Em 11 de outubro de 2023, o Departamento Científico de Nutrologia (gestão 2022-2024) da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu nota especial sobre o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, uma doença crônica multifatorial. Na população pediátrica brasileira, a frequência de obesidade é de 14,8% em menores de cinco anos, 28,1% em crianças com idades entre 5 e 10 anos e 27,9% nos adolescentes (10 a 19 anos). Ademais, um aumento da frequência e da gravidade da obesidade nessas faixas etárias foi observado durante e depois da pandemia de covid-19.
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Os pontos de destaque da nota da SBP encontram-se sintetizados a seguir.
- A obesidade é fruto de um intrincado encadeamento de fatores genéticos, comportamentais e ambientais que agem em variados cenários, como familiar, comunitário, escolar, social e político:
- Fatores individuais: biologia não modificável (genes, idade, raça, sexo), eventos ocorridos no início da vida (como o peso ao nascimento, alimentação, via de parto, por exemplo) e conhecimento, crenças e atitudes com relação ao peso;
- Fatores relacionados à família e aos cuidadores: segurança alimentar da família, modelagem familiar, práticas de hábitos saudáveis e peso dos pais, estresse psicossocial da família e estigmas (bullying ou peso);
- Creche e escola: envolvimento da família na escola, ambiente (incluindo merendas), atividade física e estigmas (bullying ou peso);
- Comunidade e ambiente: cidades seguras e com espaço de lazer e atividades ao ar livre, acesso à saúde e a alimentos saudáveis, exposição de marketing de alimentos;
- Políticas públicas: alimentação, agricultura, transporte, comércio e marketing de alimentos.
- Infelizmente, no Brasil, o consumo de alimentos ultraprocessados é mais barato do que os alimentos in natura e minimamente processados. Intervenções de alto impacto e baseadas em evidências foram divulgadas pelo Ministério da Saúde em 2021 para prevenção e proteção à obesidade infantil (estratégia PROTEJA):
- P – Primeiro contato: Gestantes, crianças e adolescentes devem ser monitorados quanto à condição nutricional, promoção de saúde e prevenção do ganho de peso excessivo;
- R – Responsabilização: Participação e comprometimento de múltiplos parceiros;
- O – Organização: Engloba a organização e a implementação de ações efetivas;
- T – Transformação: Ações inovadoras com o objetivo de encorajar a alimentação saudável e a prática de atividade física na sociedade;
- E – Educação: Envolve processos de educação permanente para qualificação e formação de profissionais com foco na obesidade infantil;
- J – Janela de oportunidades: Ações de comunicação focadas na obesidade infantil;
- A – Ambientes: Promoção de alimentação adequada e estímulo à atividade física.
- Estratégias centradas na família, conforme proposto pela Academia Americana de Pediatria (AAP) e que já vêm sendo destacadas pela SBP:
- Saúde mental e autoestima: não culpabilizar a criança, o adolescente e a família;
- Alimentação: individualizada, respeitando hábitos culturais e nível socioeconômico. Deve ser feita em etapas conforme guias alimentares da atualidade;
- Redução do sedentarismo: prática de atividade física moderada a vigorosa, 1 hora por dia, intervalada e em diferentes ambientes (lúdicas, ao ar livre, na escola e considerando o tempo de deslocamento);
- Medicamentos: as alternativas disponíveis são restritas, indicadas para adolescentes acima de 12 anos e apresentam alto custo (orlistate, liraglutida e a semaglutida).
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