Melatonina como pré-anestésico pediátrico

A melatonina, como suplementação pode ser utilizada em situações de jet lag, desordens do sono tanto em adultos como em crianças, situações de ansiedade e como pré-anestésico.

A melatonina é um hormônio produzido normalmente pela glândula pineal, à noite, durante o sono e sua produção é dependente principalmente da ausência de claridade. A exposição do corpo à claridade durante à noite, diminuiu a produção de melatonina. Esse hormônio ajuda na regulação do ciclo circadiano e do sono. Muitos pacientes que apresentam um padrão de sono alterado, insônia e turnos noturnos de trabalho, possuem uma produção de melatonina alterada e a reposição com esse hormônio costuma promover melhoras dessas condições.

Além das funções relacionadas ao sono, a substância também mostrou alguns outros efeitos como, efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e anticonvulsivantes. Seu uso como medicação pré-anestésica para o controle da ansiedade em pacientes adultos já é bem estudado e efetivo, sendo seu efeito ansiolítico determinado pelo maior estímulo à produção de GABA.

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O uso de melatonina por pacientes pediátricos tem se mostrado seguro e eficaz em casos de desordens do sono, controle de convulsões e sepses neonatal, porém, seu uso pela população geral não deve ser realizado como automedicação, devendo ser consumida apenas sob prescrição médica.

Em pacientes pediátricos, as medicações pré-anestésicas mais utilizadas são os benzodiazepínicos, os alfa-2 agonistas e os anti-histamínicos, porém essas medicações têm como efeito colateral uma maior sedação no pós-operatório e aumento do tempo de despertar. A melatonina, por si, apresenta mais vantagens, como um nível de sedação mais leve, permitindo que o paciente vá caminhando ao centro cirúrgico caso seja necessário, uma recuperação mais rápida com ausência de sedação residual, além de não promover depressão respiratória e aumentar a analgesia pós-operatória.

Esse estudo em questão foi realizado para avaliar o grau de eficácia da melatonina em pacientes pediátricos como pré-anestésico para procedimentos cirúrgicos em relação a propriedades como ansiedade, indução anestésica, sedação, analgesia, segurança e recuperação anestésica.

Melatonina como pré-anestésico pediátrico

Estudo

Foi realizado um estudo sistemático de revisão de 1.148 casos clínicos, sendo apenas 16 casos incluídos no estudo após avaliação de todas as variáveis, durante os anos de 2005 e 2018, na Itália, Irã, Estados Unidos, Turquia, Egito e Índia, onde foi administrada a melatonina como pré-anestésico, utilizando quatro data bases (MEDLINE, Embase, The Cochrane Central Register of Controlled Trials e Web of Science).

Os estudos fizeram comparação entre o uso de melatonina e outras drogas como Midazolan, Dexmedtomidina, Clonidina, Quetamina e placebo como medicações pré-anestésicas.

A população envolvida era de pacientes de zero a 18 anos, submetidos a qualquer procedimento cirúrgico, com exceção de procedimentos diagnósticos, sob anestesia geral e local, sendo administrado melatonina de forma oral, na dose de 0,05 mg/Kg a 0,75 mg/Kg, 30 a 60 minutos antes do início da indução anestésica, em qualquer dosagem e de qualquer marca como medicação pré-anestésica.

Resultados

Os resultados foram avaliados segundo alguns critérios:

