Impacto a longo prazo de PCP em pacientes com HIV

Estudo avaliou o impacto de PCP em desfechos a longo prazo em indivíduos com infecção pelo HIV.

Apesar do avanço nas ferramentas diagnósticas e no tratamento antirretroviral, não é incomum encontrar indivíduos que descobrem infecção pelo HIV já em estado avançado de doença, a partir do desenvolvimento de doenças oportunistas. Entre essas infecções — que definem a síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA/AIDS) —, uma das mais frequentes é a pneumocistose (PCP), uma pneumonia causada pelo Pneumocystis jirovecii. Na era da terapia antirretroviral de alta potência, a letalidade dessa condição está estimada em aproximadamente 10%, porém há poucos dados em relação à morbidade associada da doença.

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Estudos prévios mostraram alterações na capacidade funcional pulmonar durante a fase aguda da pneumoscitose, com reduções na capacidade pulmonar total (CPT), no gradiente alvéolo-arterial e na capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO). Também foram relatadas alterações no volume expirado forçado em 1 segundo (VEF1), na capacidade vital forçada (CVF) e na relação VEF1/CVF mesmo após 1 mês do quadro respiratório.

Diante disso, um estudo publicado na Open Forum Infectious Diseases procurou avaliar o impacto de PCP em desfechos a longo prazo em indivíduos com infecção pelo HIV, caracterizando impactos clínicos e imunológicos da doença e de seu tratamento em pacientes com imunossupressão grave e iniciando terapia antirretroviral (TARV).

Impacto a longo prazo de PCP em pacientes com HIV

Métodos

O estudo incluiu paciente adultos com infecção avançada pelo HIV (contagem de linfócitos T-CD4 ≤ 100 células/mm³) que nunca tinham iniciado TARV ou que tinham desenvolvido síndrome inflamatória de reconstituição imune (IRIS). O diagnóstico de PCP foi definido como a presença de características clínico-radiológicas compatíveis e de resposta à terapia específica. Os casos foram classificados em comprovados se houvesse demonstração de P. jirovecii em microscopia, prováveis se houvesse amplificação de DNA de P. jirovecii pela técnica de PCR, e em suspeitos se não houve comprovação microbiológica.

Para gravidade, os casos foram classificados em leves se foram manejados ambulatorialmente e sem oxigenoterapia de suporte, em moderados se foram manejados com internação hospitalar, mas com necessidade de oxigênio ≤ 6 L/min por cateter nasal, ou em graves se necessitaram de suporte respiratório ou cardiovascular avançado.

Resultados

Foram avaliados 307 indivíduos, com uma mediana de seguimento de 96 semanas, com 81 apresentando história de PCP (41 com PCP comprovada, 10 com PCP provável e 30 com PCP suspeita). Pela classificação de gravidade, dentre os casos de participantes com PCP, 11 apresentaram doença leve, 42, doença moderada e 23, doença grave. Ao final das 96 semanas, 48 indivíduos com história de PCP e 164 sem esse histórico completaram o tempo de seguimento do estudo.

Não houve diferença significativa entre as pessoas com PCP e as sem histórico de PCP em relação à idade, etnia ou uso de tabaco. Homens tiveram maior probabilidade de diagnóstico de PCP do que mulheres (OR = 2,68; IC 95% = 1,34 – 5,38; p = 0,004). Participantes negros tinham maior probabilidade de terem PCP moderado a grave (OR = 5,68; IC 95% = 1,16 – 27,7; p = 0,03), diferença que persistiu após ajuste para idade, sexo, e contagem de linfócitos T-CD4. A contagem de linfócitos T-CD4 correlacionou-se com a gravidade do episódio de PCP, com menores valores de CD4 estando relacionados a quadros mais graves. Tratamento com cotrimoxazol foi iniciado em 90% dos participantes com PCP, mas 23% não completaram 21 dias de tratamento. Aproximadamente 60% dos participantes com PCP desenvolveram outra doença definidora de AIDS, sendo doença por CMV a mais frequente.

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Doença por CMV foi mais frequente em pessoas com PCP moderado a grave, que também tiveram maior probabilidade de terem recebido corticoides como terapia adjuvante. Os participantes que receberam corticoides tiveram maior probabilidade de doença por CMV quando comparados com os indivíduos — com diagnóstico de PCP ou não — que não receberam (OR = 2,62; IC 95% = 1,19 – 5,78; p = 0,14). Essa diferença permaneceu após ajuste por contagem de CD4. A maioria dos casos de CMV teve envolvimento de trato gastrointestinal.

Em relação a testes funcionais pulmonares, foram investigados 10 participantes com PCP e 14 sem essa infecção. Os pacientes com PCP apresentaram uma diminuição significativa em VEF1, CVF, CPT e capacidade vital comparados com os sem PCP. Além disso, DLCO foi significativamente menor nos com PCP: todos com o diagnóstico apresentaram alterações nesse parâmetro, com comprometimento moderado a grave em 9 dos 10 avaliados. Não houve diferença na relação VEF1/CVF entre os dois grupos. Os resultados mantiveram-se semelhantes após exclusão dos indivíduos sem PCP comprovada, com exceção da diminuição da DLCO, que perdeu significância estatística.

Não houve diferença na análise de sobrevida depois do início de TARV entre pacientes com e sem história de PCP. Sobrevida após 96 semanas do início de TARV foi de 96,1% e de 98,7% nos indivíduos que tiveram PCP e nos que não tiveram, respectivamente. Não houve mortes relacionadas a complicações de PCP após o início de TARV.

Mensagens práticas

Os resultados desse estudo demonstraram comprometimento a longo prazo em provas de função respiratória após um episódio de PCP. Entretanto, não houve associação com maior risco de mortalidade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Epling BP, Manion M, Sirajuddin A, Laidlaw E, Galindo F, Anderson M, Roby G, Rocco JM, Lisco A, Sheikh V, Kovacs JA, Sereti I. Long-term Outcomes of Patients With HIV and Pneumocystis jirovecii Pneumonia in the Antiretroviral Therapy Era. Open Forum Infect Dis. 2023 Jul 31;10(8):ofad408. DOI: 10.1093/ofid/ofad408.