Implante de marcapasso e infecção hospitalar: determinantes e valor prognóstico

Um estudo descreveu a prevalência e o valor prognóstico de infecções hospitalares em pacientes internados para implante de marcapasso.

Pesquisadores brasileiros publicaram recentemente no International Journal of Cardiology um interessante estudo descrevendo a prevalência dos determinantes e o valor prognóstico das infecções hospitalares em pacientes internados para implante de marcapasso definitivo (pré-procedimento). Em geral, o atraso no implante desses dispositivos prolonga o uso de marcapassos intravenosos, tempo de internação e imobilidade o que pode levar a taxas aumentadas de infecções hospitalares. Com esse cenário em vista os pesquisadores buscaram desenvolver ainda um score que funcionasse como preditor de desenvolvimento do desfecho em questão, podendo inclusive otimizar a fila gerada para implante dos dispositivos uma vez que serviria para priorizar os pacientes com maiores riscos de infecção.  

marcapasso

Métodos 

Foram analisados prontuários de 905 pacientes admitidos em um serviço de referência na cidade de Campinas, São Paulo, no período entre 1986 e 2020 para implante de marcapasso definitivo. O desenvolvimento de infecção hospitalar pré-implante de marcapasso definitivo foi considerado como: infecção com sítio evidente diagnosticada através de sintomas que se iniciaram 48 horas após a internação e que necessitaram de uso de antimicrobianos. Dados referentes ao uso de sonda vesical ou marcapasso intravenoso foram colhidos tanto nos pacientes que desenvolveram infecção hospitalar quanto naqueles que internaram já com sinais de infecção ou não as desenvolveram. A obtenção dos dados referentes ao diagnóstico de algumas doenças prévias como hipertensão, diabetes mellitus, doença de chagas e doença coronariana foi dificultada por informações, por vezes, imprecisas conforme relato dos autores. O desfecho primário foi mortalidade em 30 dias após implante do marcapasso permanente.  

Resultados 

A média de idade dos pacientes foi de 68,2 anos, com 54% dos participantes sendo do sexo masculino e 91% com indicação de implante de marcapasso definitivo de urgência. Observou-se que 10% dos 905 participantes tiveram infecção hospitalar pré-implante de marcapasso permanente e que infecções urinárias foram responsáveis por 34 % dos casos, e infecções associadas a cateter correspondendo a 7% dos casos. Apenas 3% dos participantes foram diagnosticados com endocardite. A mediana de tempo até o diagnóstico das infecções foi de 6 dias. Na regressão multivariada o uso de sonda vesical [odds ratio (95% CI) = 4.51 (2.78–7.32); p < 0.001], bloqueio atrioventricular total [odds ratio (95% CI) = 1.95 (1.05–3.63); p = 0.035], implante de marcapasso transvenoso temporário [odds ratio (95% CI) = 1.88 (1.04–3.42); p = 0.037] e diabetes mellitus [odds ratio (95% CI) = 1.66 (1.03–2.68); p = 0.038] foram independentemente associados ao desenvolvimento de infecções intra-hospitalares. Baseado nos coeficientes de regressão os autores chegaram à seguinte fórmula para definição do score clínico de predição: 

Score = [uso de sonda vesical (Sim = 1/Não = 0) x 4.5] + [bloqueio atrioventricular total (Sim = 1/Não = 0) x 2.0] + [implante de marcapasso transvenoso temporário (Sim = 1/ Não = 0) x 1.9] + [diabetes (Sim = 1/Não = 0) x 1.7]. 

A partir da confecção do score, os pacientes foram divididos entre 04 grupos com valores de corte aleatórios, sendo eles:  < 2,5 pontos; 2,5 ≤ e < 5 pontos; 5 ≤ e < 7,5 pontos; ≥ 7,5 pontos. A confecção da curva ROC revelou uma acurácia de 0,750 para os cutoffs aleatórios, sendo capaz de descrever uma significância estatística entre os grupos e evidenciando um risco 18x maior quanto ao desenvolvimento de infecção nos pacientes que se situaram no grupo de pontuação máxima. 

A mortalidade em 30 dias foi, respectivamente, de 7,9% para o grupo diagnosticado com infecção pré-implante de marcapasso e de 2,1% para o grupo sem o referido diagnóstico. Após realização do log-rank test entre as curvas de mortalidade de Kaplan-Meier para ambos os grupos, pudemos observar um Hazard Ratio (HR) de 2,9 para o grupo infecção (IC 95% 1,18 – 7,16; p <0,021). 

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Considerações 

O estudo tem limitações importantes por se tratar de um estudo transversal e que possivelmente avaliou prontuários de papel com perda de informação relevante, principalmente no que tange aos diagnósticos de patologias prévias possuídas pelos pacientes. Não podemos, a princípio, estabelecer causalidade entre infecção pré-implante de marcapasso permanente e mortalidade em 30 dias, uma vez que esse evento está relacionado a comorbidades importantes como diabetes mellitus, BAVT, insuficiência cardíaca e procedimentos invasivos. No entanto, o desenvolvimento do score auxilia bastante na graduação de gravidade dos pacientes que aguardam o procedimento. O estudo também traz à tona a importância do tempo de internação e uso de sonda vesical no desenvolvimento de infecções hospitalares e aumento no tempo de estadia intra-hospitalar, sendo um importante alerta. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Barbosa MC, Cirillo W, Piza F, et al. Determinants and prognostic value of in-hospital infection in patients waiting for permanent pacemaker implantation [published online ahead of print, 2022 Oct 23]. Int J Cardiol. 2022;S0167-5273(22)01651-5. doi:10.1016/j.ijcard.2022.10.140