-se diferenças entre os quadros clássicos de monkeypox e os encontrados na epidemia atual, tanto em relação ao aspecto clínico quanto ao epidemiológico. 
Característica  Monkeypox clássico 

Epidemia de 2022 

Transmissão zoonótica 

Sim 

Não 

Transmissão pessoa a pessoa 

Mal definida 

Extensa 

Localização das lesões 

Rash difuso, incluindo áreas genitais  Lesões localizadas, muitas vezes limitadas ou envolvendo regiões genitais 

Transmissão 

  • Secreções respiratórias (ex.: saliva) 
  • Contato próximo pele a pele 
  • Fômites 
 

Sim 

 

Sim 

Sim 

 

Sim 

 

Extensa 

Sim 

Diagnóstico 

  • Diagnósticos diferenciais 

 

 

 

  • Co-infecções 
 

Varicela 

 

 

 

Sim (varicela) 

Infecções sexualmente transmissíveis, doença mão-pé-boca, molusco contagioso, varicela 

 

Sim 

  •  As lesões clássicas do monkeypox são firmes, geralmente umbilicadas, dolorosas e bem circunscritas, podendo comprometer palmas e plantas. Outros sinais e sintomas – presentes como síndrome prodrômica – incluem linfondomegalia, febre e dor de garganta. Manifestações graves foram observadas em indivíduos imunocomprometidos.
  • Na epidemia de 2022, observa-se que as lesões são menores do que as lesões clássicas, mas com as mesmas características.
  • Entretanto, manifestações atípicas estão sendo descritas com frequência. Entre os sinais e sintomas já reportados ao CDC, destacam-se: 

Independente do status imunológico 

Oculares: conjuntivite, úlcera de córnea, ceratite 

Neurológicas: encefalite, mielite transversa 

Genitourinárias: fimose, estenose retal e uretral 

Cardíacas: miocardite 

Imunocomprometidos (HIV avançado, transplantados) 

Cutâneas: lesões grandes e necróticas acometendo área corporal extensa; lesões continuam se desenvolvendo durante semanas 

Gastrointestinal: odinofagia, obstrução intestinal, diarreia 

Superinfecções bacterianas e sepse 

Doença disseminada e óbito 

  • Outras diferenças entre os casos historicamente descritos e os atuais podem ser resumidos na tabela a seguir: 

Epidemias clássicas 

Epidemia de 2022 

Período de incubação: 5-13 dias (4 a 12 dias) 

Período de incubação: 7-10 dias (5 a 14 dias) 

Rash difuso em qualquer parte do corpo 

Predomínio de lesões genitais, orais e periorais 

Lesões únicas não são típicas 

Lesões únicas não são incomuns; apresentações retais ou faríngeas isoladas 

Lesões nos mesmos estágios 

Lesões em estágios diferentes concomitantemente 

Sintomas prodrômicos são comuns 

Apresentações oligossintomáticas com pródromo leve ou ausente 

Linfonodomegalia é uma característica útil no diagnóstico diferencial 

Linfonodomegalia nem sempre presente 

 – Até o momento, a frequência de complicações é de aproximadamente 7%, com relatos de: 

  • Infecções de córnea com perda visual associada 
  • Superinfecção bacteriana das lesões cutâneas 
  • Abcesso faríngeo e obstrução de via aérea
  • Pneumonia 
  • Sepse e bacteremia 
  • Encefalite e mielite 
  • Aborto e perda fetal 
  • Cicatrizes, com estenose uretral e retal, fimose e parafimose, síndrome de dor crônica
  • Óbito 

– Tratamento específico com tecovirimat é recomendado em indivíduos considerados como pertencentes a grupos de risco para doença grave, como imunossuprimidos e gestantes, e na presença de complicações graves. 

– O melhor manejo em pacientes infectados pelo vírus HIV e imunossupressão grave ainda precisa ser definido. Recomenda-se manter tratamento antirretroviral – ou iniciá-lo o mais cedo possível. Discute-se a possibilidade de cursos mais longos de tecovirimat em quadros extensos e refratários. 

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