A deficiência visual (acuidade < 20/40) ou a cegueira (acuidade < 20/400) afetam pelo menos 2.2 bilhões de pessoas no mundo, incluindo 19 milhões de crianças de 0 a 14 anos, das quais 1.4 milhões tem cegueira irreversível. Crianças com deficiência visual tendem a participar menos de atividades físicas, tem menos conquistas acadêmicas e tendência a maior isolamento social.
Por essas razões o deficit visual pode afetar a saúde mental das crianças. Depressão e ansiedade são duas desordens comuns associadas a baixa visão. A maioria dos estudos mostra o impacto da deficiência visual na depressão e ansiedade em adultos.
Adolescentes com sintomas depressivos subclínicos têm um risco aumentado de transtornos mentais quando mais velhos como depressão, ansiedade, dependência química e suicídio. Entre as alterações visuais, as morbidades crônicas como o estrabismo podem causar consequências cosméticas, funcionais e psicológicas entre as crianças, podendo afetar até o desenvolvimento.
Uma revisão sistemática publicada na Ophthalmology neste ano avaliou a associação entre deficiência visual e morbidade ocular e seu tratamento nos diagnósticos de depressão e ansiedade em crianças.
Métodos
Foram incluídos 36 estudos na revisão sistemática, sendo 21 observacionais sobre deficiência visual (envolvendo 7255 participantes), oito observacionais sobre estrabismo (envolvendo 668.463 participantes) e sete estudos intervencionais (envolvendo 20.455 participantes). Os 11 estudos (3.928 participantes, 54,6% com déficit visual) que reportaram scores de depressão foram incluídos em uma metanálise.
Resultados
Crianças com deficiência visual mostraram scores de depressão mais elevados que os controles. Seis estudos em que a miopia era a causa do déficit visual mostraram escores de depressão significativamente maiores do que crianças com visão normal. Quatorze estudos (5226 participantes, 60,2% com deficit visual) que analisaram escores de ansiedade foram incluídos. O déficit visual foi associado a scores de ansiedade mais altos. Tanto crianças com miopia quanto com outras causas de déficit visual mostraram scores de ansiedade maiores do que crianças com visão normal. A cirurgia de estrabismo melhorou significativamente os sintomas de depressão e ansiedade. A qualidade da maioria dos estudos incluídos era baixa a moderada.
Considerações
Muitos não descrevem claramente os métodos utilizados e usam ferramentas variadas para medir depressão e ansiedade. A grande proporção de estudos chineses e países de baixa e média renda reflete em geral a alta prevalência de miopia nessas regiões.
Os erros refrativos não corrigidos continuam sendo a principal causa de déficit visual e mais da metade das crianças de 6 a 18 anos na China tem miopia. Mais estudos controlados randomizados são necessários para explorar a associação causal entre tratamentos oftalmológicos e transtornos mentais em crianças, principalmente nos casos de miopia.