A hipertensão arterial crônica é um importante contribuinte para o comprometimento cognitivo, mas essa ligação ainda permanece mal compreendida. Pesquisadores examinaram o impacto da hipertensão na cognição para avaliar o estado do conhecimento, identificar lacunas e fornecer orientações futuras.
O Dr. Ronaldo Gismondi, doutor em Medicina e professor de Clínica Médica na Universidade Federal Fluminense, fala mais sobre o tema e destaca os principais pontos do artigo:
“A demência é uma doença cuja prevalência tem crescido e os dois tipos mais comuns na prática clínica são Alzheimer (AD) e demência vascular (VD). A vasculopatia pode ocorrer em grandes ou pequenas artérias, de modo localizado ou difuso, sendo as lesões patológicas mais comumente encontradas a aterosclerose (ateroma e microateroma) e a lipohialinose.
Deste modo, a demência vascular compartilha os fatores de risco tradicionais para doença coronariana e acidente vascular cerebral, como hipertensão e diabetes. A hipertensão é, disparadamente, o fator mais comum e mais importante. No artigo comentado, o autor frisa este aspecto logo na introdução, no trecho “Thus, excluding age, hypertension is the most important risk factor for cerebrovascular pathology leading to stroke and dementia”.
O artigo publicado pela American Heart Association é um consenso de especialistas que, após uma revisão da literatura, propõe algumas definições sobre o impacto da hipertensão na cognição. Os pontos mais importantes do artigo são:
- A hipertensão causa dano micro e macrovascular, sendo responsável tanto por sangramentos como por lesões lacunares e infartos cerebrais (AVC).
- O dano endotelial também prejudica a capacidade de auto-regulação do fluxo sanguíneo cerebral e, ainda mais importante, favorece o depósito de proteína beta-amiloide → esse é justamente o link entre hipertensão e Alzheimer! Vejam só: a HAS, até então o principal fator de risco para VD (a 2ª causa mais comum de demência), parece promover também a AD, a 1ª causa!!!
- Clinicamente, a hipertensão está mais associada com risco de demência quando a elevação da PA começa na idade adulta (40-64 anos).
- As funções cerebrais mais afetadas são a função executiva e a velocidade de processamento. A demência relacionada à hipertensão afeta menos a memória em comparação com a AD.
- Ainda não está muito claro, mas talvez o risco de déficit cognitivo esteja mais relacionado com a PA sistólica do que a diastólica.
- Ainda não está muito claro, mas talvez a presença de síndrome metabólica, em especial resistência insulínica, possa potencializar o dano da hipertensão na cognição.
- Os estudos relacionando o tratamento da hipertensão com a melhora cognitiva foram muito heterogêneos. Deste modo, não há como ter certeza que a redução da PA melhora o funcionamento cerebral. Vejam a frase dos autores na conclusão: “In addition, a critically important question still unanswered is whether treating hypertension prevents or reverses cognitive decline”.”
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Referências:
- Impact of Hypertension on Cognitive Function: A Scientific Statement From the American Heart Association. https://dx.doi.org/10.1161/HYP.0000000000000053
Hypertension. 2016;68:e67-e94