O aumento nas taxas de obesidade e diabetes tem levado a uma incidência mais alta de doenças cardiovasculares (DCV).1 Há alguns anos, tanto diabetes como obesidade eram atribuições principalmente do endocrinologista. Atualmente, cada vez mais, é necessário que os cardiologistas também dominem o controle dessas duas condições.
Em relação aos antidiabéticos, a história começou com o estudo EMPAREG-Outcome.2 Na época, o objetivo era mostrar segurança cardiovascular do uso de antidiabéticos. Esse estudo mostrou redução de 14% o desfecho primário composto de morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal ou AVC não fatal, além de uma redução expressiva de 35% em hospitalização por IC.
Estudos posteriores com inibidores de SGLT2, como DAPA-HF,3 DELIVER,4 EMPEROR-Reduced5 e EMPEROR-Preserved6 mostraram sua importância no tratamento de insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida e preservada, e estudos como o DAPA-CKD7 e EMPA-Kidney8 mostraram benefícios na progressão de doença renal.
Com os análogos de receptor GLP1 foi semelhante. Além de se mostrarem seguros do ponto de vista cardiovascular, mostraram também benefícios em desfechos! O primeiro estudo com a Liraglutida 1,8 mg diário (LEADER9) mostrou redução de 13% de desfechos cardiovasculares compostos (morte cardiovascular, infarto não fatal e acidente vascular cerebral — AVC — não fatal). Com semaglutida 1,0 mg semanal, também tivemos uma redução de 26% desse desfecho no estudo SUSTAIN-6.10
Focando em obesidade e desfechos cardiovasculares, o estudo STEP-HFPEF11 mostrou que o uso de semaglutida 2,4 mg semanal poderia, além da perda de peso, melhorar sintomas e qualidade de vida em pacientes com IC FEP.
E agora, com o estudo apresentado no congresso da Associação Americana de Cardiologia (American Heart Association) de 2023, o SELECT,12 foi mostrado que esse análogo de receptor GLP1 foi capaz de reduzir em 20% esse desfecho de morte cardiovascular, infarto não fatal e acidente vascular cerebral não fatal mesmo em pacientes sem diabetes.
Além desses desfechos cardiovasculares, foi demonstrado vários benefícios metabólicos. Houve uma queda de 37% nos níveis séricos de PCR, sugerindo melhora do perfil inflamatório, além de perda de 9,39% do peso, redução de triglicérides em 15% e perda de 6,5 cm em média a mais da cintura abdominal.
Essas medicações devem fazer parte do arsenal terapêutico do cardiologista e devem ser consideradas no tratamento ideal para todos pacientes com doença cardiovascular ou de alto risco CV.