  • Ansiedade: Quatro estudos avaliaram o grau de ansiedade após o uso da substância. Todos os estudos utilizaram a Modified Yale Pre-operative Anxiety Scale, a fim de avaliar a ansiedade em períodos distintos do pré-operatório. Todos os estudos evidenciaram uma melhora na ansiedade quando foram administradas doses máximas, em torno de 0,75 mg/Kg, sendo que o período de maior ansiedade foi no momento de separação dos pais, independente da dose administrada.
  • Indução Anestésica: Em comparação com outros pré-anestésicos, houve um conflito de resultados em relação a cooperação em comparação com Midazolan em dois estudos. Um demonstrou maior cooperação nos pacientes que utilizaram melatonina e o outro não apresentou diferença significativa entre os grupos. Em relação à venóclise, o Midazolan mostrou-se superior à realização da técnica com maior facilidade do que nos pacientes que utilizaram melatonina. Não houve diferença significativa entre os grupos que utilizaram melatonina e clonidina, e, de uma forma geral, em relação a indução anestésica, os grupos que utilizaram melatonina apresentaram uma necessidade de doses menores de Propofol.
  • Sedação: Dos cinco estudos que realizaram essa análise, utilizando diversas escalas de sedação, quatro estudos relataram que a melatonina não contribuiu de uma forma significativa para uma maior sedação, comparado ao uso de placebo ou aos outros pré-anestésicos. Apenas um estudo relatou que os pacientes que utilizaram melatonina apresentaram mesmo grau de sedação que os pacientes que utilizaram Midazolan.
  • Analgesia: Baseados nesses estudos, houve limitações que suportassem o efeito analgésico da melatonina, pois todos os pacientes receberam bloqueio caudal e paracetamol como terapia analgésica. Dois estudos reportaram maior necessidade de analgesia nos pacientes que fizeram uso de melatonina e um estudo reportou que os pacientes em uso de melatonina apresentaram menos agitação pós-operatória que os pacientes que fizeram uso de Midazolan, porém não houve menção a relação entre dor e agitação.
  • Recuperação: Três estudos reportaram uma redução significativa da agitação pós-operatória em pacientes que utilizaram melatonina em comparação com pacientes que fizeram uso de Midazolan e placebo. Dois estudos utilizando a escala de Aldrete para alta anestésica, não encontraram diferença entre melatonina e outra droga. E um estudo demonstrou que a melatonina usada como pré-medicação estava relacionada a uma diminuição da incidência de distúrbios de sono no pós-operatório, comparado com o uso de Midazolan. O tempo de recuperação foi avaliado em três estudos e tiveram conflitos. Um estudo não mostrou uma diferença de recuperação em pacientes que utilizaram melatonina em comparação com Clonidina. Outro estudo relatou uma recuperação bem mais lenta nos pacientes do grupo da melatonina em comparação com o uso do Midazolan, em contrapartida a outro estudo, que demonstrou uma recuperação mais rápida em pacientes em uso de melatonina comparado também ao Midazolan.
  • Segurança: Efeitos adversos são raramente associados ao uso de melatonina. Nos estudos avaliados, a melatonina mostrou-se bastante segura com poucos efeitos adversos, sendo eles mais relacionados a náuseas e vômitos pós-operatórios. Porém em comparação ao uso de outras medicações, os pacientes que utilizaram apenas melatonina, apresentaram uma incidência mais baixa de náuseas, vômitos, tremores e tonturas. E não houve diferença significativa entre os efeitos adversos cardiovasculares como presença de taquicardia, arritmias, alterações da pressão arterial e da saturação de oxigênio. Em relação a alterações cognitivas e motoras, que ocorrem mais comumente com o uso de Midazolan, os pacientes que fizeram uso de melatonina não apresentaram tais complicações.

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Conclusão

Apesar das grandes vantagens do uso de melatonina, principalmente em relação a sua segurança e baixa incidência de efeitos colaterais, e pela análise dos estudos acima, ainda não se pode afirmar com clareza se o uso de melatonina como única medicação pré-anestésica é superior ou inferior às medicações pré-anestésicas já utilizadas na população pediátrica atualmente, basicamente devido as discordâncias de conclusão entre determinados estudos. Em relação a diminuição da ansiedade pré-operatória, concluiu-se que a melatonina é uma boa escolha, um dos poucos fatores que obteve conclusão unânime entre os estudos. Porém o uso da melatonina como droga pré-anestésica, principalmente em casos de emergência pode ser considerada como uma boa escolha em pacientes pediátricos. Estudos mais detalhados e voltados para a população pediátrica especificamente estão sendo desenvolvidos.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Mellor K, Papaioannou D, Thomason A, Bolt R, Evans C, Wilson M, Deery C. Melatonin for pre-medication in children: a systematic review. BMC Pediatr. 2022 Feb 24;22(1):107. DOI: 10.1186/s12887-022-03149-w

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