Monkeypox e vacinação: um breve resumo

A vacinação com Drywax é capaz de proteger contra a monkeypox, mas o que já se sabe além disso? Neste artigo, veja uma revisão sobre o tema.

Desde maio de 2022, mais de 100 países vivem o maior surto de monkeypox até agora. Esse aumento de casos pode estar relacionado a uma combinação de fatores, como o número crescente de pessoas sem proteção cruzada para o gênero ortopoxvírus, devido à cessação da vacinação contra varíola após sua erradicação nas décadas de 70/80, e a crescente facilidade e rapidez das viagens ao redor do mundo, o que permite que aglomerados anteriormente isolados rapidamente se tornem epidemias globais.  

Estudos prévios demonstraram que existe resposta imune cruzada entre o gênero ortopoxvírus. Essa reatividade cruzada se deve ao alto grau de similaridade viral dentro desse grupo, especialmente na região dos epítopos. Além disso, os anticorpos que compõem a resposta imune são direcionados a pelo menos 24 proteínas estruturais e de membrana. Assim, essa resposta imune cruzada varia conforme a semelhança entre os vírus que podem compor o gênero ortopoxvírus.

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Conhecendo as vacinas: o que sabemos? 

Algumas das primeiras evidências de que a vacina para varíola humana pode proteger contra a “varíola dos macacos” vem de estudos realizados com modelos animais (primatas não humanos) na década de 60. A vacinação com Drywax (vacina contra varíola humana de primeira geração) forneceu proteção completa contra a doença, além de proteção cruzada contra monkeypox.  

Atualmente, os EUA têm duas vacinas licenciadas contra a varíola: ACAM2000, aprovada apenas para prevenir a varíola humana, e Jynneos, licenciada para varíola humana e dos macacos. A ACAM2000 é uma vacina de segunda geração derivada de um único clone viral isolado da Dryvax e que os testes de imunogenicidade mostraram não inferioridade com a vacina de origem, além de um perfil de segurança semelhante.  

Já a Jynneos é uma vacina de terceira geração baseada na cepa Ankara (MVA) do vírus vaccínia modificado, não replicante, com deleção de aproximadamente 10% do seu genoma. Ela é aplicada via subcutânea em duas doses, com intervalo de 28 dias, e tem imunogenicidade semelhante à ACAM2000, porém com menos efeitos colaterais. O FDA está considerando permitir o uso desta vacina em duas doses intradérmicas (20% da dose usual), baseando-se em dados que mostram títulos de anticorpos equivalentes e com menos efeitos colaterais usando este regime.  

Dados históricos sobre as vacinas de primeira geração, como a Dryvax, e estudos mais recentes sobre vacinas de segunda geração, mostram uma associação com vários efeitos colaterais comuns: dor, edema no local da aplicação, fadiga e mialgia em cerca de 50% dos pacientes, adenopatia, cefaleia e febre em 20-40%, artralgia, dor lombar, dor abdominal e náusea em 20% dos vacinados. Os efeitos colaterais graves descritos incluíram doença pelo vírus vacinal, encefalopatia pós vacinal e morte.  

As vacinas baseadas em MVA estão relacionadas a efeitos colaterais leves como dor e edema (85%), hiperemia e prurido (40-60%) no local de aplicação, fadiga, mialgia e cefaleia (20-40%), náusea (17%), calafrios (10%), febre (2%). Eventos cardíacos foram relatados em cerca de 2% dos vacinados e miopericardite não foi encontrada.  

Existem duas situações em que é possível empregar o uso da vacina: pré-exposição ou pós-exposição. A vacinação pré-exposição é fundamental para proteger a população de maior risco. A estratégia pós-exposição é idealmente utilizada dentro de 4 dias após a exposição para prevenir infecção, mas pode ser também usada até 14 dias após para diminuir a gravidade da doença.  

Ainda que não tenha sido solicitada licença biológica na maior parte do mundo, vale a pena destacar a vacina LC16m8. Uma vacina de terceira geração que contém um vírus atenuado derivado da cepa Lister usada em vacinas de primeira geração. Esta vacina está licenciada no Japão desde 1980 e tem imunogenicidade semelhante à vacina Lister de primeira geração, porém, com menos efeitos adversos (sendo linfadenopatia o mais comum) e nenhum evento grave relacionado.  

Mensagem final 

A mudança epidemiológica da Monkeypox nesse surto atual tem causado grande preocupação por expor desafios, que já havíamos observado desde a pandemia de Sars-CoV-2, que a sociedade precisa urgentemente lidar: mudanças climáticas, comércio de animais exóticos, e comportamentos humanos (inclusive sexuais). É importante o investimento em recursos que propiciem desenvolvimento de métodos diagnósticos, preventivos e tratamentos, além de distribuição com equidade pelo mundo.  

É importante frisar que existe uma preocupação com a possibilidade que o vírus da varíola dos macacos possa estabelecer um reservatório animal fora da África Ocidental ou Central, que poderia ocorrer no comércio de roedores, cães ou pequenos animais exóticos. Caso isso se estabeleça, a doença não poderia ser eliminada e acrescentaria um novo e contínuo risco à população, o que exigiria esforços ainda maiores para detecção, vigilância e vacinação em áreas de risco.  

Quanto à decisão importantíssima de implantação de vacinas, o uso mais lógico não seria a imunização em massa, dado o risco extremamente baixo de infecção na população em geral. Seria, sim, vacinar aqueles com risco aumentado de doença devido ao comportamento, ocupação ou contato próximo. 

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